A Torre de Pisa está menos inclinada
Todos os anos, a saúde do campanário mais surpreendente do mundo é avaliada.
Poderia ser só mais uma torre das muitas que há em Itália. Não é. A Torre de Pisa é especial porque é diferente. E, sendo diferente, mostra ao mundo que ser diferente não é mau. Até pode ser bom.
Neste caso, a diferença do “Campanile”, como também é conhecida a Torre (dado ser o campanário da vizinha catedral de Pisa), vem da inclinação. É esse ar de edifício prestes a cair a qualquer momento que faz dele um dos monumentos mais visitados de Itália.
E, claro, um dos mais fotografados: poucos são aqueles que resistem a criar com a câmara do telemóvel a ilusão de que a estão a segurar a Torre com a mão.
Exames de rotina
É também a inclinação pronunciada da Torre de Pisa que a obriga, ano após ano, a ser alvo de uma rigorosa inspeção, de modo a avaliar o seu estado de “saúde”.
O porta-voz da equipa responsável por essa operação, a Opera Primaziale della Pisana, afirmou recentemente a uma agência de notícias internacional, a ANSA, que “considerando que é um paciente de 850 anos com uma inclinação de cerca de cinco metros e um afundamento de mais de três metros, o estado de saúde da Torre Inclinada de Pisa é excelente”.
O “paciente” a que o porta-voz se refere é, como se imagina, a Torre de Pisa, que começou a ser construída no século XII, mas só ficou concluída muitas décadas mais tarde, dado os problemas que a sua edificação desde cedo colocou.
A primeira vez
Passados cinco anos da colocação da primeira pedra, a torre inclinou-se pela primeira vez. A culpa é do solo onde ela está implantada. Sendo macio, não permitiu que as fundações suportassem a torre como era suposto e um dos lados cedeu quando ela tinha quatro andares apenas.
O percalço inicial não impediu, contudo, que a obra alcançasse os 56 metros de altura previstos. Com o passar dos séculos a situação foi-se agravando e, de 1990 a 2001, a ameaça de queda foi levada bem a sério.
Durante esse período, a torre fechou e teve lugar uma grande obra para garantir a consolidação da estrutura. Segundo o site da Câmara Municipal de Pisa, cientistas e engenheiros de todo o mundo estiveram envolvidos no processo. A intervenção foi grandiosa: implicou a extração de argila e areia do solo do lado menos inclinado da torre com a ajuda de contrapesos de chumbo e cabos de aço.
“Erros necessários”
O resultado valeu a pena: reduziu-se em cerca de meio metro a inclinação, conseguindo-se que a torre voltasse à inclinação que tinha no século XVIII.
Vinte e um anos após o fim da intervenção, o exame anual, realizado há poucas semanas, volta a confirmar o sucesso da empreitada: a inclinação da torre continua, aos poucos, a ser revertida: perdeu mais quatro centímetros desde 2001, o que é mais do que os especialistas esperavam.
Há engenheiros que acreditam ser possível, com o tempo, que a torre venha a ficar na posição vertical. Esse é um desejo que, por razões várias, poucos devem alimentar. Com a Torre direita será que haveria tantos turistas a visitar Pisa? A resposta parece óbvia… Além disso, se a inclinação da torre desaparecesse ficaria sem sentido a frase que um dia o escritor italiano Gianni Rodari escreveu. Nela recorda que “os erros são necessários, úteis como o pão e muitas vezes também belos: por exe mplo, a Torre de Pisa”.
Foto: Wikimedia Commons; Justin Ennis/Flickr/Creative Commons