O que acontece ao organismo quando bebemos álcool?

Não, não nos referimos à euforia, à desinibição ou à ressaca, mas aos processos que estão por trás delas. A propósito da nova lei do álcool.

Uma pergunta para começar: qual é o principal ponto de passagem do etanol (álcool) para o sangue? Se disseste boca está incorreto, se disseste estômago também.

É verdade que o organismo vai absorvendo as moléculas de etanol logo que damos um gole – algumas pelas mucosas da boca e do esófago, outras pelas paredes do estômago -, mas a grande percentagem (75%) entra no sangue através do intestino delgado.

Chegado aí, a distribuição do álcool pelo corpo é rápida: num instante as moléculas de etanol viajam pela corrente sanguínea e atingem órgãos como o fígado, os rins, os pulmões ou o cérebro. São estes as principais vítimas.

FÍGADO E RINS: SOCOOORROOOOO!

Como o corpo não pode armazenar o álcool, o fígado vai ter de trabalhar para o metabolizar e, assim, conseguir eliminá-lo. Mas esta espécie de filtro do nosso organismo tem limites: só consegue metabolizar uma determina quantidade de álcool de cada vez.

Por isso, quanto mais álcool ingerirmos, mais tempo o fígado vai demorar a processá-lo. O tempo depende de fatores vários, mas uma bebida alcoólica pode levar três horas a ser eliminada. E não há nenhuma poção mágica que faça acelerar o processo.

Outro órgão a que o álcool vai complicar a vida são os rins, que filtram o nosso sangue e trabalham para manter constante o volume de água no organismo. Enquanto os nutrientes bons são reabsorvidos para o sangue, os maus (e, sim, o álcool é um deles) são eliminados via urina.

QUE VONTADE DE FAZER XIXI…

Uma boa parte dos sintomas pouco agradáveis que temos na ressaca (desidratação, sede, dor de cabeça, enjoo) devem-se ao que se passa nestes órgãos em forma de feijão. O álcool baralha-os por completo. Ao ser um diurético, o álcool leva os rins a produzir muita urina, daí a constante de fazer xixi.

Ao beber álcool, o corpo vai acabar por perder muita água (e também sais minerais, como o potássio e o sódio), desidratar e lá vem uma sede imensa. Como se não bastasse, ao desidratar o corpo, as moléculas de etanol diminuem a coagulação do sangue. Consequência: o fluxo sanguíneo no cérebro abranda, os vasos sanguíneos dilatam-se e as dores de cabeça aparecem.

Sem surpresas, os pulmões também dão uma ajuda na difícil tarefa que parece ser libertar o organismo do álcool (o hálito de uma pessoa que bebeu álcool é inconfundível…): cerca de 5% é eliminado pela respiração   Falta falar do cérebro, fortemente atingido pelas bebidas alcoólicas e o principal responsável pelas mudanças de comportamento – primeiro estimulantes (a alegria inicial, a desinibição), depois depressores (o descontrole, a falta de coordenação motora e de autocontrole).

OPS… ESQUECI-ME!

A euforia dá-se porque, ao chegar ao cérebro, o etanol origina uma produção extra de serotonina (um neurotransmissor que regula o prazer e o humor). Mas essa é apenas uma das várias consequências do álcool no cérebro. As outras são pouco agradáveis e podem deixar graves lesões.

Na realidade não há nenhuma parte do cérebro que escape à ação nociva do álcool: com o impacto no córtex cerebral, ficamos mais lentos a processar a informação que nos chega através dos sentidos e pensamos com menos clareza; as emoções ao rubro e o esquecimento são efeitos provocados pela “interferência” com o sistema límbico. Por fim, a descoordenação e os desequilíbrios tão caraterísticos de quem bebe traduzem a resposta do cerebelo ao etanol.

DESENVOLVIMENTO INTERROMPIDO

O facto de muitos países proibirem a venda e o consumo de álcool por menores de 18 anos relaciona-se, em grande parte, com o cérebro. Basicamente, o cérebro de um jovem está em desenvolvimento, encontra-se ainda em construção, o que o torna mais vulnerável aos efeitos nocivos da bebida. O pensamento abstrato, a capacidade de aprendizagem, a memória e a concentração podem ser duramente afetadas.

Além disso, há estudos que mostram que a probabilidade de criar dependência de bebidas alcoólicas aumenta quando o seu consumo se inicia cedo.

Foi nesses estudos que assentou a nova lei do álcool em Portugal, que entrou em vigor hoje, 1 de julho, e proibe quer a venda a jovens, quer o consumo por parte destes de bebidas alcoólicas.

Neste excerto, em castelhano, do vídeo da ‘National Geographic’, “Viagem ao interior do Corpo Humano”, podes assistir aos efeitos do álcool no organismo.

Deixa o teu comentário.

O teu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *