Chama-se ‘Mexe’, é um festival e agita vidas
Figuras de cartaz? Nada disso. O evento que começa hoje no Porto é importante precisamente porque os protagonistas são anónimos.
O nome é feliz: “Mexe”. E é que “mexe” mesmo: “mexe” com quem participa, “mexe” com quem assiste, “mexe” com conceitos e ideias feitas, “mexe” com a cidade em que se realiza, já pela terceira vez – o Porto.
Este ano, e assim só para dar uma ideia do que se trata, há um espetáculo com um grupo de sem-abrigo da Hungria (uma peça que fala das várias formas como a sociedade pode destruir uma pessoa), um teatro com mulheres de origem marroquina e turca refugiadas na Holanda (trata do que é ser uma mulher muçulmana numa Europa dividida), uma atuação de jovens que fazem ‘beat-box’ com um fundo sonoro produzido com recurso a bolas de basquetebol, uma oficina que convida os participantes a explorar as potencialidades do silêncio, entre muitas outras propostas.
O “Mexe” define-se a si próprio como um “Encontro Internacional de Arte e Comunidade”. Embora apresentando alguns nomes sonantes (sobretudo nos bastidores), os holofotes viram-se para os anónimos. Para gente que se cruzou com a arte por um acaso e, muitas vezes, descobriu nela um sentido para a vida.
E as atuações não são só de gente de fora. O documentário que hoje (terça, 8) abre o Mexe, no salão nobre do Teatro Nacional de São João, às 21 horas, mostra o que foram os últimos dois anos de trabalho com cinco grupos de teatro comunitário do Porto.
Foca o processo de criação de “Mapa – O Jogo da Cartografia”, o espetáculo que será apresentado no domingo às 21 horas no Teatro Carlos Alberto, no encerramento do festival.
“É uma reflexão conjunta sobre o que é o Porto e o novo mapa que gostaríamos de ver desenhado, numa perspetiva não de queixume, mas construtiva”, explica Hugo Cruz, diretor do Espaço de Contacto Social e Cultural PELE (que promove o Mexe).
Este é um dos poucos espetáculos para o qual será preciso pagar entrada (cinco euros). A maioria é grátis e alguns são apresentados em espaços públicos (nos palcos montados nos bairros do Lagarteiro e Lordelo do Ouro, no Jardim de São Lázaro, na estação de metro da Trindade).
A peça “Retratos”, por exemplo, vai ser apresentada no Lagarteiro. O enredo é sobre violência doméstica e a assistência é convidada a participar. Como? Primeiro a peça é apresentada uma vez. Depois é apresentada de novo e o público pode interrompê-la – dar sugestões, dialogar com os atores e decidir um outro rumo a dar à história, concretizado ali mesmo, de imediato, com a própria pessoa do público a ir substituir um dos atores.
Segue as técnicas do “Teatro do Oprimido”, que tem sempre lugar no programa do Mexe. Neste tipo teatral, inventado pelo brasileiro Augusto Boal, encenam-se situações reais, quase sempre familiares aos atores, como uma forma de dotar, tanto participantes como assistência, de ferramentas para agir.
Neste artigo, falámos-te apenas de uma parte do programa. Há, também, exposições (como a do fotojornalista Paulo Pimenta que, através das suas imagens, nos deixa ver o trabalho desenvolvido pela PELE em três estabelecimentos prisionais, usando a arte para promover a inclusão), documentários (sobre experiências de teatro comunitário em Portugal, no Brasil, na Argentina), um baile com orquestras comunitárias e um Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas de Arte Comunitária.
O melhor mesmo é espreitares o programa completo aqui.