Não é uma questão de opinião. As alterações climáticas são um facto
Há, na Internet, cursos e ferramentas que ajudam a construir um olhar crítico, essencial para contrariar Trump e outros negacionistas como ele.
Opinião | Por Giancarlo Pace – coordenador do projeto Key 1.0. (*)
A comunidade internacional nunca conseguiu (ou nunca quis…) tomar medidas contra as alterações climáticas ajustadas à gravidade do fenómeno. A eleição do novo presidente dos Estados Unidos leva-nos a pensar que o cenário irá piorar mais ainda.
Donald Trump afirma que o aquecimento global é uma fraude científica perpetrada pelos chineses para enfraquecer a economia americana.
As alterações climáticas são um fenómeno real, provocado pela atividade industrial humana. É difícil prever todas as consequências que este fenómeno irá ter, mas existe uma seríssima probabilidade de que venha a ceifar milhões de vidas humanas. Aliás, está já a causar uma aceleração das extinções de várias espécies. Esta é a visão da esmagadora maioria dos cientistas do clima.
Mas existe um problema ainda mais dramático, face ao qual a comunidade científica ficou inexplicavelmente insensível: a indústria dos combustíveis fósseis poderá ser obrigada a reestruturar-se e, portanto, a perder parte do ser lucro.
A indiferença perante esta tragédia foi amplamente compensada pelo dinamismo da ‘Koch Industries’ e da ‘ExxonMobil’, entre outros.
Com grande sentido de responsabilidade e preocupação com o bem-estar coletivo, eles lançaram uma campanha para manipular o público e convencer os cidadãos dos EUA que todas as preocupações com as mudanças climáticas são mentira.
A campanha foi muito bem-sucedida. Recrutou cientistas do clima, como Duesberg no caso da virologia (vamos falar sobre ele no artigo da próxima segunda-feira), dispostos a esposar a causa do contra. Mas o trabalho mais importante foi (e é) feito por hábeis comunicadores, sem formação científica em climatologia, que recebem uma atenção desproporcional por parte dos órgãos de comunicação social no país mais rico e poderoso do mundo.
O novo presidente deste país, Donald Trump, alinha e vai sabotar as medidas, francamente insuficientes, que foram tomadas até agora.
Entre as pessoas preocupadas com esta situação – e já muito antes da eleição de Trump -, John Cook é uma das mais ativas. Criou um blogue, o scepticalscience.org, que é a fonte de informação mais cuidada e melhor organizada sobre o tema. Ali, encontra-se resposta a todas as questões levantadas por quem nega a ciência do clima.
John Cook é também o promotor de um curso ‘online’ e gratuito – o ‘Denial 101x’ -, que permite perceber os elementos fundamentais da ciência do clima e o modo como a comunidade científica chegou às conclusões acima delineadas acerca das alterações climáticas.
O curso aborda, também, elementos de psicologia e de marketing para dar a compreender as motivações de quem nega as alterações climáticas, bem como a forma como estas pessoas – os negacionistas – reagem quando se lhes apresenta informação contrária aos seus preconceitos.
Quem tirar o curso, descobrirá as razões pelas quais “não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir”, e conhecerá formas de promover a consciência climática, mais inteligentes e eficazes do que brigar ‘online’.
Sugiro que cliquem aqui e comecem o curso mal possam.
Porém, o ‘Denial 101x’ não ensina a criar as condições que encorajam o espírito crítico na sociedade. Esta tarefa é incomparavelmente mais difícil. Tem que começar na escola e só veremos os seus frutos nas próximas décadas.
O pensamento crítico é o único método que pode resultar, a longo prazo, contra a negação do aquecimento global e outras ameaças parecidas que poderão surgir no futuro.
A indústria da negação do aquecimento global também conhece estratégias de marketing cuja eficácia é comprovada pela evidência. Para além disso, ela pode contar com imenso poder e recursos económicos. Não lhe será, assim, difícil desfazer o trabalho de pessoas como Cook, se o público for desprovido de espírito crítico.
É preciso ver longe, inovar na pedagogia da ciência e da filosofia. Transferir noções não é suficiente. É necessário ensinar a avaliá-las autonomamente. Só através do espírito crítico a humanidade poderá salvar-se de si própria. Neste sentido, o curso ‘Denial 101x’ não é um guia prático, mas sim um ótimo motivador.
(*) O projeto Key 1.0. é financiado pelo programa INTEGRA – Ciência para a Inclusão, da Ciência Viva, e tem como objetivo promover a inclusão social de migrantes e refugiados através da ciência e da aprendizagem pela discussão na escola. Podes saber mais no blogue do projeto, em Keysosoracismo.wordpress.com.