Mas a Tailândia não é um destino seguro?
Associamos o país ao turismo, aos tuk-tuk, aos templos, mas os conflitos são usuais, embora não tanto na capital, onde se registou o atentado.
O atentado à bomba que esta segunda-feira teve lugar no centro de Banguecoque, a capital da Tailândia, deixou o mundo de novo admirado por ver imagens de violência num destino turístico por excelência.
Já foi assim, recentemente, com os ataques registados noutra potência turística, a Tunísia. Ao contrário do país africano, porém, aqui o ato criminoso nada terá a ver com o Estado Islâmico.
O ataque à bomba desta semana, com um saldo que excede as duas dezenas de mortos e a centena de feridos, não foi reivindicado, mas a história do país pode levantar algumas pistas.
1) Se há um estatuto que a Tailândia não pode reivindicar é o de um país estável a nível político: basta dizer que, desde 1940, o país já sofreu uns vinte golpes de Estado, o último dos quais no ano passado;
2) o sul da Tailândia está habituado a ouvir bombas e a viver num clima de conflito permanente. Nessa zona – ao contrário do que acontece no resto do país, em que a maioria da população é budista – os muçulmanos estão em maior número. A tensão deve-se ao facto de se sentirem discriminados pelos budistas e de lutarem pela sua independência. Esta região corresponde ao antigo sultanato de Pattani, que a Tailândia (antigo Sião) anexou há um século;
3) na Tailândia vivem quase 70 milhões de pessoas. O país é governado por uma monarquia constitucional. O rei Bhumibol Adukyadej é, de todos os monarcas em exercício, aquele que está há mais tempo no trono (desde 1946). Falar mal do rei – nem que seja um desabafo numa rede social – pode dar direito a prisão;
4) a Amnistia Internacional tem chamado a atenção para a falta de liberdade de expressão e de imprensa no país. Fala em violação de Direitos Humanos e acusa as autoridades tailandesas de silenciar as críticas ao governo evocando, para isso, questões de segurança;
5) o atual primeiro-ministro da Tailândia é um general, Prayut Chan-ocha. É ele o chefe do governo desde maio de 2014. Nesse mês, a então primeira-ministra eleita democraticamente foi afastada pelo Tribunal Constitucional, acusada de abuso de poder, e os militares levaram a cabo um golpe de Estado;
6) a primeira-ministra afastada é irmã de um antigo primeiro-ministro, Thaksin Sinawatra (um empresário milionário do ramo das telecomunicações). Também ele foi afastado do poder por um golpe de Estado, já em 2006, apesar de ter ganho as eleições e conseguido o apoio de muitos tailandeses, sobretudo pessoas pobres e de classe média;
7) na sequência desse golpe de Estado de 2006, surgiu um movimento social que se intitula como “camisas vermelhas” e diz lutar pela igualdade, pela democracia e pela justiça na Tailândia. Muitos são apoiantes de Thaskin (que vive atualmente no Dubai e, mesmo à distância, tem um grande poder no país) e da sua irmã.
Para as autoridades tailandesas, os “camisas vermelhas” são os principais suspeitos do ataque, que terá necessariamente consequências no turismo e na economia do país. Será que são? Uma das razões apontadas para esta teoria é o local da bomba ter sido palco dos protestos contra o golpe militar de maio do ano passado.
O enredo assemelha-se a um filme policial. Aguardemos o desenlace.