Quem foi Mário Soares e por que é ele considerado o “Pai da Democracia” portuguesa?

Fazemos ‘rewind’ à vida de Mário Soares e, logo, à história de Portugal dos últimos 92 anos.

Mário Soares nasceu em 1924, quando Portugal vivia os tempos da I República. Dela, não pôde guardar memória – nem dois anos tinha quando a Ditadura Militar foi implantada no nosso País, abrindo caminho à fundação do Estado Novo.

A I República chegou ao fim com o golpe militar de 28 de maio de 1926. Mas, como qualquer golpe, este conseguiu derrubar um regime, mas não ideais.

Mário Soares cresceu com os ideais republicanos dentro de casa e sentiu, desde muito cedo, o que era viver num regime em que a liberdade de expressão era uma miragem.

O seu pai, João Lopes Soares, tinha sido um destacado Ministro da I República, com a pasta das Colónias. Era um republicano convicto, a quem a oposição à ditadura valeu a prisão, o exílio e um afastamento forçado da família.

“Liberdade” era uma palavra muito querida à família Soares e parecia estar inscrita nos genes do pequeno Mário, que por ela lutaria durante toda a sua vida. Em seu nome, mas também em nome do seu País, Portugal, de que viria a tornar-se figura de referência no século XX.

 

Damos um salto no tempo e vemos já que foi Mário Soares quem apadrinhou a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (hoje União Europeia) e quem traçou uma boa parte do rumo do País graças aos importantes cargos que ocupou – foi três vezes Primeiro-Ministro e duas vezes Presidente da República.

UMA AUSÊNCIA SEMPRE PRESENTE

Mas recuemos de novo à infância e à história familiar que marcaria toda a sua vida adulta.

Mário Soares apenas conheceu o pai aos dez anos. Além de político, João Lopes Soares foi um importante pedagogo. O seu interesse pela Educação levou-o a fundar o Colégio Moderno, ainda hoje uma instituição de referência em Lisboa.

Mesmo ausente, o pai de Mário Soares foi uma figura marcante na vida do filho, a quem quis dar uma formação esmerada. Mário Soares teve como mentores vultos destacados do panorama cultural português, como o pensador Agostinho da Silva, o ensaísta e jornalista Álvaro Salema ou o homem com quem dividiria o protagonismo político no período pós-25 de Abril: Álvaro Cunhal, líder do Partido Comunista Português, a que Soares chegou a pertencer.

Há uma parte da vida de Mário Soares que parece decalcada da do pai. Também ele, por se opor à ditadura vigente, foi um dos muitos presos políticos do regime de Salazar, foi deportado para São Tomé e Príncipe e viveu o exílio na capital francesa.

 A IMPORTÂNCIA DO EXÍLIO EM PARIS

Longe de Portugal, Mário Soares continuou a lutar por um Portugal livre. O afastamento do País foi, aliás, determinante para a visão europeísta de Soares (oposta à de Cunhal, que era contra a adesão à CEE).

Em Paris, Mário Soares manteve uma intensa vida cultural e estabeleceu amizade com grandes líderes políticos europeus, como o Presidente francês François Mitterrand. 

Foi ainda nos tempos de exílio que Mário Soares assumiu um destacado papel na fundação do Partido Socialista Português, em 1973, na Alemanha.

O PS levou pouco tempo a ganhar protagonismo na cena política portuguesa.

Logo no ano seguinte, em 25 de Abril de 1974, O Movimento das Forças Armadas terminou com 48 anos de repressão e censura, ao derrubar a mais longa ditadura da Europa.

Portugal acordava para uma nova vida: democrática, pluripartidária, livre, simbolizada pelos cravos vermelhos que deram nome à Revolução.

REGRESSO GLORIOSO 

Mário Soares regressou ao País poucos dias depois do 25 de Abril. Tal como Álvaro Cunhal, exilado em Praga. Ambos eram o rosto da oposição ao regime de Salazar e os dois protagonizaram a maior batalha do Portugal democrático.

Quando, a 25 de Abril de 1975, os eleitores acorreram em massa às urnas (a taxa de participação rondou os 90%) para as primeiras eleições livres, o Partido Socialista foi o grande vencedor desta votação para a Assembleia Constituinte.

 

Um ano depois têm lugar as primeiras Eleições Legislativas livres. Mário Soares torna-se o primeiro Primeiro-Ministro eleito no pós-25 de Abril. Governa os I e II Governos Constitucionais, entre 1976 e 1978, e tem um importante papel no processo de descolonização. Mais tarde, voltaria a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro no IX Governo, entre 1983 e 1985.

UM ‘ENCORE’ INESPERADO

De Primeiro-Ministro, Soares passou a Presidente da República. Ocupou o lugar durante dois mandatos, de 1986 e 1996.

Quando já se tinha retirado da vida política ativa, voltou a candidatar-se a um terceiro mandato como Presidente da República. Tinha 81 anos e não conseguiu mais do que um terceiro lugar, perdendo para um dos seus maiores adversários políticos: Cavaco Silva.

Mais do que a derrota, Soares mostrou, ao candidatar-se, o espírito combativo, corajoso, espontâneo e indomável que os portugueses lhe reconhecem. Foi certamente um dos mais populares políticos portugueses contemporâneos e ouviu muitas vezes gritar à sua passagem “Soares é fixe“, o inesquecível ‘slogan’ da campanha presidencial de 1986.

Sabias que?

A morte de Mário Soares, a 7 de janeiro de 2017, acontece um ano e meio depois do falecimento da sua mulher, companheira de vida e de lutas políticas, Maria de Jesus Barroso, com quem casou por procuração quando estava preso;

A intensa vida política põe em segundo plano o percurso profissional de Mário Soares: completou duas licenciaturas, de Histórico-Filosóficas e de Direito. Além de ter sido professor, Soares exerceu advocacia, tendo defendido vários presos políticos.

Podes saber mais sobre Mário Soares no site do Museu da Presidência da República

FOTOS: Paulo Corceiro/Creative Commons

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