Iremos comer carne sintética no futuro?

Uma startup norte-americana criou carne de frango e pato sem sacrificar nenhum animal. Quem provou diz que é… deliciosa.

A história da companhia ‘Memphis Meat’ escreve-se assim: “Nós (os fundadores) adoramos carne. Mas, como a maioria das pessoas, não gostamos dos efeitos negativos que a produção convencional de carne implica: a destruição ambiental, as preocupações com o bem-estar animal, os riscos para a saúde”.

São estas as razões que três empreendedores – um cardiologista, um biólogo especialista em células estaminais e um engenheiro biomédico – justificam para criar a empresa ‘Memphis Meats’, como se pode ler no site.

A ‘Memphis Meats’ anda por estes dias nas bocas do mundo porque acabou de apresentar – e de dar a provar a um painel de especialistas – a primeira carne de frango e de pato produzida sem sacrifício de animais. Em laboratório.

Em inglês este tipo de carne, criada a partir de células estaminais de animais, tem um nome: ‘clean meat’. E esta “carne limpa” está mais próxima de chegar ao nosso prato do que talvez possas imaginar.

Esta não foi a primeira vez que se produziu carne de forma artificial. Já foi criada carne de vaca utilizando o mesmo método, por exemplo na Universidade de Maastricht, na Holanda, há quatro anos. 

 

O que a ‘Memphis Meats’ pretende é transformar radicalmente a forma como a carne chega ao nosso prato, produzindo carne autêntica a partir de células estaminais de animais, evitando assim o abate dos mesmos.

Outra preocupação é poupar o ambiente: a meta da empresa é que o fabrico desta carne signifique emitir menos 90% de gases com efeitos de estufa e reduzir, na mesma percentagem, o gasto de água e de terra dedicada tradicionalmente à produção animal

Os responsáveis pela empresa garantem que, além das preocupações ambientais, animais e de saúde pública, têm outra preocupação: a de que o sabor da carne seja delicioso.

Quem já provou a carne de frango e pato criada pela empresa de São Francisco (Califórnia) garante que ela é deliciosa.

“O pato era rico, saboroso, suculento”, contou Emily Bird ao jornal inglês ‘Telegraph’. Esta convidada para degustar a carne produzida pela ‘Memphis Meats’ disse, ainda, que “foi incrível estar a provar o melhor pato da minha vida e saber que ele foi produzido de uma forma astronomicamente melhor para o planeta, a saúde pública e os animais”. Quanto ao frango o comentário foi este: “Sabe realmente àquilo que é”.

 

Produzir este tipo de carne não é, no entanto, algo económico. Pelo menos de momento.

Segundo o jornal espanhol ‘La Vanguardia’ produzir meio quilo custa à ‘Memphis Meats’ cerca de 8300 euros. Mas, num ano, o custo já diminuiu para metade. E a empresa espera que, em 2021, os seus produtos cheguem ao mercado a um preço competitivo com o da carne tradicional. 

Será que o objetivo temporal da empresa se vai concretizar? Difícil responder. Este é um setor novo, que precisa ainda de regulamentação. Além disso, poderá meter em crise um setor pesado da economia mundial, o da agropecuária.

Dá-nos a tua opinião! Faz sentido produzir carne em laboratório? Imaginas-te a comer carne sintética? Escreve-nos até à próxima terça, dia 28 de março, para info@jornalissimo.com.

Sabias que?

– Em 2013, a FAO – Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – concluiu que a pecuária é responsável por 14,5% das emissões de gases com efeito de estufa provocadas pelo homem? Essa percentagem corresponde a 7,1 biliões de toneladas de dióxido de carbono por ano;

– No mesmo estudo (“Lidar com as Alterações Climáticas através da Pecuária: Uma Avaliação Global das Emissões e das Oportunidades de Mitigação”), a FAO revelava que as principais fontes da emissão relacionadas com a pecuária são: a produção e processamento de alimentos (45% do total), as emissões produzidas pela digestão das vacas (39%), a decomposição do estrume (10%). O processamento e transporte dos produtos animais ficam com a parcela restante.

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