Terminou a fuga do mafioso mais procurado de Itália
Matteo Messina Denaro, o chefe da “Cosa Nostra” tem 60 anos e estava fugido há 30.
“Com as pessoas que matei, podia fazer um cemitério”. Esta é uma frase que o jornal italiano Corriere della Sera atribui ao homem que foi, até ao dia 16 de janeiro, o mais procurado de Itália.
Aquela afirmação já deixa entender porque Matteo Messina Denaro era, para a polícia italiana, o criminoso número um a encontrar. Matou a primeira pessoa com apenas 18 anos e, a partir de então, a lista de homicídios e atentados, que o tem como autor ou mandante, não parou de crescer.
As vítimas mortais (calcula-se que sejam perto de 50) têm idades várias, vão de crianças a juízes e alguns dos crimes têm contornos cruéis, dignos dos piores filmes de terror. A operação policial que terminou com a detenção de Denaro foi batizada “Tramonto” (pôr-do-sol em italiano), o nome de um poema escrito por uma criança de apenas seis anos que morreu num atentado levado a cabo por Denaro.
“Uma pessoa educada”…
A detenção do “capo” (palavra italiana para “chefe”) da “Cosa Nostra” ocorreu numa clínica de Palermo (a capital da Sicília, aquela ilha-triângulo junto à ponta da bota que o mapa de Itália desenha), onde o mafioso estava a fazer tratamento de quimioterapia a um tumor.
Denaro usava um cartão de cidadão falsificado, com o nome de um amigo de infância seu, em nome de quem também estava a casa onde habitava.
O esconderijo deste fugitivo profissional, de esconderijo tinha afinal muito pouco. Vivia numa localidade de dez mil habitantes, Campobello di Mazara, bem próxima da aldeia onde nasceu, cresceu e vive a sua família. Os habitantes da aldeia disseram conhecê-lo apenas pela identidade falsificada. Para eles, a detenção foi, por isso, absoluta surpresa. Aos meios de comunicação, descreveram mesmo o criminoso como sendo “uma pessoa educada”.
Combate à máfia: uma luta sem fim
Aos 60 anos, o mafioso cujo nome toda Itália conhece, soube finalmente o que é uma cela. Foi levado para uma prisão de alta segurança, enquanto a polícia segue no encalço de todos aqueles que permitiram a Denaro manter-se tanto tempo afastado da justiça.
A detenção de Denaro é uma vitória importante no combate que a justiça italiana trava há décadas para pôr fim à máfia. Esta organização criminosa tem mais de um século de existência e origem em várias regiões do sul de Itália. Com o tempo, foi-se espalhando também ao resto do país e até a algumas partes do mundo.
O nome dado à mafia italiana varia conforma as regiões. “Cosa Nostra” (Sicília), “Camorra” (Campania) ou “‘Ndrangheta” (Calábria) são todos sinónimos de máfia. E máfia é sinónimo de atividade criminosa ao mais alto nível, cometida com o objetivo de ganhar dinheiro de forma ilegal – seja através de tráfico de droga, armas ou até de pessoas, seja através da cobrança do chamado “pizzo”.
Saviano, um jornalista ameaçado de morte
O “pizzo” é uma espécie de contribuição que os mafiosos obrigam os comerciantes da zona onde a organização criminal está implantada a pagar-lhes mensalmente em troca de proteção. “Em troca” é uma forma eufemística de dizer. Mais do que troca, o “pizzo” acaba por ser uma imposição, já que os comerciantes têm pouca capacidade de escolha. Nos locais onde a máfia é mais ativa, negar-se a pagar esta contribuição pode significar ficar com o negócio e mesmo com a vida arruinada.
Se o tema da máfia te interessa, aconselhamos-te a leitura do livro “Gomorra” de Roberto Saviano, que se tornou num bestseller mundial. Depois de, em 2006, lançar esta obra, onde descreve e denuncia as atividades da máfia na cidade de Nápoles, o jornalista italiano não pôde deixar de ter escolta policial, pois é constantemente ameaçado de morte.
Fotos: Polizia di Stato; Wikimedia Commons