São gémeos, um foi para o Espaço, o outro ficou em Terra
E permitiram à NASA uma experiência única, da qual começam a ser conhecidos os primeiros resultados.
O que acontece ao corpo humano quando permanece um longo período no Espaço? É a esta questão que a NASA e um conjunto de dez cientistas estão a tentar dar resposta graças à existência dos dois astronautas gémeos, Scott e Mark Kelly.
Há dois anos, falámos-te aqui no Jornalíssimo desta experiência inédita com estes gémeos geneticamente idênticos e percursos de vida semelhantes, quando ela ainda se ia realizar.
Entretanto, o gémeo Scott já foi e já veio do Espaço, onde esteve 340 dias (durante os quais deu 5440 voltas à Terra), o maior tempo de permanência já registado por um astronauta norte-americano.
Mark, o irmão, que também é astronauta (hoje reformado), ficou em terra e permitiu ser o que na ciência é conhecido por “grupo de controlo”.
A avaliação dos dois irmãos – que antes, durante e depois da missão de Scott na Estação espacial Internacional (ISS), foram submetidos a um grande conjunto de testes médicos – permite, agora, aos cientistas estudar de uma forma muito mais aprofundada, e por comparação, os efeitos de fatores como a exposição prolongada a radiações e a um ambiente de ausência de gravidade.
Os dados poderão ser preciosos para manter os astronautas saudáveis em missões longas. E a NASA está a pensar numa específica: o envio de pessoas para Marte.
Houve alterações que foram conhecidas logo no regresso de Scott da ISS, há cerca de um ano, já que eram facilmente visíveis. Ao chegar, Scott estava mais alto 3,81 centímetros do que o irmão que não tirou os pés do chão. Mas não vale a pena pensares em ser astronauta para ganhar uns centímetros: a gravidade devolveu a Scott a medida que tinha antes de partir.
Se a altura é um dado de fácil análise, o mesmo não se pode dizer das restantes variáveis desta experiência, a primeira da NASA a integrar técnicas de biologia molecular, que permitem ir além no conhecimento das consequências já conhecidas de um ambiente de microgravidade para o corpo humano (a perda de massa muscular e de densidade óssea por exemplo).
Os investigadores vão precisar ainda de alguns anos para analisarem toda a informação e amostras (de sangue e de outros indicadores biológicos) que recolheram.
No entanto, foram divulgados há dias alguns resultados preliminares. E transmitem já uma certeza: os gémeos não são tão iguais quanto eram antes da partida de Scott para o Espaço.
Uma das diferenças prende-se com os telómeros (as extremidades dos cromossomas), associados à longevidade – os telómeros tendem a ser mais curtos à medida que envelhecemos. Os de Scott cresceram durante a sua permanência no Espaço, tornando-se mais compridos do que os do irmão. Embora, depois de regressar, tenham retomado os níveis anteriores à partida.
Susan Bailey, uma das cientistas envolvidas no estudo, mostrou-se surpreendida com a descoberta: “Isto é exatamente o oposto do que pensávamos”, observou e disse que mais estudos vão ser feitos para perceber o porquê deste efeito.
A diminuição dos telómeros que se pensava ocorrer nos astronautas era um ponto importante, pois uma aceleração da sua erosão poderia traduzir-se em problemas de saúde durante missões prolongadas.
Os investigadores notaram também mudanças na expressão genética dos gémeos, mas sobre este ponto também ainda não estão em condições de explicar bem o seu significado, o que nos aguça ainda mais a curiosidade sobre os resultados deste estudo inédito.
Se quiseres saber mais pormenores sobre estes resultados preliminares, consulta o artigo publicado na revista Nature e a página da NASA dedicada à experiência.