Com apenas 7 anos, Tsering Dorje é um líder budista
Através de imagens e palavras, Renato Amoroso conta-nos como foi a entronização do menino, a que teve o “privilégio” de assistir.
Houve um tempo em que estas imagens, tiradas pelo fotógrafo brasileiro Renato Amoroso, não chegariam até nós.
Cerimónias assim, em que uma criança é entronizada como ‘tulku’ (já explicaremos o que isso é), estavam reservadas aos tibetanos, num mundo que só a eles pertencia.
Hoje, conta-nos Renato Amoroso, tudo está a mudar, “o budismo tibetano está a espalhar-se no ocidente”.
Ele próprio é um exemplo desses novos ventos. Vive no Brasil, mas é budista e foi graças ao seu mestre, o Lama Michel Rinpoche, que teve a rara oportunidade de olhar esta “religião complexa e rica” tão de perto. A reportagem fotográfica que fez foi publicada na edição de abril da National Geographic Brasil.
Em agosto de 2014, mais de cem mil peregrinos budistas reuniram-se durante sete dias nos Himalaias, no templo de Denmar Gonsar, a mais de cinco mil metros de altitude, para a entronização de Tsering Dorje. Só trinta ocidentais estiveram presentes. Renato Amoroso foi um deles.
O budismo acredita na reencarnação e o pequeno Tsering foi identificado como sendo um ‘tulku’, a reencarnação de uma figura histórica da religião, neste caso, o sacerdote Denma Gonsar Rinpoche, falecido em 2005.
Na cerimónia de entronização, juntaram-se devotos de diferentes camadas sociais – nómadas, políticos e outras figuras eminentes da sociedade. O ato decorreu num mosteiro isolado, obrigando os peregrinos a acampar perto do local.
“É um tipo de vida muito diferente, poucos banhos, comida estranha, falta de oxigénio no ar”, conta Renato. O que mais o impressionou foi a “natureza fraternal dos tibetanos, muito íntegros, muito transparentes, sem muita malícia. Posavam para as fotos sem temor”, recorda.
Renato Amoroso já tinha conhecido outros pequenos ‘tulkus’ – “São sempre impressionantes, parecem muitíssimo inteligentes, intrigantes, carinhosos e brilhantes mesmo. Fazem coisas incomuns para crianças da sua idade”.
É graças a estas capacidades invulgares que são descobertos e devem, depois, superar uma série de provas de confirmação que podem consistir, por exemplo, em serem capazes de memorizar longos textos budistas depois de uma leitura só.
Quando alguém que atingiu um extraordinário desenvolvimento intelectual reencarna traz consigo os conhecimentos adquiridos na vida anterior. Mas, para os recuperar, precisa de ser submetido a uma educação especial.
No caso de Tsering – que é “como um chefe de estado, cercado de seguranças e de acesso muito restrito” -, deixou a casa dos pais e foi para um mosteiro no Tibete Central, Tashilhuumpo, em Shigatse.
Nesse local, tido como o principal centro de estudos da cultura tibetana, terá professores de filosofia, lógica, arte, sânscrito, medicina, poesia, astrologia e de muitas outras disciplinas, que ajudarão o pequeno ‘tulku’ não apenas a recuperar a sabedoria de vidas passadas como a evoluir mais ainda.