Ice memory: uma biblioteca mundial de gelo glaciar
Amostras de gelo estão a ser recolhidas para preservar a valiosa informação que contêm.
Tal como os estratos sedimentares das rochas nos dão informação sobre o passado do planeta (apresentando vestígios de fauna e flora, marcas de erosão…), também o gelo dos glaciares de montanha constitui uma valiosa fonte de informação sobre o passado do globo que habitamos.
Através deste gelo é possível conhecer mudanças ocorridas no clima, no meio ambiente, na composição atmosférica (por exemplo, ter noção de variações de temperatura, de concentrações atmosféricas de gases com efeitos de estufa, emissões de aerossóis, poluentes sintéticos).
Ora, o aquecimento global está a por em risco a preservação de muitos glaciares.
Os glaciologistas realizaram estudos e sabem que, se o aquecimento global continuar a ter o mesmo impacto no derretimento dos glaciares de alta montanha que tem tido até hoje, no final deste século irão desaparecer, por exemplo, os glaciares abaixo dos 3500 metros de altitude nos Alpes e abaixo dos 5400 metros de altitude nos Andes.
São estes dados alarmantes que levaram cientistas franceses e italianos a criar um programa científico internacional destinado a conservar a memória dos glaciares de altas montanhas.
Batizado de ‘Ice Memory’, o programa está já em marcha. O seu grande objetivo é recolher amostras de gelo dos glaciares mais ameaçados e armazená-los para preservar a sua memória e, sobretudo, permitir aos cientistas futuros levarem a cabo importantes estudos.
Está a ser assim criado o primeiro grande arquivo de gelo glaciar do mundo que ficará armazenado nessa espécie de “congelador” da Terra que é a Antártida, a uma temperatura de -54 ° C.
Este programa foi lançado em 2015. A primeira operação de perfuração de gelo ocorreu em agosto de 2016, no maciço do Monte Branco, para demonstrar a viabilidade do projeto. E, por estes dias, os cientistas envolvidos (16 no total) encontram-se na Bolívia, a recolher amostras do glaciar de Illimani, a 6400 metros de altitude (foto abaixo).
Chegaram ao país a 22 de maio e a expedição dura até ao próximo dia 18 de junho. Podes acompanhá-la no Facebook, na página do projeto (Ice Memory), onde vão publicando fotos e dando conta do trabalho que estão a realizar.
Com esta “Biblioteca de gelo”, fica assegurada, aos cientistas das próximas décadas e séculos, matéria-prima de alta qualidade e suficiente para poderem investigar e fazer futuras descobertas. “Livros” da história da atmosfera terrestre que, de outro modo, se perderiam para sempre.