A Segunda Guerra Mundial, uma sequela da Primeira Grande Guerra
Um capítulo da História a recordar, no mês em que se assinala o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Por Margarida Ramalho*
No Tratado de Versalhes (assinado em 1919), os países aliados – vencedores da I Guerra Mundial (1914-1918) – condenavam a Alemanha, considerada como a responsável pelo conflito, a pagar aos vencedores 260 bilhões de marcos. Condenavam-na, também, a perder as suas colónias ultramarinas e parte do seu território, tanto a ocidente como a oriente. A marinha, aviação e exército eram dissolvidos e a Alemanha ficava proibida de militarizar a Renânia, de adquirir ou fabricar qualquer tipo de armamento e de se unir à Áustria sem o consentimento da recém-criada Liga das Nações. Estas duras sanções lançaram a Alemanha na miséria, na fome e no desemprego.
Neste contexto, foi possível a um homem insignificante como Adolf Hitler começar a ganhar adeptos devido aos seus discursos inflamados, cheios de ódio e desejo de vingança. Inspirando-se na personalidade de Benito Mussolini que, em 1921, fundara em Itália o Partido Nacional Fascista, Hitler criava na Alemanha o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). Com uma actuação violenta nas ruas – espancando os que não se identificavam com o novo partido – o NSDAP acabaria por ganhar as eleições em 1932. Em janeiro do ano seguinte Hitler torna-se chanceler. Iniciava-se, então, na Alemanha um período de terror e perseguição a todos os seus oponentes, aos judeus, aos eslavos, aos ciganos e mesmo aos portadores de doenças físicas e mentais.
O destino da maior parte dos perseguidos seriam os campos de concentração. Muitos não sobreviveriam à fome, ao frio, aos maus tratos e ao excesso de trabalho. Outros, geralmente velhos e crianças, eram mesmo logo fuzilados ou assassinados, em câmaras de gás. Para a História esta tragédia ficou conhecida por Holocausto ou Shoah e foi responsável pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas.
A partir de 1938, tornou-se clara a intenção expansionista de Adolf Hitler. Nesse ano, a Alemanha une-se à Áustria (Anschluss) e ocupa a região dos Sudetas, que pertencia à Checoslováquia. No ano seguinte ocupa o resto deste país.
Prevendo que o próximo alvo seria a Polonia, a Grã-Bretanha e a França ameaçam a Alemanha com a guerra caso ela invada a Polónia. Não acreditando que as potências europeias cumprissem esta ameaça, a Alemanha invade a Polónia a 1 de Setembro de 1939. Dois dias depois, a França e a Grã-Bretanha declaravam-lhe guerra e Portugal, como outros países, afirmava-se neutro.
A neutralidade portuguesa acabaria por ser útil não só para os países em guerra, que continuaram a ser abastecidos por muitos produtos portugueses, nomeadamente o volfrâmio necessário para o armamento, mas sobretudo para os que fugiam do terror nazi que daqui podiam partir para outros continentes.
Nos primeiros meses, a guerra circunscreveu-se ao Atlântico, com os submarinos alemães a infligir pesadas perdas na frota britânica. Em abril de 1940, porém, a Alemanha invade a Noruega e a Dinamarca. No mês seguinte, ocupa a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo. Em Junho entra em Paris e ocupa grande parte da França.
Com a capitulação deste país, os que aqui se tinham refugiado vêem-se obrigados a fugir de novo. Lisboa, como um dos únicos portos livros da Europa torna-se na última esperança de muitos que tentam desesperadamente arranjar vistos para Portugal. O problema é que o governo português não estava disposto, por várias razões, a deixar entrar refugiados.
É neste contexto que Aristides de Sousa Mendes, nosso cônsul em Bordéus, vai fazer a diferença. Impedido de passar vistos sem autorização Sousa Mendes, decide seguir a sua consciência e desobedecer. Com esta ação permite a saída da França de 10 a 15 mil pessoas. Chamado a Lisboa seria afastado da carreira diplomática. Em 1966, o Yad Vashem (Memorial israelita de homenagem às vitimas da Shoah) distinguía-o como Justo Entre as Nações.
Em Junho de 1941, Hitler invade a União Soviética. Seria um erro fatal, já que a determinação russa e o seu rigoroso inverno iriam quebrar os alemães na frente Leste.
Em 1942, depois do ataque japonês – que era aliado da Alemanha – a Pearl Harbour, os Estados Unidos entram na guerra. Com a chegada de mais armamento e mais tropas, os Aliados puderam, finalmente, vencer as potências do Eixo (Alemanha e Itália) no Norte de África, e em Itália. Em Junho de 1944, o desembarque aliado na Normandia, abria também o caminho para a libertação dos países ocupados. Por outro lado, os soviéticos a Leste derrotavam os alemães e avançaram para Berlim.
O conflito terminaria na Europa, com a vitória Aliada em Maio de 1945. Meses depois, o Japão rendia-se após a destruição de duas cidades civis, Hiroxima e Nagasáqui.
No final, entre civis, militares, prisioneiros de guerra, vítimas dos campos de extermínio, de concentração ou devido à fome, doenças e frio provocadas pela situação de guerra terão morrido, durante o conflito, entre 70 a 85 milhões de pessoas, ou seja, 3% da população mundial de então. Um desperdício de vidas.
Imagem de abertura:
Cidade de Bordéus atravancada de refugiados em Junho de 1940 | Foto: Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes
(*) Investigadora do HTC-CFE, NOVA FCSH. Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH e o Jornalíssimo, com coordenação de Maria Fernanda Rollo.