Portugal na rota dos refugiados durante a II Guerra Mundial
Milhares de refugiados chegaram a Portugal durante o conflito. O Memorial Fronteira da Paz fala deles e de Aristides de Sousa Mendes.
Por Margarida Ramalho*
Portugal conseguiu manter-se neutro ao longo de toda a II Guerra Mundial (1939-1945), sobre o início da qual passam agora oitenta anos. Por ter assumido essa posição neutra ao longo do conflito, Portugal acabou por ser um dos raros portos livres da Europa, a partir do qual se podia embarcar para o outro lado do Atlântico. Esta razão, juntamente com a capitulação da França em Junho de 1940, levou a que milhares de refugiados chegassem ao nosso país. A esmagadora maioria trazia vistos legais passados pelo nosso cônsul em Bordéus (cidade francesa), Aristides de Sousa Mendes. Ao desobedecer às ordens do governo passando estes vistos, Sousa Mendes acabaria por permitir a salvação de milhares de pessoas que fugiam da guerra e do nazismo.
Para os que vinham da Europa, a principal fronteira terrestre portuguesa era Vilar Formoso. Será por isso a essa vila raiana que a maior parte dos refugiados vai chegar na última quinzena de Junho de 1940.
Nesse sentido, a Câmara Municipal de Almeida, município a que Vilar Formoso pertence, decidiu criar nuns antigos armazéns ferroviários o Centro de Interpretação Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao cônsul Aristides de Sousa Mendes. Dividido em seis núcleos – Gente Como Nós, O Início do Pesadelo, A Viagem, Vilar Formoso, Por terras de Portugal e a Partida -, este Memorial quer honrar a ação de Sousa Mendes mas também relembrar a forma quase sempre generosa como os refugiados foram então acolhidos pelos portugueses.
A adaptação deste espaço às novas funções foi da autoria da arquiteta Luisa Pacheco Marques que, utilizando formas e cores especificas, tentou que em cada núcleo a arquitetura refletisse o conteúdo histórico a que se referia.
O espaço Gente como nós, por exemplo – onde se fala da vida dos judeus antes da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, integra-se numa forma geométrica estável que irá sofrer distorções. Depois, o quadrado desconstrói-se tornando-se num hexágono onde se inscreve a estrela de David, associada aos judeus, o povo mais perseguido neste período. Começa então o núcleo seguinte, O Início do Pesadelo, que se desenvolve num túnel hexagonal cinzento-escuro que se afunila, criando o espaço opressivo. Em contrapartida, os dois núcleos relativos a Portugal, são espaços amplos, claros, com janelas abertas para o exterior e onde as formas retas dão lugar às formas arredondadas.
Em termos de conteúdo, e para além dos enquadramentos históricos necessários, este Memorial relata sobretudo histórias reais de pessoas que passaram por Portugal no seu caminho para a Liberdade. Algumas delas acabariam por estar presentes, na inauguração deste Memorial, em Agosto de 2017.
Enquanto não tens possibilidade de ir a Vilar Formoso conhecer o Centro de Interpretação de Vilar Formoso, tens neste site uma exposição virtual onde podes ficar a conhecer melhor Aristides de Sousa Mendes e este momento particular da História de que te falámos neste artigo.
Memorial Fronteira da Paz
Largo da Estação, Vilar Formoso. T. 271 149 459
Ter-Sex 9h-12h30, 14h-17h30, Sáb-Dom 10h-12h30, 14h-17h30. Entrada livre
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo Seixas, Ricardo Castro e Susana Domingues.