Palavras em movimento: testemunho vivo do património cinematográfico

Gostas de cinema? Tens algum realizador preferido? Alguma vez pensaste no que é preciso para fazer um filme?

Por Raquel Rato*

O projeto “Palavras em movimento: testemunho vivo do património cinematográfico” (1) tem como objectivo descobrir novos aspectos sobre o cinema português nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX. Para isso, conta com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian (2)  e com os seguintes parceiros: Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Plano Nacional de Cinema e Universidade de Campinas, no Brasil.


Fotograma do filme “O Passado e Presente” (1971) de Manoel de Oliveira. Fotograma realizado pelo diretor de fotografia Acácio de Almeida. Dada a dificuldade de se fazer a filmagem de uma fechadura, Acácio de Almeida recortou um cartão preto em forma de fechadura para mostrar que a personagem estava a espreitar pela fechadura de uma porta, colocando-a à frente da lente da câmara de filmar.

O projeto pretende criar uma plataforma digital/audiovisual, através da metodologia da História Oral . Nela, serão colocadas entrevistas que realizarei juntamente com meu diretor de fotografia (quem filma e faz a luz no cinema) aos principais intervenientes que trabalharam no cinema português, nas décadas de 1960-1980, que viria a designar-se como o Cinema Novo. Foi uma época de grandes transformações em termos sociais e culturais em Portugal. O mais importante é recolher as memórias, através da câmara de filmar, dos testemunhos, que neste momento têm cerca de 70 a 80 anos. Nos últimos quatro, cinco anos, infelizmente têm falecido pessoas marcantes da História cinematográfica portuguesa, tendo-se perdido a oportunidade de se efetuar um contacto próximo com elas. Dá-se o exemplo de realizadores como Manoel de Oliveira, Alberto Seixas Santos, Paulo Rocha, Noémia Delgado, António Macedo, Laura Soveral, António Escudeiro.


Fotografia de rodagem do filme “O Passado e o Presente”, à esquerda na câmara, Acácio de Almeida. ao centro, Manoel de Oliveira. Fotografia Cedida por Acácio de Almeida

Os jovens realizadores de 1969

Em 1969, os jovens realizadores uniram-se e criaram uma cooperativa de produção com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, que veio a chamar-se O Centro Português de Cinema. Inauguraram-se, assim, os chamados “Anos Gulbenkian”, de donde sairão, com apoio financeiro da instituição, as primeiras obras de cineastas históricos. Ora, são estes jovens do passado que foram apoiados pela Fundação Calouste Gulbenkian que podem, hoje, dar entrevistas sobre a “aventura” do Novo Cinema, pois foram eles que o conduziram e vivenciaram. Serão feitas entrevistas a: realizadores, diretores de fotografia, atores, eletricistas, decoradores, anotadores, cujo trabalho situa-se atrás das câmaras, mas que todos em conjunto, contribuem para a construção do filme. A plataforma digital para além de divulgar o cinema português, divulgará os seus autores. As entrevistas terão a sua transcrição e edição de vídeo, com o objetivo de salvaguardar património cinematográfico audiovisual.

(1) Se quiseres podes espreitar o site (provisório) do projeto aqui.

(2) Está a decorrer um concurso na Fundação Calouste Gulbenkian, sobre quem é Gulbenkian? Podes saber mais aqui.

Foto de abertura: Diretor de fotografia, Acácio de Almeida. Fotografia cedida pelo próprio

(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo Seixas, Ricardo Castro e Susana Domingues.

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