Telescola: aprender através da televisão

Entre 1965 e 1987, muitos milhares de portugueses tiveram aulas através da RTP.

A iniciativa #EstudoEmCasa, a solução que o Ministério da Educação (em parceria com a RTP) encontrou para levar o ensino até quase um milhão de alunos em tempo de Covid-19, é inspirada na Telescola, que foi a primeira experiência de ensino à distância existente em Portugal. Através dela, muitos portugueses (se calhar os teus Pais e Avós!) aprenderam as matérias equivalentes ao que é hoje o 5º e o 6º anos do Ensino Básico. 

A Telescola começou a ser emitida a 11 de outubro de 1965, a partir dos estúdios na RTP no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia. O formato não era muito diferente do que hoje se vê no #EstudoEmCasa: havia um professor em estúdio (que variava consoante a disciplina) a dar aulas para muitos milhares de crianças que seguiam a matéria do outro lado do ecrã.

Claro que os recursos eram outros. Ainda não havia computadores e, por isso, em vez das imagens digitais que agora surgem no ecrã, na altura os “tele-professores” recorriam a um quadro a giz ou magnético, a desenhos, fotografias, mapas e, às vezes, pequenos filmes para explicar melhor a matéria. A televisão a cores só surgiu em 1980, por isso, a imagem das aulas chegou durante muitos anos a preto e branco.

Outra diferença é que os alunos que seguiam as aulas não estavam em casa. Na altura eram muito poucas as famílias que dispunham de um televisor – um autêntico objeto de luxo à época! De tal maneira que muitos portugueses viram pela primeira televisão na Telescola.

Jorge Paupério um dos muitos alunos que frequentou a Telescola quando era criança lembra, no livro “RTP: 60 Anos no Porto”, que “as aulas eram absorvidas de uma maneira incrível. Naquela altura a televisão era como os smartphones de hoje”. E só havia um canal: a RTP nascera em 1957 e só viria a ter concorrência muitos anos mais tarde, com o aparecimento da SIC, em 1992, e da TVI, um ano mais tarde.

Para assistir às aulas, as crianças deslocavam-se às escolas primárias onde funcionavam os chamados “postos da Telescola”. A televisão estava no local onde normalmente está o professor e os alunos acompanhavam a lição sentados numa secretária. A acompanhá-los havia o “monitor da Telescola”, uma espécie de professor auxiliar que, quando terminava a aula na televisão, ajudava os alunos a consolidar a matéria ensinada e a preencher as fichas de trabalho que a Telescola enviava para os “postos” de receção de todo o país. 

Quando a Telescola começou, Portugal vivia em plena ditadura do Estado Novo e António de Oliveira Salazar conduzia os destinos do país. Portugal registava um grande número de analfabetos e a ausência de um sistema de ensino constituía-se como um obstáculo ao desenvolvimento do país, quer em termos sociais, quer em termos económicos.

O ensino à distância já era uma realidade em outros países, como por exemplo a Itália (que tinha a ‘Telescuola’), e Portugal decidiu seguir esse exemplo. Num país pobre, com parcos recursos económicos, montar um sistema de ensino através da televisão era uma solução mais acessível. Assim, não era preciso fazer avultados investimentos económicos para formar centenas de professores, construir escolas e vias-de-comunicação que permitissem aos alunos de zonas mais isoladas chegar até elas.

Os estabelecimentos de ensino (para além das escolas primárias) que existiam estavam concentrados sobretudo nas cidades. Daí a Telescola ter servido sobretudo as crianças que viviam em zonas rurais.

Mais de meio milhão de portugueses aprendeu através da Telescola ao longo dos 39 anos que ela durou. As aulas foram transmitidas pela RTP até 1988. A partir desse ano, a Telescola continuou, mas com um outro sistema. A evolução tecnológica levou ao aparecimento de gravadores de vídeo. Essa inovação fez com que o sistema se alterasse: as aulas começaram então a ser gravadas em cassetes de vídeo que eram reproduzidas em massa e enviadas para as centenas de postos da Telescola existentes no país (um sistema que vigorou até 2004, ano em que a Telescola chegou ao fim).

O ensino através da televisão, pela Telescola, constituiu uma verdadeira revolução educativa num Portugal que estava muito atrasado em relação à média europeia (em 1970, segundo dados da Pordata, um em cada quatro portugueses não sabia ler nem escrever), sendo um dos fatores que contribuiu para um maior desenvolvimento do país. 

Podes ver uma peça televisiva da RTP sobre a Telescola aqui.

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