E se o futuro da agricultura estiver no fundo do mar?
As hortas subaquáticas do projeto Nemo’s Garden têm tido resultados surpreendentes. Estão como peixe na água.
O Nemo’s Garden mete água, muita água, mas apenas no sentido literal. A água é a chave desta nova forma de cultivar alimentos que começou a crescer há quatro anos na cabeça de um italiano apaixonado por mergulho.
Sergio Gamberini estava de férias junto ao mar quando teve a ideia luminosa de cultivar alimentos no fundo marinho, dentro de estufas.
Imaginou que sementes e plantas colocadas no interior de estufas subaquáticas beneficiariam de condições ideais para crescer, nomeadamente de uma temperatura mais constante, de proteção contra ameaças exteriores (nada de pragas), de maior pressão, de processos de evaporação de água e condensação…
O empresário-mergulhador acreditou na ideia, envolveu os colaboradores da sua empresa familiar, o ‘Ocean Reef Group’, no projeto e passou dois anos a testar o conceito.
Vários tipos de balões transparentes – ele chama-lhes “biosferas” – foram produzidos e mergulhados no fundo do mar (vê a montagem de uma das estruturas no vídeo abaixo), com vasos com sementes no interior.
Os primeiros resultados mostraram que o projeto tinha potencial. Os feijões e o manjericão plantados cresceram bem mais rápido do que em terra firme. E com um impacto ambiental nulo, já que não houve gasto de água, energia e não foi utilizado qualquer tipo de pesticidas.
A preocupação com a investigação e o desenvolvimento do conceito está presente desde o primeiro momento. Logo nas primeiras estufas foram introduzidas câmaras e sensores para transmitirem, em tempo real, imagens e dados sobre níveis de oxigénio e dióxido de carbono.
Os resultados estão a ser celebrados em publicações especializadas de agricultura e ambiente, onde o projeto é visto como promissor, capaz de reduzir o impacto ambiental da prática agrícola e de permitir o cultivo de alimentos em países em vias de desenvolvimento, com condições adversas.
Em vídeos e entrevistas publicados no site oficial do projeto Nemo’s Garden, os mentores não escondem o desejo de ver a ideia tornar-se numa “opção real”.
O passo mais recente, entretanto, solicitou o contributo de internautas, numa (bem sucedida) campanha de ‘crowdfunding’ no site ‘Kickstarter’.
Com os cerca de 25 mil euros angariados, o ‘Ocean Reef Group’ quer continuar a apostar na investigação – chegar ao design mais eficiente para as “biosferas”, pensar em formas de aproveitar o excedente de água produzido no interior dos balões, idealizar outros usos para aqueles espaços, compatíveis com as plantações…
A campanha do ‘Kickstarter’ pedia, no entanto, mais do que uma contribuição monetária. Muitos dos que participaram irão receber em suas casas estufas em miniatura para cultivarem o que pretenderem dentro de aquários, com o objetivo de terem um papel ativo na investigação, partilhando os resultados obtidos.
Em breve, haverá portanto mais gente a produzir alimentos debaixo de água.
Por enquanto, as únicas estufas do projeto estão mergulhadas junto à localidade de Noli, em Itália, e vão produzindo manjericão, feijões, alfaces e morangos.