Rússia: o assassinato da liberdade de expressão?
Milhares prestaram homenagem ao opositor do governo russo, Boris Nemtsov, morto a tiro na sexta passada.
O autor da fotografia deste artigo, Evgeniy Isaev, legendou-a da seguinte forma “Bullets in each of us” (balas em cada um de nós).
Será isso que se lê na faixa que encabeça uma manifestação de milhares de pessoas numa homenagem a Nemtsov, na capital da Rússia?
É provável que sim. Os manifestantes que se juntaram no sábado em Moscovo, e hoje no seu funeral, são, como Nemtsov, opositores do regime.
Para eles, este foi um assassinato político, feito com o intuito de calar não só Nemtsov mas todos aqueles que, como ele, têm uma visão contrária à do governo russo, intimidando-os.
Nemtsov opunha-se frequentemente às medidas tomadas pelo presidente russo Vladimir Putin. Antes de morrer, tinha dado uma entrevista garantindo que, ao contrário do que o governo afirmava, a Rússia estava a apoiar os separatistas na guerra na Ucrânia.
UMA IMPRENSA (POUCO) LIVRE
Vladimir Putin já veio dizer que nada tem a ver com o sucedido e que as autoridades vão investigar quem cometeu o crime.
O governo russo, ao contrário dos opositores do regime, tenta passar a ideia de que este foi um assassinato cometido pelo ocidente, de modo a lançar o caos na Rússia e prejudicar a sua imagem.
O que leva muitas pessoas a culpar Putin é o facto de a Rússia punir, por vezes com penas de prisão, aqueles que se opõem às suas medidas políticas.
Os opositores do regime queixam-se da falta de liberdade de expressão e acusam o governo de controlar a estação de televisão pública russa, usando-a para transmitir as mensagens que entendem à população, fazendo propaganda.
Este mês, a organização Repórteres sem Fronteiras publicou uma lista sobre a liberdade de imprensa no mundo em 2014. A Rússia surgia em 152º lugar entre 180 países (para teres uma ideia Portugal surge em 26º lugar; no topo da lista, como os países que mais respeitam a liberdade de imprensa, estão a Finlândia e a Suécia).
Nas últimas eleições presidenciais, em 2012, Putin foi eleito com mais de 60% dos votos.