A física escondida nas pipocas
Quem diria que um pequeno grão de milho tem tanta ciência. Entre o grão e a pipoca há processos de termodinâmica, biomecânica e acústica.
Quando fazemos pipocas, geralmente, estamos mais concentrados no filme que vamos ver a seguir do que propriamente no que se está a passar dentro da panela ou do micro-ondas.
Mas a pergunta que investigadores de uma universidade francesa fizeram é pertinente: o que se passa nos centésimos de segundo em que o milho aumenta o volume e salta, acompanhado daquele barulho tão caraterístico, que nos leva a pensar que há festa dentro do micro-ondas?
Alexandre Ponomarenko e Emmanuel Virot deliciaram-se a analisar ao detalhe a gigantesca transformação que sofre o grão de milho e brindam-nos com um estudo científico irresistível.
PIPOCAS E BREAK DANCE
O artigo dos dois investigadores franceses, publicado em fevereiro no Journal of the Royal Society Interface, até nos leva a pensar em magia. Alertar-nos para um processo que, de tão banal, encaramos com naturalidade. De facto, num abrir e fechar de olhos, o milho não só duplica o tamanho como muda de cor e fica muito mais leve.
Para a investigação, foram usados pacotes de pipocas compradas num supermercado. Os cientistas verificaram, por exemplo, que a 170 graus apenas 34% dos graus saltaram, mas a percentagem subia para 96 quando a temperatura era aumentada para os 180 graus.
Além da temperatura, debruçaram-se também sobre o “salto” dado pelas pipocas quando explodem, num capítulo do artigo científico a que deram o humorístico nome “Break dance: o salto das pipocas”.
Aí, estabelecem uma comparação com o salto de um ginasta. Graças a uma potente câmara fotográfica que captou 2900 imagens por segundo, foi possível perceber que, ao explodir, se cria na pipoca uma irregularidade, cuja função é semelhante à desempenhada pelo pé de um atleta ao impulsionar um salto em altura.
A “MÚSICA POP”
Depois da dança, vem a música. A que se devem os estalidos que ouvimos? Ponomarenko e Virot tinham estabelecido três hipóteses:
– à rutura da “cápsula” do milho;
– ao choque com a base antes de saltar;
– à libertação do vapor de água formado no interior.
O cruzamento de microfones com a captura das imagens mostrou-lhes que a terceira era a hipótese correta. Quando o milho aquece, a humidade contida no interior do grão transforma-se em vapor. Alcança-se um equilíbrio termodinâmico semelhante ao de uma panela de pressão. Aumentando a temperatura, a pressão vai aumentar também, progressivamente, até que a capa exterior se rompe e expande-se com a forma que tão bem conhecemos.
A ciência pode ser, realmente, bem divertida.