O que tem escola a ver com ócio? Tudo

A palavra vem do grego, ‘scholé’. Na Grécia Antiga remetia para lazer, folga. E o termo latino, conheces?

Estudando a origem, formação e evolução das palavras, fazem-se descobertas fantásticas, como esta: a palavra “escola”, de origem grega, “significava na Grécia Antiga ‘lazer’, ‘folga’, ‘descanso’, ‘ocupação agradável do tempo’, ‘atividade não comercial/não remunerada'”.

Quem nos elucida acerca deste passado (para muita gente ainda oculto) da palavra “escola” é Mário Martins, professor do Liceu Camões, em Lisboa. Os seus alunos de Latim e Grego adoram etimologia e ele tem uma visão engraçada desta parte da gramática que estuda as palavras.

A etimologia é, para ele, “como conhecer uma pessoa da infância até ao presente”, no sentido em que “permite conhecer uma palavra desde a sua origem até à atualidade”, com as mais-valias que isso traz.

Uma delas é o permitir “aprender e apreender com muita facilidade mais palavras e seus significados, bem como estabelecer conexões linguísticas e culturais”.

Por exemplo, atrás da história da palavra “escola” (do grego, ‘scholé’) vem toda uma aula de História sobre as culturas clássicas.

Na Grécia Antiga, os momentos de discussão filosófica e científica ocorriam no tempo livre, precisamente. Ou eram um ‘luxo’ reservado àqueles que não precisavam de trabalhar. E daí ter passado a chamar-se escola… à escola. E o mesmo acontecia em Roma, onde – prossegue Mário Martins – “era nos momentos ditos de folga e de descanso que os romanos mais facilmente conversavam acerca de diversos assuntos extra-ocupação, extra-profissão, e também de conhecimento em sentido geral”.

José Luís Brandão, professor de História de Roma na Universidade de Coimbra, explicou ao Jornalíssimo que a palavra grega ‘scholé’ entrou, como muitas outras palavras gregas, no latim e passou a ‘schola’.

Mas a palavra original latina para escola é, também, curiosa e José Luís Brandão conta que os alunos se surpreendem ao conhecê-la: ‘ludus’. Ou seja, no latim, por detrás de “escola” estava a ideia de “jogo”.

Mário Martins acrescenta que é esta a razão para o sistema educativo romano ser conhecido por ‘Ludus Litterarius’ . Era constituído por três níveis de ensino: ‘Ludus Principalis’ (educação elementar), ‘Ludus Grammaticus’ (equivalente aos 2º e 3º Ciclos e Ensino Secundário atuais) e ‘Ludus Rethoricae’ (uma espécie de ensino superior/universitário dos dias de hoje).

O professor do Liceu Camões explica também que, a partir do século III a.C., a influência grega na educação romana fez com que vários mestres gregos “fossem levados para Roma, passando a ensinar em casa de seus donos (eram os ‘servi docti’, escravos doutos) ou, quando obtinham a cidadania romana, passavam a abrir escolas na Urbe que acolhiam rapazes e raparigas (poucas) dos 11-12 aos 16-17 anos”.

Imaginas quais eram as principais áreas de estudo? Se disseste poesia, oratória, declamação, música, filosofia e astronomia, acertaste em cheio. Sendo que também “tomavam contacto com os autores clássicos gregos e latinos, discutiam os seus textos oralmente, faziam exercícios de ‘imitatio’ dos grandes autores e de práticas de escrita”. Estudar era, no entanto, um privilégio, “a que só os alunos das classes mais abastadas poderiam ter acesso”.

Agora, num registo mais ligeiro, contamos-te a resposta do professor José Luís Brandão quando lhe perguntámos se os seus alunos têm a noção da origem da palavra original latina para escola (‘ludus’). Foi esta: “Depende, alguns até têm de mais (risos)… E outros de menos”, observou bem disposto.

Para José Luís Brandão o importante “é conhecer as origens, mas perceber que há diferenças”.

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