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Irão os gregos mostrar novo cartão vermelho à Europa?

Em contagem decrescente para o referendo na Grécia, um guia com 8 perguntas e respostas para entenderes o que aconteceu até aqui.

Por que é que a Grécia está em crise?

A crise grega não é de ontem, tem já alguns anos e é indissociável da palavra dívida. Quase todos os países do mundo têm uma dívida, mas em alguns, como em Portugal e na Grécia, ela é especialmente grande. Um Estado endivida-se quando gasta mais (em despesas como Educação ou Saúde, por exemplo) do que ganha (em taxas, impostos, etc.). O grande problema da dívida são os juros. Quando se pede dinheiro emprestado tem de se pagar por esse empréstimo e, logo, a quantia a devolver a quem emprestou, aos credores, é sempre superior. No caso da Grécia, à dívida somava-se uma grande fuga por parte dos cidadãos aos impostos e muita corrupção.

Quando começaram as medidas de austeridade?

Em 2010, a crise da Grécia atingiu um ponto tal que o país se viu obrigado a pedir ajuda à Europa e a outras instituições internacionais. Ao contrair esse empréstimo, o Governo que estava então no poder na Grécia comprometeu-se a levar a cabo uma série de medidas de austeridade. Tal como aconteceu em Portugal, houve cortes na Segurança Social, baixaram-se salários, aumentaram-se impostos, despediram-se funcionários públicos. Os cidadãos viram a sua qualidade de vida diminuir.

Essas medidas tiveram resultados?

A resposta é sim se a questão for se essas medidas tiveram resultados para o Euro. Ou seja, pensa-se que essa austeridade imposta aos cidadãos gregos contribuiu para que o impacto da crise na Grécia sobre a moeda única tenha sido menor. Se a questão for se as medidas significaram melhorias para a Grécia, aí a resposta já é um não. Pelo menos para dois economistas de elevado calibre: Paul Krugman e Joseph Stiglitz, vencedores do Nobel, dizem que as medidas em nada contribuíram para melhorar a situação do país. A BBC fala numa redução de 25% da economia grega desde que o país está sob estas medidas de austeridade.

Como é que o Syriza chegou ao poder?

No início deste ano, a Grécia surpreendeu a União Europeia ao votar em massa no Syriza, uma coligação de esquerda radical, que ficou apenas a dois deputados da maioria absoluta.

A eleição do Syriza foi histórica por duas razões:

– foi a primeira força política anti-Troika a ser eleita na Europa – o partido baseou toda a sua campanha na oposição às políticas de austeridade que a Troika impôs;

–  foi a primeira vez, em 40 anos, que os gregos optaram por ser governados por um partido que não o Pasok (socialista) ou a Nova Democracia (conservador).

Esta resposta nas urnas foi o espelho do descontentamento do povo grego com as medidas de austeridade que lhe foram impostas. Os cidadãos helénicos reviram-se no discurso do homem que hoje é Primeiro-Ministro. Alexis Tsipras acusava a Europa das dificuldades extremas que o seu país estava (e está ainda) a passar – um terço dos cidadãos corria risco de pobreza, o desemprego atingia mais de 25 por cento da população.

Como foram as relações do Syriza com as instituições europeias?

O diálogo entre o Governo grego e a Troika (composta pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) foi tenso desde o início, o que já era de prever dado o programa do Syriza ser anti-austeridade. Apesar de sucessivas reuniões e encontros, as duas partes não chegaram a acordo, lançando a Grécia, em especial, mas também toda a Europa, num mar de dúvidas sobre o que irá acontecer a seguir.

Por o acordo não ter sido alcançado, o Banco Central Europeu recusou-se a emprestar mais dinheiro à Grécia, o que obrigou o país a fechar os bancos e a restringir os montantes de dinheiro que os cidadãos podem levantar no multibanco. Com o chamado “Curralito”, o governo de Tsipras evita que os gregos transfiram o que têm nas contas para bancos estrangeiros. Já no início desta semana, a Grécia não cumpriu o prazo para pagar um empréstimo feito ao FMI, algo que nunca tinha acontecido com nenhum país desenvolvido.

Por que não se chegou a um acordo?  

O governo grego aceitou quase na totalidade as exigências que lhe foram feitas pela Troika. A tal ponto que muitos comentadores políticos acusaram Tsipras, em sentido figurado, de “capitulação”, de ceder ao inimigo. O Partido Comunista grego disse mesmo o Syriza enganou o povo grego ao acabar por aceitar as exigências dos credores. Outro partido, o Antarsya, acusou o Governo de “submissão” à Troika.

Num dos últimos encontros com os credores internacionais, o Syriza tinha pedido à Troika um aumento do prazo de que dispunha para reformar o sistema de pensões na Grécia. Pediu, também, que o acordo contemplasse um IVA menor do que o previsto para as ilhas gregas (fundamentais para a economia do país por causa do turismo).

A Europa não cedeu. Tsipras decidiu, então, convocar um referendo para deixar o povo grego decidir se quer o acordo nestes termos ou não. O Primeiro-Ministro helénico foi muito crítico com as instituições europeias. Acusou-as de “querem humilhar todo um povo” e de serem pouco democráticas. Por seu lado, foram muitos os líderes europeus a acusar o Governo grego de irresponsabilidade.

O que vão decidir os gregos no referendo de domingo?

O povo é chamado a responder “sim” ou “não” à última versão do acordo proposto pela Troika e que, pelas cedências pedidas pelo Syriza não terem sido atendidas, foi recusado. Se o “sim” vencer, Tsipras e o seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, já anunciaram que abandonarão as suas funções. Reiteram que querem continuar no Euro, mas pedem aos gregos que votem “não”, pois julgam que essa posição lhes dará maior margem de manobra para negociar com a Europa.

Por que estão todos os países europeus tão preocupados com a Grécia?

Uma das razões é que ninguém sabe muito bem quais serão as consequências se a Grécia abandonar o Euro. Alguns políticos fazem crer que, se isso acontecer, a Grécia abandonará também a União Europeia. Os dois cenários assustam toda a Europa, que receia que a instabilidade na Grécia possa contagiar outros países.

Muitos dos países que emprestaram dinheiro à Grécia temem, ainda, que o rumo dos acontecimentos leve a que esses montantes não lhes sejam devolvidos. E há também a questão da localização geográfica privilegiada da Grécia, muito importante para a Europa e para todo o Ocidente.

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