Que lições se aprendem com a melhor professora do ano nos Estados Unidos?
Para Shanna Peeples é importante sorrir, pensar a forma como pensamos e conseguir pequenos sucessos.
Shanna Peeples evitou o ensino durante alguns anos. Foi DJ, pet-sitter e jornalista antes de exercer a profissão de que realmente gostava, mas para a qual temia não estar à altura: ser professora, trabalhar de perto com crianças e jovens.
Se há profissão que admira é a de professor. Está convencida de que não seria quem é hoje se, quando era pequena, não se tivesse cruzado na escola com professores que lhe puseram cadernos e livros à frente e lhe ensinaram que “as palavras podem afastar-te das piores situações”.
Peeples vivia num ambiente marcado pela pobreza e pela violência doméstica. A escola era o seu “espaço seguro”, o local a que sentia pertencer. Hoje, como professora de inglês numa escola pública do estado do Texas, tem sempre uma preocupação presente: “Como é que eu posso fazer estes alunos sentirem-se seguros, confortáveis, capacitá-los de que podem atingir pequenos sucessos?”
Os alunos que tem vêm, como ela, de meios pobres. Muitos são estrangeiros, refugiados, para quem o inglês não é a língua materna. Peeples dedica-lhes muito mais do que o tempo das aulas. Se for preciso, vai assistir a um concerto, a um teatro em que eles entrem, porque sabe quanto é importante um gesto de apoio para crianças que não encontram esse suporte no seu meio familiar.
Pela forma como exerce a profissão, vai esta quarta-feira à Casa Branca encontrar-se com Barack Obama, que lhe entregará o galardão de Melhor Professora do Ano 2015 nos Estados Unidos da América.
A distinção foi-lhe atribuída pelo The Council of Chief State School, composto por quinze das mais reputadas instituições educativas do país que, no seu conjunto, representam sete milhões de educadores.
No próximo ano, Peeples viajará pelas escolas americanas, a falar da sua experiência a pais, professores e alunos.
Na entrevista que deu à instituição que lhe atribuiu o prémio deixa transparecer a sua visão do ensino. Deixamos-te três passagens dessa conversa que pode ser lida na íntegra aqui:
– “Da minha experiência, a primeira coisa que é preciso recordar quando se trabalha com alguém (…) é que a gentileza é a primeira e a melhor lição. É difícil aprendermos algo com alguém quando estamos assustados. Sorrir é algo que não só não é preciso traduzir para nenhuma língua, como põe imediatamente as pessoas à vontade. É preciso começar por criar confiança (…)”;
– “Toda a gente responde a pequenos sucessos, por isso é fundamental que os professores que trabalhem com estudantes traumatizados criem condições, e celebrem, pequenos sucessos. Pequenos sucessos dão confiança e persistência. É preciso ignorar quando um aluno nos diz ‘Eu não quero’, porque o que ele quer realmente dizer é ‘Eu acho que não sou capaz e eu preciso que tu acredites em mim até eu conseguir acreditar em mim mesmo”;
– “É importante que os pais encorajem as crianças a pensar criticamente sobre as coisas que estão a fazer na escola. Por exemplo, pedindo-lhes para explicarem os trabalhos de casa, para dizerem como chegaram a uma ideia ou a uma decisão que tomaram como escritores ou como pensadores. Os investigadores chamam a isto “metacognição” – pensar sobre o que pensamos. É algo que produz resultados ao longo de toda a vida dos alunos porque os ajuda a refletir no que resultou e porquê. É um pilar da Educação do século XXI que ajuda em todas as disciplinas e em todos os níveis de ensino”.