Já ouviste falar em mediação de conflitos?

Duas mediadoras de conflitos falam sobre a sua profissão e como é possível trazer a harmonia de volta a uma relação desafinada.

Por Gabriela Cunha e Maria João Bravo (*)

O espaço que decorre entre a idade em que se vai para a escola pela 1ª vez, e a idade em que, muito orgulhosos e capacitados, a deixamos, é muito vasto. A melhor maneira de o descrever é um leque. E escrever sobre Mediação de Conflitos para este leque pode parecer tarefa quase impossível, mas como qualquer Mediador saberá, a criatividade faz também parte do nosso trabalho.

Mas afinal o que é a Mediação de Conflitos?

Antes de mais, é um trabalho conjunto em que necessariamente tem de haver respeito, escuta e comunicação.

Tem de existir uma ou mais pessoas que não tomem partido a favor ou contra qualquer das pessoas que estão em conflito, o chamado Mediador de Conflitos, para que possam sentir confiança no processo e no profissional.

Este Mediador incentiva as pessoas a falarem, a dizerem o que sentem e porque é que o sentem. Mas vai mais longe ainda, intervindo de modo técnico para que ambas as pessoas escutem e entendam a outra parte com quem têm o conflito, com quem muitas vezes estão zangadas.

Não podemos esquecer que, quando duas (ou mais) pessoas vivem um conflito, as duas partes podem estar tristes, aborrecidas, desiludidas e muitas vezes magoadas uma com a outra. A outra parte podem ser os pais, o melhor amigo, a namorada, o professor, o treinador ou o colega.

Sim, é verdade, as pessoas zangam-se e isso pode ser bom. Mas só será bom se depois conversarem e esclarecerem a situação, estabelecendo como que um pacto que vai definir a forma como se vão tratar daí para a frente, sempre com base no respeito mútuo.

Assim, para que os dois amigos se ouçam ou para que o professor perceba porque é que não estás atento nas aulas dele, o Mediador usa quase como uma vassoura! Não é uma vassoura de bruxas. Mas é uma vassoura imaginária, com a qual o Mediador varre e limpa da conversa que surge entre as duas pessoas magoadas, as palavras, frases, gestos e atitudes que sejam negativas, que potenciam a manutenção da zanga ou até, em muitos casos, a agravam.

Vou dar um exemplo, se numa sala de Mediação o teu melhor amigo te diz e acusa do seguinte “ele telefonou à Maria para a convidar a ir ao cinema de propósito, porque sabe que eu gosto dela, e foi só para me chatear e fazer ciúmes, e isto não é comportamento de amigo”, então o Mediador diz o que disseste mas de um outro modo, que pode ser este: “Então o teu melhor amigo convidou a Maria para ir ao cinema?” A tua resposta vai ser sim e o Mediador então, já com as palavras “de propósito”, “chatear” e “fazer ciúmes” varridas para fora da conversa, pode e deve perguntar ao teu amigo: ”Queres partilhar aqui com o teu amigo, o que te levou a convidar a Maria para ir ao cinema?”

Pois meu querido leitor, a resposta do teu amigo pode ser uma grande surpresa, tão grande quanto esta” Convidei a Maria para ir ao cinema e, como sei que ele gosta dela, ia fazer-lhe uma surpresa e oferecer-lhe o bilhete.”

Sim, a partir de uma ideia negativa e de uma amizade pré-existente, este exemplo trouxe uma clarificação. Por meio de palavras de uma realidade bem diferente daquela que tinhas imaginado.

E esta é a magia da Mediação de Conflitos! A utilização de “truques”/técnicas na comunicação expõe a verdadeira intenção dos motivos que eventualmente deram origem a “mal-entendidos”, zangas ou até brigas bem sérias.

O texto vai longo e só aborda muito ao de leve a questão. Gostaríamos que ficasses com uma imagem que talvez ajude e te faça interessar e aprofundar o tema:

As notas musicais vão de “Dó a Si”. Agora imagina que és o maestro de uma grande orquestra e que tens músicos com os mais variados instrumentos e notas para tocar. A música só ocorrerá se os músicos atenderem às instruções do maestro. Mas isso só não basta, também é preciso que escutem as notas que anteriormente foram tocadas, toquem as suas próprias e fiquem à espera da sonoridade seguinte.

Só assim nasce a melodia.

Também por meio da escuta do outro, do respeito do outro, com as orientações do Mediador se conseguirá alcançar a harmonia. Com uma diferença, no caso de uma Mediação de Conflitos, a pauta não está preenchida. O Mediador apoia o processo de escuta e respeito do outro e, através de técnicas específicas, ajuda cada uma das pessoas em conflito a ampliarem um pouco a sua visão, de forma a terem a possibilidade de escreverem melodias muito mais grandiosas na sua vida, que engrandeçam não só a si próprias, mas também aos outros.

Talvez seja assim…

(*) Gabriela Cunha e Maria João Bravo são mediadoras de conflitos e criaram um projecto em que se dedicam à mediação de conflitos, a Mediare, que tem página no Facebook. Podes entrar em contacto com elas através do email mediare.multiportas@gmail.com

Deixa o teu comentário.

O teu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *