Por que se soltam os cordões das sapatilhas?
Há uma explicação científica para os atacadores se desatarem sozinhos quando corremos.
Quantas vezes já apertaste os atacadores bem apertados e uns minutos depois já estavam eles soltos outra vez? É possível que nunca tenhas pensado muito no assunto, mas os cientistas estão sempre a fazer perguntas e a tentar encontrar respostas para elas.
Este facto – que ao comum dos mortais deixa quando muito soltar um “foge, outra vez!” – suscitou a curiosidade de dois estudantes de doutoramento (Christine Gregg e Christopher Daily-Diamond) em engenharia mecânica da Universidade de Berkeley, na Califórnia, que decidiram estudar a razão por detrás da facilidade com que os nós dos cordões das sapatilhas se soltam.
Uns parênteses: a Física e o conhecimento sobre o movimento e os materiais são fundamentais, em engenharia mecânica, para ajudar a projetar e desenvolver novos dispositivos.
O estudo valeu a pena, já que permitiu dar uma resposta para este enigma e pode ter um alcance bem maior do que à primeira vista parece. Além de que ajuda qualquer pessoa a reavivar alguns conceitos fundamentais de Física, como as Leis de Newton.
Um dos métodos utilizados pelos cientistas para chegarem à resposta foi o recurso à visualização de sequências de imagens em câmara lenta de uma das investigadoras a correr de sapatilhas em cima de um tapete rolante.
E câmara lenta aqui significa mesmo muito lenta: 900 ‘frames’ por segundo (as câmaras normais filmam apenas cerca de 30 ‘frames’ por segundo e o olho humano não é capaz de observar com tanto detalhe sem a ajuda de tecnologias).
Os cientistas perceberam que os nós se desatam devido à interação de várias forças.
Por um lado, o impacto repetido das sapatilhas no solo, quando andamos ou corremos, faz com que o nó primeiro estique e logo depois enfraqueça. O estudo permitiu descobrir que ao correr o pé bate no chão a uma força sete vezes superior à da gravidade.
Esta força combina-se com outra – aquela provocada pelo movimento da perna para trás e para a frente -, que vai atuar nas extremidades dos cordões. O movimento chicoteado das pontas dos atacadores vai exercer sobre elas uma força de inércia.
Digamos que estes movimentos combinados induzem o mesmo tipo de movimento rápido que fazemos com as mãos quando puxamos pelas extremidades dos atacadores para desfazer o nó.
É verdade que há materiais de cordões mais eficazes do que outros, mas os cientistas, que testaram vários materiais, concluíram que ao fim de algum tempo todos se soltavam (naturalmente soltam-se mais rapidamente quando a pessoa corre do que quando caminha, já que o impacto do pé no solo é maior durante a corrida).
O mesmo em acontece em relação aos tipos de nós. Na imagem acima, retirada do estudo, podes ver entre os dois nós de atacadores mais comuns qual é o mais resistente.
O estudo foi publicado recentemente na revista ‘Proceedings of the Royal Society A’ e o alcance desta investigação pode ser maior do que à partida possas pensar. Os responsáveis pelo estudo julgam que o conhecimento obtido pode aplicar-se a outras microestruturas ou estruturas, como o ADN, que falham quando submetidas a forças dinâmicas. E pode também ser útil na medicina, ajudando a perceber como se desfazem os pontos de uma ferida.
FONTES: Royal Society Publishing, BBc, Science News for Students