A pobreza aumentou no mundo. Há 25 anos que isso não acontecia
Segundo um estudo apresentado em Davos, a desigualdade entre ricos e pobres não pára de crescer.
Começou esta semana em Davos, na Suíça, o Fórum Económico Mundial 2023 (World Economic Forum). Todos os anos, reúnem-se nesta cidade, que é também uma importante estância de esqui alpina, representantes das principais economias do mundo: chefes de Estado, líderes de empresas de topo, mas também membros da sociedade civil e líderes juvenis de várias partes do globo.
O objetivo do Fórum de Davos é, através de uma cooperação entre entidades públicas e privadas, discutir e impulsionar o futuro da economia global, evitando uma recessão/crise económica generalizada. Para tal, ao longo de cinco dias, têm lugar inúmeras reuniões, conferências e debates.
Guerra, inflação, alterações climáticas
Aproveitando a projeção que o evento tem a nível global, Davos torna-se também, por estes dias, palco de inúmeras manifestações de ativistas que tentam chamar a atenção para consequências negativas do crescimento económico.
O encontro de Davos é sempre um momento em que se discutem os grandes desafios que o mundo enfrenta a cada ano, dado o impacto que têm na economia. Sob o tema “Cooperação num mundo fragmentado”, nesta edição de 2023 do Fórum são várias as questões em cima da mesa: o fim da pandemia e a reabertura ao exterior de uma das maiores economias mundiais, a China; a guerra na Ucrânia, bem commo a inflação e a crise energética a nível global que ela originou; as alterações climáticas e a desigualdade crescente entre ricos e pobres.
“A lei do mais rico”
É sobre o aumento das desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres que fala o relatório apresentado pela Oxfam (uma organização humanitária internacional que se dedica à luta contra a pobreza) no primeiro dia do Fórum.
Intitulado “A lei do mais rico”, o relatório revela que o 1% mais rico da população mundial ficou com 63% (ou seja, quase dois quartos) da riqueza gerada entre o final de 2019 e o final de 2021. Esse valor está estimado em 42 triliões de dólares. Por outras palavras: o 1% dos homens e das mulheres mais ricas do planeta recebeu quase o dobro do valor com que ficaram os restantes 99% da população.
Talvez a diferença fique mais clara se olharmos para números mais pequenos e na moeda a que estamos habituados. Se tomarmos como exemplo €1000 de riqueza conseguida, o estudo da Oxfam mostra que €630 se destinaram a um por cento da população e apenas €370 aos restantes 99%.
Maiores lucros nos setores da energia e alimentação
Estes dados revelam que, enquanto a maioria da população sofreu e sofre em termos económicos com as consequências da Covid e da subida da inflação, há uma percentagem ínfima de pessoas que beneficia deste contexto.
Prova disso é que se, em vez de tomarmos em linha de conta, o período entre entre o final de 2019 e 2021, olharmos para a última década, vemos que o 1% mais rico ficou com 50% de toda a riqueza. Ora, nestes últimos anos, esse patamar (que já era enorme) não apenas não baixou, como foi mesmo ultrapassado.
Os maiores lucros foram registados no setor alimentar e energético: a análise realizada pela Oxfam nota que “95 grandes empresas de energia e alimentação mais do que duplicaram os seus benefícios em 2022”.
Pobres cada vez mais pobres
O relatória da organização sublinha a ironia, ao escrever que, em contraponto, “pelo menos 1700 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo vivem em países onde o crescimento da inflação subiu acima dos seus salários e mais de 820 milhões de pessoas em todo o mundo (aproximadamente uma em cada dez passm fome)”.
O estudo da Oxfam denuncia, ainda, que o oposto também se verificou: ao mesmo tempo que os ricos foram ficando cada vez mais ricos, os pobres tornaram-se cada vez mais pobres. Os dados apresentados revelam mesmo um retrocesso civilizacional: em 25 anos é a primeira vez que a pobreza no mundo regista um aumento.
Como se altera esta situação?
A Oxfam considera que a solução para que o mundo consiga ser um lugar mais igualitário em termos económicos passa por aumentar as taxas cobradas às pessoas mais ricas e às grandes empresas.
Um imposto sobre a riqueza de até 5% sobre as fortunas de multimilionários e milionários, estima ainda a Oxfam, “seria o suficiente para que dois milhões de pessoas pudessem sair da pobreza”.
Foto: Marko Milivojevic/Pixnio