A propaganda: um pilar do Estado Novo
Inaugurado em 1933, o Secretariado Nacional de Propaganda tinha como objetivo enaltecer e divulgar o melhor de Portugal.
Por Cândida Cadavez*
Em outubro de 1933 foi inaugurado um importante pilar do Estado Novo, o Secretariado Nacional de Propaganda (SPN), que até 1949 teve em António Ferro um diretor ativo e empreendedor. Apesar de em 1944 esta entidade ter mudado de designação para Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), os objetivos mantiveram-se quase inalteráveis, refletindo o decreto n.º 23:054, de 25 de setembro de 1933, que instituía o secretariado.
Em “Propaganda Nacional”, o discurso então proferido por Salazar, explicou-se que uma propaganda nacional eficaz seria aquela que, ao serviço da governação, corrigiria erros e ignorâncias que denegriam a imagem que nacionais e estrangeiros tinham de Portugal. Ao SPN cabia a tarefa de mostrar e divulgar o que de benéfico e bom existia para além “da janela do nosso quarto” (Salazar, 1961 [1935]: 263). O Presidente do Conselho referiu ainda que “muitos dos que falam e escrevem sobre Portugal não visitaram nunca o País: deve haver ao dispor de uns e outros elementos bastantes para que inconscientemente não deturpem a verdade” (ibidem: 265).
Terá sido este aspeto a inspirar o diretor do SPN para uma das suas mais emblemáticas ações de propaganda, que, em 1935, o levou a convidar um grupo de intelectuais estrangeiros para visitar Portugal. Ferro acompanhou-os numa digressão que incluiu visitas a bairros antigos de Lisboa, ao Mosteiro dos Jerónimos, a Sintra, Curia, e Viana do Castelo, assim como a participação nas Festas de Lisboa e em outros momentos etnográficos e folclóricos. Para Ferro estes convites tinham o objetivo de “esclarecer” a opinião política internacional sobre o “caso português” (Ferro, 1946: 14-15).
Anos depois, o SPN criou uma série de cartazes a que chamou A Lição de Salazar. Tendo por objetivo evocar os dez anos da chegada de Salazar à política, eram um importante veículo de propaganda que ilustrava de forma aparentemente simples, mas eficaz, a “obra feita” pelo Estado Novo, bem como os valores que deveriam regular as famílias portuguesas, e que são representados em “Deus, Pátria, Família” (vd. Figura 2), um singelo e harmonioso quadro familiar, localizado em ambiente rural, e protagonizado por um agregado trabalhador, religioso e bem estruturado.
Ferro, A. (1946). Fundação António Quadros, Caixote 015A, Discursos de AF, Envelope III. Informação n.º 1328 SNI.
Salazar, A. O. (1961) [1935] Discursos. Volume Primeiro. 1928-1934. Coimbra: Coimbra Editora, Limitada.
IMAGENS:
Figura 1 – A Lição de Salazar (Foto: D.R.)
Figura 2 – Inauguração da sede do Secretariado de Propaganda Nacional (Foto: D.R.)
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Maria Fernanda Rollo, Luísa Metelo Seixas, Ricardo Castro e Susana Domingues.