Marte: mais uns anos e estamos aí
Vê como vão ser os treinos dos cem candidatos a “marcianos” selecionados para embarcarem numa viagem sem regresso ao planeta vermelho. Entre eles, uma brasileira e dois espanhóis.
É impossível escrever sobre a organização sem fins lucrativos que quer colonizar Marte em 2025, a Mars One, sem pensar na “Pedra Filosofal”, de António Gedeão.
Como no poema, aqui, é “o sonho que comanda”. E conhecer novos territórios faz parte da natureza humana. É “uma constante da vida”.
Se não fosse, como explicar que mais de 200 mil pessoas em todo o mundo se tenham candidatado a colonizar Marte, numa viagem que sabem ser só de ida, para um planeta onde tudo parece adverso à vida humana?
CONTRA VENTOS E MARÉS
Em Marte não há comida, o ar é irrespirável, a água em estado líquido é miragem, as temperaturas alcançam centenas de graus abaixo de zero, a gravidade é muito reduzida.
Um estudo recente de doutorandos do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) deu apenas 68 dias de vida aos colonizadores de Marte, se partissem hoje.
Os 100 candidatos recentemente escolhidos (entre os quais, uma brasileira e dois espanhóis), estão na terceira e penúltima etapa de seleção. E é agora que as coisas começam a ficar realmente interessantes para estes 50 homens e 50 mulheres de todos os continentes, com idades que vão dos 19 aos 60 anos.
SIMULANDO A VIDA EM MARTE
Terminaram-se as entrevistas via internet. Para chegar aos 24 finalistas que terão bilhete para a alucinante viagem, os selecionados vão ser postos à prova numa réplica do “Alpha Outpost” que terão à disposição em Marte.
Serão testados até à exaustão em condições extremamente difíceis e submetidos a missões que vão ajudar a perceber como se dão a trabalhar em equipa.
O Ártico está pensado como um dos lugares onde os candidatos deverão ser sujeitos às provas de seleção e onde, paralelamente, o equipamento que abrigará os astronautas será testado a vários níveis (vento, temperatura, isolamento).
Segundo a Mars One, a “casa” dos astronautas vai ser constituída por seis módulos ligados entre si e dois insufláveis, onde haverá, por exemplo, quartos, salas de estar e de operações, áreas de produção de alimentos, zonas de suporte de vida, espaços de lazer e laboratórios.
ALÔ, ALÔ MARCIANOS
Na última etapa do processo, os astronautas vão ter treinos intensivos e a missão passa a ser considerada um trabalho, pelo qual irão receber um salário.
A preparação vai durar oito anos, durante os quais os exploradores vão passar vários meses completamente isolados do mundo, ensaiando as rotinas que vão ter fora da Terra e preparando a viagem.
No site da Mars One já é possível ter uma ideia de como vai ser a vida dos colonos, que nós vamos poder seguir, como num verdadeiro reality show.
Chegar da Terra a Marte levará sete ou oito meses e poderá ser o período mais complicado da aventura. Se, em Marte, os tripulantes vão poder plantar vegetais no abrigo, tomar banho e até vestir roupa normal quando não estiverem fora do Alpha, durante a viagem será bem diferente. Estarão confinados a um pequeno espaço, poderão apenas lavar-se com uma espécie de toalhetes e comer comida seca, congelada e enlatada.
QUATRO DE CADA VEZ
A formação vai ser uma etapa importante do treino. Há conhecimentos que todos terão de dominar, outros obedecerão a uma lógica de complementaridade. Manejar e reparar equipamentos, dominar eletrónica, saber de medicina, psicologia, fisioterapia, geologia e exogeologia, descrita como “the biology of alien life”, são algumas das áreas em que terão de se tornar especialistas.
Apesar de saberem que a viagem é só de ida, os primeiros homens em Marte vão poder matar saudades com familiares e amigos graças a satélites. O telefone não vai ser muito prático para diminuir a distância, já que a informação entre cá e lá demorará entre três a 22 minutos a chegar, mas os mails e outros sistemas de mensagens escritas compensam.
Os escolhidos vão ser divididos em seis equipas de quatro elementos cada. Os primeiros colonos deverão partir em 2025 e os restantes irão juntar-se a eles de dois em dois anos.
E, assim, “o mundo pula e avança”.