Na ‘Patisserie Maxime’, os insetos são a cereja no topo do bolo
E os aracnídeos também. A capital escocesa tem uma pastelaria que vende doces feitos com farinha de grilo, de escorpião, de tarântula.
Imagina chegares a uma pastelaria e perguntarem-te se preferes bolo de escorpião, de tarântula, de grilo ou de bicho-da-farinha. Estranho, não? Na Europa há pelo menos um sítio onde tal pergunta é feita: a ‘Patisserie Maxime’, em Edimburgo.
Nos expositores há bolos feitos a partir de vários insetos. E, se não fores facilmente impressionável, podes pedir um bolo que venha decorado com os próprios animais. Ora repara bem nesta fotografia…
Se és europeu, o mais provável é, porém, que encares o facto de dar uma trinca num inseto algo de impensável e repugnante.
A entomofagia (isto é, o consumo de insetos por seres humanos) é prática comum em muitos países (da Ásia, da África, da América Latina), mas é pouco habitual na Europa.
Os donos desta original (pelo menos por enquanto…) pastelaria tiveram em conta esta questão cultural. E para afastar o “yuck factor” (uma onomatopeia que traduz nojo) tiveram o cuidado de disfarçar bem o ingrediente que torna estes bolos tão especiais.
Olhando para a maior parte deles, é impossível adivinhar que contêm insetos. Aliás, quase todos apresentam um aspeto delicioso. Os insetos estão lá, mas em forma de farinha, já que foram previamente triturados.
A ideia do jovem Cyril Barthelme, de 26 anos, não se prende com excentricidade. Ou, pelo menos, não se prende só com excentricidade. Na base deste novo conceito de pastelaria está uma preocupação com o futuro do planeta.
Em entrevista à BBC Escócia, Cyril explica que pretende, deste modo, alertar para a existência de alimentos alternativos à carne, lembrando que a produção desta implica, por exemplo, um gasto muito elevado de água, algo que não acontece com a produção de insetos.
Cyril contou, também, que fazer bolos com farinha de insetos não foi simples, por se tratar de uma farinha muito mais fina. Mas, ao misturá-la com farinha tradicional, foi possível chegar a várias receitas saborosas. E nutritivas, já que se trata de um alimento muito rico, contendo níveis importantes de proteínas, gordura e minerais.
Com este conceito, a pastelaria escocesa segue as recomendações da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que tem vindo a defender o consumo de insetos por humanos.
Para aquela Organização, trata-se de um tema muito importante no contexto atual. Prevê-se que, em 2050, sejam 9000 milhões os habitantes do planeta. Ora, para alimentar tanta gente seria necessário quase duplicar a produção agrícola atual, algo que teria um efeito muito nefasto para o ambiente.
A FAO vê, assim, na entomofagia uma forma de responder à crescente procura de alimento e uma alternativa tanto à produção animal como à produção de rações para animais.
No ano passado, já te falámos, aqui no Jornalíssimo, de uma barra de cereais feita com farinha de larvas e premiada pela Academia Suíça de Ciências Técnicas. Ou seja, a entomofagia está mesmo a ganhar terreno na alimentação humana.
Falamos-te mais sobre o tema neste artigo: 10 CURIOSIDADES SOBRE A ENTOMOFAGIA