As dicas do Pedro Agricultor para Dezembro

“Em Dezembro descansa mas não durmas”. Há pequenas coisas que podes fazer quando o tempo permite e muito para aprender. Este mês falamos-te de consociações.

Por Pedro Rocha (pedroagricultorurbano@gmail.com)*

O frio faz encolher a vontade de sair para o campo, mas mesmo assim é possível encontrar um dia ou outro com bom tempo para ires fazendo algum trabalho e cuidares de alguns pormenores na horta.

Foi exatamente esse o caso, do primeiro dia de Dezembro. Aproveitei o dia para podar as framboesas, as roseiras e os limonetes. Aproveita tu também os dias bons até ao Natal. Podes dar à terra algum fertilizante orgânico para que tenha tempo de se decompor antes da primavera e, assim, os nutrientes estarem disponíveis para as plantações no início da época.

As ervas daninhas que arrancares deves colocar no compostor, juntamente com outros verdes retirados das podas. Vai começando, ainda, a cuidar das árvores se estiverem já sem folha e não esqueças que esta é a melhor época do ano para plantares novas árvores.

Nas últimas dicas (podes consultá-las todas na secção de Ambiente aqui no Jornalíssimo) escrevi um pouco sobre as causas do aumento de pragas e por isso é cada vez mais importante fazer agricultura biológica, promovendo uma maior biodiversidade no campo, como forma de criar modelos agrícolas mais equilibrados e sustentáveis. Uma das formas de o fazer é consorciar plantas. Isto é, combinar a plantação de plantas de diferentes espécies, fazendo que plantas de diferentes características beneficiem da vizinhança de outras plantas.

MÃOS À HORTA

Se achas que as mãos na horta ficam demasiado frias nesta altura do ano, podes sempre optar por aprender um pouco sobre consociações e descobrir como tirar partido no próximo ano desta técnica.

As consociações são uma prática milenar, basta recordar a consociação do milho, feijão e abóbora. O milho serve de tutor ao feijão, o feijão absorve azoto atmosférico, que fica disponível para as outras plantas e as abóboras criam uma boa cobertura de solo que impede as ervas daninhas de avançarem.

Recorda-te, ainda, que nos sistemas com maior biodiversidade existem menos problemas com pragas e doenças, porque tudo está em equilíbrio. É precisamente esse equilíbrio que deves procurar promover na tua horta. Podes encontrar na Internet várias tabelas que te ajudam a perceber quais as plantas que gostam e beneficiam da companhia umas das outras.

A vizinhança de uma determinada planta pode beneficiar outra, por diversas razões:

Atrair
Uma das plantas atrai insetos predadores que controlam uma determinada praga. É o caso dos Coentros, Milefólio e Dente de Leão, que atraem joaninhas predadoras de piolho.

Detetar
A Beringela plantada na proximidade da Batata funciona como detetor do escaravelho da batata, uma vez que este demonstra preferência pela Beringela. Desta forma podemos controlar a praga de escaravelho antes de se tornar um problema.

Repelir
Muitas aromáticas são também usadas na vizinhança de outras plantas pelo seu efeito repelente. Uma das plantas mais conhecidas pelo seu efeito repelente é a arruda. Mas muitas das aromáticas têm essa característica, como acontece no caso da consociação do manjericão com o tomate.

Para além disso, existem outras consociações que podem ser complementares, pelo facto de as plantas beneficiarem da vizinhança no seu crescimento.

Como vês, o tema poderá ocupar uma boa parte do teu Inverno, ou não existissem centenas de possibilidades para consociação de plantas. Basta verificares na Internet os inúmeros quadros e tabelas que existem.

O “FAMOSO” DE NOVEMBRO: ERVILHAS

Bilhete de Identidade

Família: Fabaceae
Género: Pisum
Espécie: Pisum sativum L.

Origem e história

Conjuntamente com a lentilha, o grão-de-bico, o trigo e a cevada, a ervilha foi das primeiras plantas a serem domesticadas no Crescente Fértil, onde se julga ter começado a ser cultivada há 9000 anos. A ervilha acompanhou assim a disseminação da agricultura desde o início, pela Europa e também para a Ásia Central e Oriental.

A Cultura das Ervilhas

A ervilha prefere climas frescos, mas não demasiado frios, por isso se a tua horta tiver um clima temperado, agora é uma boa altura para semear ervilha. A cultura adapta-se bem a diferentes tipos de solo, desde que sejam bem drenados. Lembra-te que a ervilha é extremamente sensível à hipoxia (asfixia da planta por excesso de água, não permitindo que as raízes respirem).

Instala sementes a dois ou três centímetros de profundidade, em linha e com espaçamento, também, de três a cinco centímetros na linha. E não esqueças que a ervilha irá precisar de um sistema de tutoragem para trepar.

Tens dúvidas?

Podes escrever ao Pedro Agricultor para o endereço eletrónico que está no início deste artigo, indicando o nome e o local de onde escreves. Todos os meses, ele vai responder a duas ou três questões colocadas pelos leitores.
Se quiseres ouvir a versão radiofónica de “As Dicas do Pedro Agricultor para Novembro”, ouve esta noite (7 de dezembro) o programa “O Som é a Enxada”, da Rádio Manobras, às 22 horas, ou visita o blogue do programa, onde encontras todas as emissões passadas.

(*) Pedro Rocha nasceu em Espinho em 1976 e cresceu entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo. Em 2000 concluiu o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de ‘South Wales’, no Reino Unido e, no mesmo ano, iniciou a atividade profissional na consultora alemã ‘Hydroplan GmbH’, sendo consultor no projeto de desenvolvimento rural em Cabo Verde. Em 2005 começou o projeto de agricultura biológica Raízes, do qual ainda é sócio. Desde 2014 que se dedica à prestação serviços como agricultor urbano e consultor, promovendo novos conceitos de relação entre consumidores e produtor.

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