As dicas do Pedro Agricultor para Novembro
“Tudo em Novembro guardado, em casa ou arrecadado.”
Por Pedro Rocha (pedroagricultorurbano@gmail.com)*
A grande campanha de colheitas e plantações para o Inverno terminou. É, por isso, tempo de relaxar um pouco e deixar de ter tantas preocupações diárias com a horta.
Daqui até Fevereiro terás tempo para abordar outros temas, também importantes na gestão da horta, como o tratamento de pragas, as consociações, a fertilização e boas práticas agrícolas. Aproveita o Outono e Inverno para descobrires um pouco mais sobre o mundo fantástico da horticultura e das plantas que nos nutrem. Se tiveres lareira, instala-te junto a ela, aprende a planear a cuidar da horta, a conhecer melhor as pragas e como as combater. É sobre elas que te vamos falar em seguida.
De ano para ano, muito em consequência das más práticas agrícolas, os problemas com pragas têm aumentado. A grande causa desse aumento é a falta de conhecimento, por parte dos produtores, sobre alternativas mais eficazes a médio e longo prazo. O uso de pesticidas poderá resolver o problema no imediato, mas será a melhor opção a médio e longo prazo? Quais as consequências no seu uso permanente?
Em boa verdade, a grande maioria concorda que é preferível não usar químicos. Então por que não os deixar de lado? Para isso, temos de adquirir conhecimento, começando por perceber, em primeiro lugar, quais as causas que levam ao aumento das pragas.
Podemos nomear várias causas para o aumento das pragas: desenvolvimento de variedades/cultivares mais sensíveis a pragas e doenças; adoção de forma prolongada (ou permanente) de rotações simplificadas e sistemas de monocultura; desenvolvimento de resistência aos químicos por parte das pragas e doenças; destruição de auxiliares pelo uso de químicos não seletivos; fertilização deficiente (por excesso ou defeito); propagação de pragas e doenças por semente ou viveiro e utilização de outras práticas culturais incorretas.
Ao longo dos meses de Inverno, tentarei deixar nesta dica mensal uma pequena ajuda para que, no próximo ano, possas melhorar o desempenho na tua horta.
MÃOS À HORTA
Em Agricultura Biológica a proteção fitossanitária deve ter início ainda antes da instalação da cultura. Deves ter em mente que o objetivo é sempre prevenir, uma vez que remediar será mais complicado. Uma vez que tal nem sempre é possível, quando algumas pragas atacam, necessitamos de fazer uma aplicação.
Por isso, gostava de aproveitar este mês para vos apresentar um dos produtos mais utilizados em Agricultura Biológica no combate a algumas pragas, como é o caso do piolho, afídios e pulgões. Falo do Sabão de Potássio, que tem a grande vantagem de ser extremamente fácil de preparar em casa.
Deixo a receita:
1,5 kg de Sabão de Potassa
1 lt de Óleo Vegetal
100 lt de Água
(ou quantidades proporcionais)
Misturar o sabão sólido com água numa panela e aquecer ligeiramente para que o sabão se dissolva. Ferver até que haja a dissolução completa. Depois de arrefecer, juntar o óleo vegetal e agitar com força. Para utilizar, dilui-se em água até perfazer os 100 litros.
Dependendo da dimensão da horta, deves preparar uma quantidade adequada à necessidade de aplicação. Este produto não tem qualquer tipo de toxicidade, embora deva ser tido algum cuidado, não aplicando em excesso para não formar uma película que impeça as folhas das plantas de respirar.
O “FAMOSO” DE NOVEMBRO: FAVAS
Bilhete de Identidade
Família: Fabaceae
Género: Vicia
Espécie: Vicia faba
Origem e história
Desconhecem-se os antepassados selvagens da fava, mas pensa-se que é originária da região do Próximo Oriente. Já na idade do Bronze seria consumida por todo o Mediterrâneo, tendo sido um alimento importante na dieta dos europeus na Idade Média. A sua importância foi sendo reduzida com a introdução do feijão e da batata.
A Cultura das Favas
Diz o ditado que “No Natal já abana o Faval”. Ora, assim é fácil presumir que esta é a sua época de cultivo. As favas são cultivadas por sementeira direta, com um espaçamento de 30 a 40 centímetros e entrelinhas de 20 a 25 centímetros. Apesar de a sementeira ser feita tradicionalmente nesta época, pode ser prolongada até Março, de forma a manter uma maior continuidade da produção.
Tens dúvidas?
Podes escrever ao Pedro Agricultor para o endereço eletrónico que está no início deste artigo, indicando o nome e o local de onde escreves. Todos os meses, ele vai responder a duas ou três questões colocadas pelos leitores.
Se quiseres ouvir a versão radiofónica de “As Dicas do Pedro Agricultor”, ouve nas primeiras quartas do mês o programa O Som é a Enxada, da Rádio Manobras, às 22 horas, ou visita o blogue do programa, onde encontras todas as emissões passadas.
(*) Pedro Rocha nasceu em Espinho em 1976 e cresceu entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo. Em 2000 concluiu o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de ‘South Wales’, no Reino Unido e, no mesmo ano, iniciou a atividade profissional na consultora alemã ‘Hydroplan GmbH’, sendo consultor no projeto de desenvolvimento rural em Cabo Verde. Em 2005 começou o projeto de agricultura biológica Raízes, do qual ainda é sócio. Desde 2014 que se dedica à prestação serviços como agricultor urbano e consultor, promovendo novos conceitos de relação entre consumidores e produtor.