Chloé Romão: “Nunca me vou esquecer das amizades que criei”
Aluna do Liceu Francês Charles Lepierre de Lisboa representou a Europa do Sul num evento mundial.
Pelo quarto ano consecutivo, a Agência para o Ensino do Francês no Estrangeiro (AEFE), em parceria com a UNESCO, realizou o concurso mundial “Ambassadeurs en herbe”, que Chloé acha que pode ser traduzido por “Embaixadores em formação”.
O objetivo é promover a multiculturalidade, o debate de ideias, a capacidade de argumentação e o plurilinguismo entre alunos dos 9 aos 16 anos que estudam em liceus franceses de todo o mundo.
Os temas a debater são variados, mas andam sempre em torno de questões de atualidade, universais.
Este ano, centenas de alunos de quase 100 escolas francesas do mundo inteiro participaram no concurso, com diferentes etapas de seleção.
À final, na sede da UNESCO em Paris, chegaram apenas 50 alunos, representantes de dez zonas geográficas.
Portugal teve uma só finalista. Chloé Romão, de 11 anos, aluna do Liceu Francês Charles Lepierre, em Lisboa, foi uma das cinco escolhidas na semifinal, realizada em Barcelona, da zona geográfica a que pertence: Europa do Sul e Ibérica, em que se incluem Portugal, Espanha, Itália e Turquia. Foi lá que conseguir um lugar para o evento final, que teve lugar em maio na capital francesa.
Chloé contou ao Jornalíssimo como foi o processo até chegar a Paris, falou da experiência de ser “embaixatriz” da multiculturalidade por uns dias, do discurso de outros participantes, de países como a China, El Salvador ou Líbano.
JORNALÍSSIMO – Tens dupla nacionalidade. A multiculturalidade é um tema que te é especialmente querido, não?
CHLOÉ ROMÃO – Sim, é um tema que para além de me ser querido, também me é familiar. Vivo em Lisboa, o meu pai é português e a minha mãe é francesa e tanto eu como o meu irmão temos dupla nacionalidade.
J – Porque decidiste participar no “Embassadeurs en Herbe”?
CR – Decidi participar neste projeto porque tinha vontade de tentar uma nova aventura, conhecer novas pessoas e de aprender novas coisas.
J – O que é para ti a multiculturalidade?
CR – Para mim, multiculturalidade é a mistura de muitas culturas, ou seja, pessoas que apesar de terem uma aparência muito diferente vivem em paz e em harmonia, aproveitando o melhor de cada cultura, e é assim que cada um de nós, se pode enriquecer. Não em dinheiro, mas sim em sabedoria.
J – O que retiraste de toda esta experiência, que durou quase um ano letivo?
CR – Apesar desta experiência ser muito enriquecedora aquilo de que nunca me vou esquecer foram as amizades que criei.
J – Deu para fazer amigos de outros países, apesar de o evento de Paris ter a duração de dois dias?
CR – Dois dias deu para fazer muitos amigos. Até mais do que possam julgar! E, só para corrigir, a viagem foi de um domingo até à quinta da mesma semana, portanto foram mais ou menos cinco dias.
J – O concurso desenrola-se em várias etapas. Podes resumi-las rapidamente?
CR – Numa primeira fase, para poder participar neste projeto, tive de ser eleita na minha turma. Em seguida, há uma seleção a nível escolar. Temos de fazer um discurso e participar num debate.
Na final de zona (Europa do Sul e Ibérica) e na última etapa (em Paris) temos também que apresentar um discurso e debater com outros colegas. De forma resumida, é isto. Na última etapa (a de Paris) temos, ainda, de fazer uma apresentação oral na qual falamos francês e a língua do país (no meu caso português).
J – Foste tu a escolher os temas em cada uma das fases do concurso ou, pelo contrário, o tema é sugerido pela organização?
CR – Foi a organização que escolheu os temas.
J – De que assuntos falaste?
CR – Nas duas primeiras etapas, falei do mesmo assunto. Abordei as mudanças climáticas e as suas consequências em relação aos oceanos. Na terceira etapa, em Barcelona, falei da diversidade cultural e da criatividade humana. Por sua vez, na quarta etapa, em Paris, falei da educação para viver em conjunto e para a interculturalidade.
J – De que forma abordaste esse tema?
CR – Destaquei o problema de um colega meu chinês, que não sabia falar português e que, devido a essa barreira linguística, se começou a sentir excluído e a ter gestos estranhos. Contei como a minha escola (o Liceu Francês) resolveu o problema, fazendo um grande trabalho de sensibilização com todos os alunos para ensinar que os outros podem ser diferentes.
Dei, ainda, outro exemplo. Eu moro perto da Mouraria e falei do bairro, onde há pessoas de 40 nacionalidades diferentes a viver e do trabalho que a associação “Renovar a Mouraria” faz lá para facilitar a integração e o convívio entre culturas.
J – Quais foram as intervenções que mais te marcaram na final em Paris?
CR – Gostei de todas as intervenções, achei que cada uma tinha a sua parte instrutiva, educativa ou até mesmo engraçada.
Mas posso falar da menina do Líbano, que teve uma intervenção sobre o problema do lixo em Beirute (a capital), onde há um ano e meio há uma greve e o lixo não é recolhido, o que está a provocar sérios problemas. A colega de Pequim falou da poluição atmosférica na China e de como, por vezes, ela e os colegas ficam impedidos de ir à escola ou de sair para o recreio para se proteger. O menino de El Salvador destacou o problema da violência no país dele. Lá há muitos gangues e trocas de tiros perigosas para a população.
J – Achas que eventos destes são importantes? Porquê?
CR – Acho que eventos destes são muito importantes porque aprendemos muitas coisas, conhecemos muitas pessoas e aprendemos a viver melhor em conjunto.
J – Dos temas que ouves nas notícias há algum que te preocupe em particular?
CR – Há vários que me preocupam, mas os atentados feitos pelo estado islâmico e os pobres refugiados sírios preocupam-me bastante.
J – Como achas que se poderia resolver?
CR – Sinceramente, penso que não existem muitas pessoas que tenham resposta para isso, mas para que resultasse mesmo, apesar de praticamente impossível, era preciso que todos estivessem de acordo e quisessem melhorar esta situação.
J – Como traduzirias para português “Ambassadeurs en herbe”?
CR – Acho que traduziria para embaixadores em formação. Claro que não quer dizer que todos nós venhamos a ser embaixadores!