Cidade de Bordéus atravancada de refugiados em Junho de 1940 | Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

A Segunda Guerra Mundial, uma sequela da Primeira Grande Guerra

Um capítulo da História a recordar, no mês em que se assinala o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Por Margarida Ramalho*
No Tratado de Versalhes (assinado em 1919), os países aliados – vencedores da I Guerra Mundial (1914-1918) – condenavam a Alemanha, considerada como a responsável pelo conflito, a pagar aos vencedores 260 bilhões de marcos. Condenavam-na, também, a perder as suas colónias ultramarinas e parte do seu território, tanto a ocidente como a oriente. A marinha, aviação e exército eram dissolvidos e a Alemanha ficava proibida de militarizar a Renânia, de adquirir ou fabricar qualquer tipo de armamento e de se unir à Áustria sem o consentimento da recém-criada Liga das Nações. Estas duras sanções lançaram a Alemanha na miséria, na fome e no desemprego.

Neste contexto, foi possível a um homem insignificante como Adolf Hitler começar a ganhar adeptos devido aos seus discursos inflamados, cheios de ódio e desejo de vingança. Inspirando-se na personalidade de Benito Mussolini que, em 1921, fundara em Itália o Partido Nacional Fascista, Hitler criava na Alemanha o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). Com uma actuação violenta nas ruas – espancando os que não se identificavam com o novo partido – o NSDAP acabaria por ganhar as eleições em 1932. Em janeiro do ano seguinte Hitler torna-se chanceler. Iniciava-se, então, na Alemanha um período de terror e perseguição a todos os seus oponentes, aos judeus, aos eslavos, aos ciganos e mesmo aos portadores de doenças físicas e mentais.

Campo de Concentração de Dachau| Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

O destino da maior parte dos perseguidos seriam os campos de concentração. Muitos não sobreviveriam à fome, ao frio, aos maus tratos e ao excesso de trabalho. Outros, geralmente velhos e crianças, eram mesmo logo fuzilados ou assassinados, em câmaras de gás. Para a História esta tragédia ficou conhecida por Holocausto ou Shoah e foi responsável pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas.

A partir de 1938, tornou-se clara a intenção expansionista de Adolf Hitler. Nesse ano, a Alemanha une-se à Áustria (Anschluss) e ocupa a região dos Sudetas, que pertencia à Checoslováquia. No ano seguinte ocupa o resto deste país.

Prevendo que o próximo alvo seria a Polonia, a Grã-Bretanha e a França ameaçam a Alemanha com a guerra caso ela invada a Polónia. Não acreditando que as potências europeias cumprissem esta ameaça, a Alemanha invade a Polónia a 1 de Setembro de 1939. Dois dias depois, a França e a Grã-Bretanha declaravam-lhe guerra e Portugal, como outros países, afirmava-se neutro.

A neutralidade portuguesa acabaria por ser útil não só para os países em guerra, que continuaram a ser abastecidos por muitos produtos portugueses, nomeadamente o volfrâmio necessário para o armamento, mas sobretudo para os que fugiam do terror nazi que daqui podiam partir para outros continentes.

Soldado alemão vendo as ruinas de uma cidade francesa bombardeada. Revista Signal 15 de Julho de 1940 | Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

Nos primeiros meses, a guerra circunscreveu-se ao Atlântico, com os submarinos alemães a infligir pesadas perdas na frota britânica. Em abril de 1940, porém, a Alemanha invade a Noruega e a Dinamarca. No mês seguinte, ocupa a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo. Em Junho entra em Paris e ocupa grande parte da França.

Com a capitulação deste país, os que aqui se tinham refugiado vêem-se obrigados a fugir de novo. Lisboa, como um dos únicos portos livros da Europa torna-se na última esperança de muitos que tentam desesperadamente arranjar vistos para Portugal. O problema é que o governo português não estava disposto, por várias razões, a deixar entrar refugiados.

É neste contexto que Aristides de Sousa Mendes, nosso cônsul em Bordéus, vai fazer a diferença. Impedido de passar vistos sem autorização Sousa Mendes, decide seguir a sua consciência e desobedecer. Com esta ação permite a saída da França de 10 a 15 mil pessoas. Chamado a Lisboa seria afastado da carreira diplomática. Em 1966, o Yad Vashem (Memorial israelita de homenagem às vitimas da Shoah) distinguía-o como Justo Entre as Nações.

Visto concedido por Aristides de Sousa Mendes num passaporte | Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

Em Junho de 1941, Hitler invade a União Soviética. Seria um erro fatal, já que a determinação russa e o seu rigoroso inverno iriam quebrar os alemães na frente Leste.

Em 1942, depois do ataque japonês – que era aliado da Alemanha – a Pearl Harbour, os Estados Unidos entram na guerra. Com a chegada de mais armamento e mais tropas, os Aliados puderam, finalmente, vencer as potências do Eixo (Alemanha e Itália) no Norte de África, e em Itália. Em Junho de 1944, o desembarque aliado na Normandia, abria também o caminho para a libertação dos países ocupados. Por outro lado, os soviéticos a Leste derrotavam os alemães e avançaram para Berlim.

O conflito terminaria na Europa, com a vitória Aliada em Maio de 1945. Meses depois, o Japão rendia-se após a destruição de duas cidades civis, Hiroxima e Nagasáqui.

No final, entre civis, militares, prisioneiros de guerra, vítimas dos campos de extermínio, de concentração ou devido à fome, doenças e frio provocadas pela situação de guerra terão morrido, durante o conflito, entre 70 a 85 milhões de pessoas, ou seja, 3% da população mundial de então. Um desperdício de vidas.

Imagem de abertura:
Cidade de Bordéus atravancada de refugiados em Junho de 1940 | Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

(*) Investigadora do HTC-CFE, NOVA FCSH. Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH e o Jornalíssimo, com coordenação de Maria Fernanda Rollo.

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