A Criação da NATO no rescaldo da II Guerra Mundial

Neste artigo explicamos-te o contexto que motivou, há precisamente 70 anos, em abril de 1949, a fundação do Tratado do Atlântico Norte.

Por António Paulo Duarte*

NATO significa “North Atlantic Treaty Organization”. Durante várias décadas, em Portugal, usava-se o acrónimo OTAN, retirado do francês, mais adaptado à língua portuguesa. OTAN significava “Organização do Tratado do Atlântico Norte”. Esta organização internacional também é conhecida por Tratado do Atlântico Norte. Foi criada em 4 de abril de 1949 por um conjunto de Estados da Europa ocidental, os Estados Unidos da América e o Canadá, para responder a um contexto estratégico resultante do rescaldo da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Com efeito, o resultado da 2ª Guerra Mundial e o esmagamento da Alemanha Nazi derivou de uma aliança entre um conjunto de grandes Estados que se autodenominavam de democracias – essencialmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da América (EUA) – com um outro país que se via como sendo socialista – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Este bloco começou a dividir-se pouco depois da 2ª Guerra Mundial mas essa fratura inscrevia-se, na realidade, desde a instauração, em 1917, do regime socialista no Império Russo durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), e que levara à intervenção das grandes potências ocidentais e do Japão na Rússia, apoiando os exércitos contrarrevolucionários russos e ocupando por algum tempo algumas posições chave nas costas russas. Com o triunfo dos sovietes na Guerra Civil Russa (1917-1922) e o termo da Guerra Russo-Polaca de 1919-1921 – correlacionada com o primeiro conflito, opôs uma Polónia recém-independente à Rússia dos sovietes e saldou-se pela edificação de uma fronteira comum reconhecida por ambas as partes -, o ocidente desenvolveu uma política de quarentena relativamente à União Soviética com vista a conter dentro das suas fronteiras o que se olhava como o vírus comunista e revolucionário.


Truman assinando o Tratado do Atlântico Norte.

Durante os anos 20 e 30, para o ocidente, nomeadamente para as democracias da Grã-Bretanha e da França, a ameaça comunista era mais relevante que o perigo dos “fascismos” em ascensão. Exemplo notável dessa postura, seria a forma como a Grã-Bretanha e a França se posicionariam durante a Guerra Civil Espanhola, mais preocupadas com a expansão do comunismo, que supostamente se impregnava nas hostes da República, do que com o “franquismo”, a despeito do apoio, obviamente preocupante, mas não tanto assim, que este recebia do Eixo Berlim-Roma.

O inimigo do meu inimigo é meu amigo. Este mote explica o que se passou depois de 22 de junho de 1941, durante a 2ª Guerra Mundial. Com a invasão da URSS pela Alemanha Nazi, a Grã-Bretanha decidiu aliar-se à União Soviética, numa aliança antinazi, que perduraria até 1945, não sem que, quando a contenda parecia já decidida, se começassem a notar entre estes aliados, fricções agudas. O caso mais notório deu-se com a questão polaca, a partir de 1943. O caso de Katyn (o massacre pela NKVD, a polícia política soviética, de mais de 4000 oficiais polacos) tinha ensombrado as relações entre o governo polaco no exílio em Londres e o governo soviético. Moscovo acabaria por não reconhecer este governo como legítimo representante da Polónia e apoiou o Comité de Lublin como o verdadeiro governo polaco. A governação comunista na Polónia tornou-se inevitável porquanto foram tropas soviéticas que libertaram a Polónia do jugo Nazi.

A questão polaca é um espelho do que sucedeu após 1945. As forças militares soviéticas tinham libertado da Alemanha Nazi grande parte da Europa central, ou seja, uma série de países que se situavam a Leste do rio Elba, na Alemanha: Polónia, Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária. Em todos eles, em breve, de uma forma ou outra, se foram instituindo regimes socialistas suportados pela União Soviética. Adicionalmente, a Grécia viu-se envolvida numa guerra civil (1946-1949) que opôs os comunistas aos conservadores, conflito muito virulento, que estes últimos acabariam por vencer, e em que foram robustamente apoiados pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos da América. Por fim, no final da década de 40, a França e a Itália tinham nos partidos comunistas as mais poderosas forças políticas, a que só coligações de partidos de esquerda moderada, centro-direita e direita conseguiam fazer face. Parecia que a revolução iria em breve conquistar toda a Europa.

É neste quadro geopolítico e geoestratégico que um conjunto de países do ocidente, sobre liderança dos Estados Unidos da América fundam a OTAN. Esta não vem sozinha. A fundação da OTAN foi acompanhada do Plano Marshall, um plano norte-americano que de 1948 a 1951 financiou maciçamente a economia da Europa ocidental. A primeira assegurava a defesa militar da Europa contra uma investida da URSS ou um outro qualquer processo de subversão revolucionária intestina (e todos olhavam para a França e a Itália). A segunda garantiria a muito curto prazo a prosperidade que impeliria a revolução comunista promovida pela União Soviética e pelos outros Estados comunistas para longe do ocidente da Europa.   

(*) Assessor e Investigador – Instituto da Defesa Nacional. Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo Seixas, Ricardo Castro e Susana Domingues.

IMAGENS:

1) Mapa – Entrada na organização dos diversos membros da NATO | Wikimedia Commons. Patrick neil, based off of Image:EU1976-1995.svg by glentamara – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4794601

2) Truman assinando o Tratado do Atlântico Norte | Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Truman_signing_the_North_Atlantic_Treaty.gif

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