As dicas do Pedro Agricultor para Maio

Maio, nome derivado da deusa romana, ‘Bona Dea’, da fertilidade.

Por Pedro Rocha (pedroagricultorurbano@gmail.com)*

A 1 de Maio os Celtas festejariam o dia de Beltane, porque acreditavam que os poderes da luz e da nova vida se moviam e dançavam através de toda a criação. Maio é um mês de floração e, daí, talvez faça sentido associar este mês à fertilidade, à dança e ao movimento. Se observarmos os insetos, veremos como estão atarefados a casar genes entre plantas, garantindo o perpetuar deste fenómeno maravilhoso que é a vida. A flor precede o fruto e, nesta época, é importante que as plantas não sofram um grande stress hídrico. Como já diziam os antigos: “Fraco é o Maio se o boi não bebe na pegada”.

MÃOS À HORTA

“As favas, Maio as dá e Maio as leva” e se a Maio chegas sem a terra arada, pensa no ditado “Quando Maio chegar, quem não arou tem de arar”. Não há tempo a perder ou passará uma importante época de cultivo, que garante o alimento para grande parte do ano.
Lembra-te que, entre Março e Setembro, é o grande período de plantações e é nesta altura que se garantem as reservas de alimento para o inverno. Por isso, diziam os antigos, “De Verão não te poupes e de Inverno não te mates”.

Com os períodos de chuva que se fizeram sentir em Abril é natural que muitos não tenham ainda plantado as batatas, mas Maio pode ser um excelente mês para o fazer. Aliás, por vezes, o melhor é mesmo atrasar a cultura até as condições serem as mais indicadas. Este é também o melhor momento, se ainda não o fizeram, para plantar tomates, beringelas, courgettes, abóboras, melões, melancias e pepinos. Continua a semear feijão, para garantir a continuidade da sua produção. Não te esqueças que na altura de floração e formação inicial do fruto é muito importante que não falte água.

CULTURAS DE CICLO CURTO

Neste mês, deixemos um pouco de lado as sementeiras, que podemos continuar a fazer sem grandes restrições até Julho.
Aproveitemos para falar das culturas de ciclo curto que exigem estar de forma permanente a semear e plantar. Alguns exemplos são a Alface, o Rabanete e as Nabiças.
Estas culturas, com um ritmo de crescimento mais acelerado e pouco tempo de ocupação do terreno, são as que mais exigem de nós.
Sendo assim, para poderes garantir uma continuidade na produção deves estabelecer uma frequência mensal ou mesmo quinzenal para sementeira e plantação.
Aproveita para pensar num pequeno plano de produção para a família, tentando responder à questão “O que quero ter na horta e em que quantidade?”.

NO CAMPO

No campo, continua a sachar, colhe as favas e incorpora o que resta da planta, no solo. Em alternativa, podes aproveitar todo o material verde para a compostagem.
Maio é um excelente mês para plantar Alho Francês, fugindo assim à época de espigamento. Planta uma quantidade para vários meses de consumo. Assim, poderás ter alho francês durante todo o Outono. No final do Verão haverá oportunidade para nova plantação, garantindo a sua disponibilidade para quase o ano inteiro.

O “FAMOSO” DE MAIO: O TOMATE

Bilhete de Identidade
Familia: Solanaceae
Género: Lycopersicon
Espécie: Lycopersicon esculentum

Origem e história
Apesar da sua zona de origem ser a costa ocidental da América do Sul, foram os Aztecas que o cultivaram largamente. Na Europa, a sua introdução deu-se apenas no século XVI, sendo que devem ter sido as variedades amarelas as primeiras a surgir, dando origem ao nome italiano do tomate: ‘pomodoro’. Inicialmente, o tomate foi tido como planta venenosa e utilizado para fins ornamentais, mas em Itália a sua cultura teve expressão. A nível mundial, a grande expansão do tomate ocorreu nas primeiras décadas do século XX, com o desenvolvimento da indústria de processamento.

A Cultura do Tomate
Dependendo da zona do país e de ser cultivado ao ar livre ou em estufa, o tomate poderá ser plantado entre Fevereiro e Maio. Em zonas altas de montanha, dependendo da temperatura, é natural que seja plantado mais tarde, assim como no norte. Na parte Sul e Costeira do país, a plantação é feita mais cedo.
O espaçamento do tomate deve ser feito de acordo com as necessidades de mecanização, ou não, da cultura. As entrelinhas podem ser por isso de 1 a 1,90 metros, sendo a distância entre plantas de 15 a 35 centímetros.
Para tirares melhor produção, deves estacar o tomate, conduzindo o pé na vertical. Isso consegue-se através da remoção dos rebentos laterais ao pé principal. Desta forma garantimos uma melhor produção e tomates de melhor calibre.

À semelhança da batata, também o tomate é sensível ao míldio e oídio e o tratamento aconselhado é o mesmo que para a batata. Por isso, repete-se a receita do mês anterior – aplicações regulares de calda bordalesa. Não te esqueças de estar atento aos períodos de temperaturas mais elevadas e de maior humidade.

OS LEITORES PERGUNTARAM

A questão selecionada durante o mês de Maio foi a seguinte:

O que podemos fazer para preservar as sementes tradicionais?
Natércia Lopes, Gaia

De facto, parece que pouco está ao nosso alcance para que possamos apoiar a preservação das sementes tradicionais e livres. Lentamente as grande multinacionais apoderam-se do mercado das sementes e cercam as instituições públicas, no sentido de fazer alterações à lei, condicionando os agricultores no uso livre de sementes.
A nós, enquanto consumidores, compete a defesa da variedade e livre comércio de sementes, através das escolhas diárias na nossa alimentação. Isso acontece quando apoiamos diretamente o produtor e dessa forma o motivamos a utilizar as suas próprias sementes e a diversificar a sua produção.
Mas quem quiser, de facto, fazer mais pode apoiar a ‘Colher para Semear’ (Rede Portuguesa de Variedades Regionais), que há vários anos trabalha na preservação de sementes em Portugal.

Tens dúvidas?
Podes escrever ao Pedro Agricultor para o endereço eletrónico que está no início deste artigo, indicando o nome e o local de onde escreves. Todos os meses, ele vai responder a duas ou três questões colocadas pelos leitores.
Se quiseres ouvir a versão radiofónica de “As Dicas do Pedro Agricultor para Abril”, ouve esta noite (4 de Maio) o programa “O Som é a Enxada”, da Rádio Manobras, às 22 horas, ou visita o blogue do programa, onde encontras todas as emissões passadas.

(*) Pedro Rocha nasceu em Espinho em 1976 e cresceu entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo. Em 2000 concluiu o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de ‘South Wales’, no Reino Unido e, no mesmo ano, iniciou a atividade profissional na consultora alemã ‘Hydroplan GmbH’, sendo consultor no projeto de desenvolvimento rural em Cabo Verde. Em 2005 começou o projeto de agricultura biológica Raízes, do qual ainda é sócio. Desde 2014 que se dedica à prestação serviços como agricultor urbano e consultor, promovendo novos conceitos de relação entre consumidores e produtor. Podes saber mais sobre a colaboração de Pedro com o JORNALÍSSIMO aqui e no separador ‘Ambiente’ do Jornalíssimo encontras os artigos dos meses anteriores.

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