Marcelo Rebelo de Sousa reeleito Presidente da República
Com mais de 2,5 milhões de votos, Marcelo venceu em todos os concelhos do país.
É um feito que nenhum Presidente da República (PR) de Portugal tinha conseguido ainda alcançar: na sua recandidatura à Presidência da República, em 2021, Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu vencer em todos os 308 concelhos do país. Nem mesmo Mário Soares – até hoje o PR eleito com maior percentagem (70,4% em 1991) e com maior número de votos (quase 3,5 milhões, nesse mesmo ano) – o tinha conseguido.
Aos 72 anos, o antigo Professor de Direito e comentador televisivo, reuniu ontem a preferência da maioria dos portugueses ao conseguir 60,7% dos votos dos eleitores, evitando assim uma segunda volta nestas Presidenciais. Tanto em termos percentuais como absolutos, o Chefe de Estado sobe: nas Presidenciais de 2016, Marcelo tinha conseguido 52% e, neste escrutínio, somou mais 122 187 votos do que aqueles que teve há cinco anos.
A vitória de Marcelo à primeira volta era quase certa (as sondagens apontavam nessa direção), já o lugar que conseguiria alcançar o candidato do Partido Chega, André Ventura, conotado com a Extrema-Direita e um assumido apoiante do presidente norte-americano Donald Trump, levantava dúvidas. Muitas das atenções dos portugueses e mesmo de outros países estavam centradas aí.
O fim da “exceção” portuguesa?
Portugal tem-se distinguido na Europa por ser um dos poucos países a conseguir travar o avanço dos partidos que representam uma direita mais radical, que André Ventura representa e que pode constituir uma ameaça aos sistemas democráticos.
Ventura ficou aquém do objetivo que tinha estabelecido para estas eleições: alcançar a segunda posição. Na verdade, ainda que a curta distância do segundo lugar, André Ventura ficou em terceiro lugar e os seus votos corresponderam a 11,90% do total. Ainda assim, os votos que conquistou levaram vários jornais internacionais a assinalar a subida da Extrema-Direita em Portugal. Ettore Livini escreveu no italiano La Repubblica que Ventura tinha conseguido finalmente “plantar a bandeira do populismo” em Portugal, Cecília Ballesteros defendeu no diário espanhol El País que o “excecionalismo português” quanto à extrema-direita tinha terminado.
Ana Gomes, a eurodeputada socialista que concorreu a estas eleições sem o apoio do seu partido, o Partido Socialista, mas com o apoio dos partidos PAN (Pessoas, Animais e Natureza) e Livre, conseguiu o segundo lugar com 12, 97% dos votos (correspondem a quase mais 45 mil votos do que os reunidos pelo candidato do Chega).
Os restantes quatro candidatos não conseguiram ir além dos 5%: João Ferreira, do Partido Comunista Português, ficou em 4º lugar (4,32%), Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, em 5º (3,95%), Tiago Mayan Gonçalves, da Iniciativa Liberal, em 6º (3,22%) e, em último, ficou Vitorino Silva (2,94%), conhecido como “Tino de Rans”, que concorria sem o apoio de nenhum partido.
Meio século do 25 de Abril no horizonte
A par com Marcelo, a abstenção conseguiu, também, um número elevado (o mais elevado de sempre neste tipo de eleições), com 60,51% dos inscritos (mais de 10 milhões e meio de portugueses, residentes no país e no estrangeiro) a não irem às urnas (a percentagem desce um pouco se atentarmos apenas nos dados de quem vota em Portugal: 54,55%). Muitos não o terão feito por vontade, mas alguns estavam impedidos de fazê-lo por estarem infetados ou em isolamento profilático devido à Covid-19.
No discurso de vitória que proferiu na Faculdade de Direito em Lisboa, o “Presidente dos afetos” e das selfies, como é conhecido, dirigiu as primeiras palavras às vítimas mortais diretas e indiretas da Covid-19 e aos seus familiares. No dia anterior, sábado 23, Portugal registou o maior número de mortes num só dia devido à pandemia (275) e, nesta semana, Portugal liderou a nível mundial pelas piores razões – foi o país que registou o maior número de contágios e de mortes pela doença. Não estranha, portanto, que Marcelo tenha afirmado ter como prioridade conter e abreviar a pandemia.
Sem referir o nome de André Ventura, Marcelo parece ter falado indiretamente para o candidato e para o que ele representa ao afirmar que, nas urnas, ao escolherem-no como Presidente, os portugueses manifestaram claramente a sua vontade em viver numa “democracia que respeite a Constituição, uma democracia democrática, não uma democracia iliberal, ou seja, antidemocrática”. Marcelo comprometeu-se, ainda, a trabalhar para “fazer esquecer as xenofobias, as exclusões, os medos instalados”, sem esquecer que faltam três anos para se comemorar os 50 anos do 25 de Abril.