A Europa cresce com as línguas e as línguas crescem com a Europa

As línguas oficiais da UE são 24, mas há mais de 60 línguas regionais ou minoritárias. Fica a conhecer melhor esta Europa das línguas.

Por Maria Leonor Gambini de Sousa Guedes *

O número das línguas oficiais da União Europeia (UE) tem vindo a crescer, o que acontece quase sempre que um novo estado se torna membro da UE. Por outro lado, as línguas crescem em visibilidade pela sua utilização nas agências e organismos da União.

As línguas oficiais da EU são 24, mas há mais de 60 línguas regionais ou minoritárias, e todas enriquecem o património linguístico e cultural da Europa.

Os países e as regiões veem as suas culturas difundidas através das línguas, ganhando ambas uma dimensão nunca antes imaginada. E, assim, a diversidade aproxima os povos, realçando as diferenças num espírito fraterno. O conhecimento recíproco cria a consciência do outro, numa identidade que se funde num objetivo comum: a comunicação civilizada entre as nações, que se faz através das línguas da Europa.

Para que, apesar das diferenças linguísticas, os estados da Europa possam dialogar e tomar decisões relativas a questões políticas, económicas, legislativas e institucionais de interesse comum, realizam-se reuniões e são redigidos documentos em todas as línguas oficiais.

O multilinguismo concretiza-se, assim, diariamente, a vários níveis.

A Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Tribunal de Justiça da UE são as principais instituições a utilizarem intérpretes e tradutores, que trabalham, em regra, para a sua língua materna, com 552 combinações possíveis. Os intérpretes trabalham oralmente e em tempo real, ao passo que os tradutores elaboram textos a partir de documentos escritos. Tanto intérpretes como tradutores são profissionais qualificados, selecionados através de provas de grande exigência.

A Comissão Europeia promove a diversidade linguística e a aprendizagem das línguas na Europa, além de ajudar no desenvolvimento de novas ferramentas educacionais e inovadoras no ensino das línguas. O Portal Europa difunde a informação de carácter geral nas 24 línguas oficiais. Qualquer cidadão europeu pode utilizar uma destas línguas para comunicar com as instituições europeias.

Tem-se colocado a questão de saber se, com a saída do Reino Unido, o panorama linguístico europeu irá sofrer alterações. Apesar de as línguas oficiais serem 24, as “línguas de trabalho” na UE são três – francês, alemão e inglês – e a maioria dos eurocratas são fluentes nas três línguas. Além do Reino Unido, apenas a Malta e a Irlanda têm inglês como língua oficial, mas a língua inglesa tem vindo a impor-se como língua franca em todo o espaço europeu, sobretudo entre as camadas jovens, que a encaram com língua obrigatória no mercado de trabalho.

Isto não significa, de forma alguma, que as outras 23 línguas oficiais percam em relevância e interesse nas instituições da União Europeia. A afirmação da diversidade cultural e linguística no espaço europeu constitui um mosaico colorido sem paralelo no mundo e um exemplo de fraternidade em que a diferença une, ao invés de separar.  

(*) Professora Adjunta e Coordenadora do Centro de Línguas da Escola Superior de Educação de Coimbra, tradutora e intérprete. A rubrica “História e Europa” é publicada ao dia 20 de cada mês e dedicada às ideias e aos protagonistas do projeto europeu. Resulta de uma parceria entre o Instituto de História Contemporânea da Universidade de Lisboa (IHC – UNL) e o Jornalíssimo e tem a coordenação científica de Isabel Baltazar e Alice Cunha, doutoradas em História pelo IHC-UNL. Neste mês, o artigo é excecionalmente publicado a dia 25 devido a um problema técnico com o site.

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