A estreia olímpica portuguesa teve tanto de hilariante como de trágico
Em 1912 apenas seis atletas representaram Portugal. Viajaram sem treinadores, dirigentes e apoio estatal para os Jogos Olímpicos de Estocolmo.
Por Rita Nunes – IHC-FCSH-UNL/Comité Olímpico de Portugal (*)
É para muitos o sonho de uma vida e poucos o conseguem concretizar! Foi em 1912 que o sonho Olímpico de seis rapazes portugueses se tornou realidade. Iniciou-se assim um novo capítulo da nossa história do desporto, a história da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos.
Mesmo sem o apoio do Estado foi possível, recorrendo à angariação de fundos através de uma subscrição pública e à organização de alguns certames desportivos, nomeadamente um Sarau realizado no Coliseu dos Recreios a 22 de junho de 1912, angariar meios para a ida de atletas portugueses a Estocolmo.
Inicialmente foram selecionados dez atletas, mas devido ao limitado orçamento a comitiva teve de ser reduzida. António Pereira, António Stromp, Armando Cortesão, Fernando Correia, Francisco Lázaro e Joaquim Vital foram os seis primeiros atletas olímpicos portugueses que participaram nas competições de atletismo, esgrima e lutas.
A delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1912, na Suécia
Com eles não seguiu nenhum treinador ou dirigente. Fernando Correia assumiu a chefia da missão e Joaquim Vital as funções de treinador e massagista. Ambos, foram ainda acreditados como jornalistas ao serviço dos jornais O Intransigente e Os Sports Ilustrados respetivamente.
Mas se hoje é fácil e rápido viajar entre as cidades de Lisboa e Estocolmo, que distam cerca de 3.600 km, o mesmo não se pode dizer, se recuarmos 105 anos. Os atletas portugueses passaram 6 dias em viagem. Saíram de Lisboa a bordo do paquete “Astúrias” no dia 26 de junho em direção ao porto de Southampton. Daí viajaram até Londres de comboio, para de seguida apanharem outra ligação ferroviária até Harwich. Do Reino Unido partiram rumo à Dinamarca num pequeno barco a vapor até Esbjerg, seguindo-se uma série de viagens de barco e comboio até chegarem a Copenhaga. Depois, um último trajeto de comboio até Estocolmo.
Os Jogos da V Olimpíada decorreram de 6 a 22 de julho, na cidade de Estocolmo, na Suécia. Tinha chegado o grande dia! Francisco Lázaro, atleta com maior palmarés desportivo, entrou no Estádio Olímpico empunhando a bandeira de Portugal, ao seu lado, Joaquim Vital segurava o letreiro com o nome de Portugal e atrás, seguiam os restantes colegas.
Poster dos Jogos Olímpicos de 1912, na Suécia
Todos ansiavam por uma estreia auspiciosa e com bons resultados desportivos para os portugueses, no entanto, esta estreia ficou para a história pelos piores motivos: a trágica morte de Francisco Lázaro, que sucumbiu com uma insolação por volta do quilómetro trinta da prova de maratona.
Francisco Lázaro, ainda foi transportado para o hospital e recebeu cuidados médicos, no entanto, nunca recuperou e acabaria por falecer às 6h20 da manhã do dia 15 de julho.
Ficou assim marcada de forma trágica a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos.
(*) Publicada ao dia 30 de cada mês, a rubrica “História, Desporto e Olimpismo” é dedicada ao estudo das origens e evolução do desporto e do Movimento Olímpico em Portugal . Resulta de uma parceria entre o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC – UNL) e o Jornalíssimo e tem a coordenação científica de Rita Nunes, Directora do Gabinete de Estudos e Projectos do Comité Olímpico de Portugal e investigadora do IHC.