Os Jogos que a Guerra criou – Jogos Interaliados de 1919
A Guerra, que ninguém previa que durasse tanto tempo (1914-1918), tinha chegado ao fim!
Por Rita Nunes – (IHC-FCSH-UNL / Comité Olímpico de Portugal)*
Com a assinatura do Armistício a 11 de Novembro de 1918, o principal objetivo dos soldados mobilizados era o regresso a casa. No entanto, esta desmobilização e o regresso a casa, para alguns soldados, demorou vários anos.
Foi a pensar nestes homens que ainda se encontravam na Europa que, dois meses após o final da Grande Guerra, se iniciou a organização dos Jogos Interaliados, dirigidos exclusivamente aos militares que tinham participado na Guerra ou que tinham servido as forças militares dos países aliados.
Sob o comando do General John J. Pershing, comandante das forças norte-americanas na Europa, deu-se início à organização destes Jogos. Em janeiro de 1919 foram enviados convites para a participação das 29 nações que tinham estado no cenário de guerra. Dezoito nações, dos cinco continentes, aceitaram o desafio!
Realizados entre 22 de Junho e 6 de Julho de 1919, em Joinville, nos subúrbios de Paris, participaram 1500 homens que competiram em 24 modalidades, durante 15 dias. O Estádio Pershing, construído especificamente para o efeito pelas forças militares dos Estados Unidos da América em cooperação com a YMCA (Young Men’s Christian Association), foi o palco escolhido para a realização destas provas.
Na Cerimónia de Abertura, que recebeu mais de vinte mil pessoas no Estádio, as delegações desfilaram frente à tribuna onde os presidentes Woodrow Wilson, dos Estados Unidos da América, e Raymond Poincaré, de França, se encontravam.
De acordo com relatório oficial, Portugal participou com 51 atletas em seis modalidades: Boxe, Esgrima, Natação, Polo Aquático, Remo e Tiro.
Ao nível dos resultados destacam-se os alcançados pela Esgrima. Três medalhas de prata pelos resultados conquistados pelas equipas de Espada e de Sabre pelo desempenho do Tenente Jorge Paiva, na prova individual Espada.
Na modalidade de Tiro, na prova de pistola, a equipa portuguesa classificou-se em 4.º lugar e na prova de espingarda no 7º Lugar. No Boxe, o Tenente Silva Ruivo, que combateu o campeão belga, desistiu no decorrer do 3.º ‘Round’.
Relativamente ao Polo Aquático é referido no relatório oficial que um atleta português teve um acidente, impedindo a entrada da equipa na competição. No remo a equipa portuguesa de Shell-4 não conseguiu terminar a prova e no Shell-8 não passou a eliminatória. Na natação, apesar dos registos de inscrições nas diversas provas, não há referência aos resultados alcançados por atletas portugueses.
Após a realização dos Jogos Interaliados, o Estádio Pershing foi oferecido ao povo francês pelos Estados Unidos da América sendo ainda hoje utilizado como uma área de recreação ao ar livre.
No panorama desportivo mundial é importante realçar que, com a conflagração mundial, os Jogos Olímpicos de 1916, previstos para Berlim, acabaram por ser cancelados.
Os Jogos Interaliados são não só o grande evento desportivo internacional organizado após os Jogos Olímpicos de Estocolmo de 1912, mas também um importante catalisador para relançar o desporto internacional, precedendo a organização dos Jogos Olímpicos de 1920, organizados um ano mais tarde em Antuérpia.
IMAGENS: 1 – Poster dos Jogos Iinteraliados; 2 – Jogos Interaliados (Fonte: Gallica.bnf.fr / Bibliotèque nationale de France); 3 – Postal dos Jogos Interaliados; 4 – Esgrimistas Portugueses (Fonte: Inter Allied Games Official Report); 5 – Bilhete dos Jogos Interaliados (Fonte: The National WWI Museam and Memorial).
(*) Publicada ao dia 30 de cada mês, a rubrica “História, Desporto e Olimpismo” é dedicada ao estudo das origens e evolução do desporto e do Movimento Olímpico em Portugal . Resulta de uma parceria entre o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC – UNL) e o Jornalíssimo e tem a coordenação científica de Rita Nunes, Directora do Gabinete de Estudos e Projectos do Comité Olímpico de Portugal e investigadora do IHC.