Há um cemitério mágico de barcos no Mar Negro

Encontrado por cientistas que não o procuravam, conserva navios de impérios longínquos.

Uma história como esta, em que barcos naufragados há séculos são encontrados em ótimo estado de preservação, só poderia acontecer no Mar Negro. Ou na ficção.

Para a entendermos, é preciso recordar algumas caraterísticas deste mar, como um nível de salinidade muito inferior ao habitual (17%, aproximadamente metade do que a do mar Mediterrâneo) e águas profundas pobres em oxigénio.

          

Embarcação do período Otomano, com o veículo operado remotamente que capturou as imagens

A partir aproximadamente dos 100 metros de profundidade, a escassez de oxigénio e a alta concentração de sulfureto de hidrogénio (um gás extremamente tóxico) tornam a vida marinha impossível neste mar interior que banha seis países: Bulgária, Geórgia, Roménia, Rússia, Turquia e Ucrânia.

Ora, sem oxigénio e sem seres vivos por perto, materiais como madeira ou cordas desintegram-se de forma muito mais lenta.

          

Popa de um navio otomano afundado

Estas caraterísticas tornaram possível uma descoberta única e imagens impressionantes de cerca de 40 embarcações que naufragaram neste mar entre os séculos IX e XIX.

Os historiadores conheciam alguns destes barcos, dos Impérios Bizantino e Otomano. Conheciam, isto é, sabiam da sua existência, mas nunca os tinham visto. Certamente, não esperariam vê-los um dia, quanto mais vê-los bem preservados, assim, com as decorações caraterísticas da sua época e cordas ainda atadas à madeira.

            

Barco do período Medieval

Não era exatamente destes barcos que os investigadores do projeto de Arqueologia Marítima no Mar Negro (‘Black Sea MAP Project’) andavam à procura, embora soubessem que o Mar Negro é um dos “melhores laboratórios submarinos do mundo devido à camada anóxica (não oxigenada), que preserva os artefactos melhor do que qualquer outro ambiente marinho”.

O ambicioso projeto que está a ser levado a cabo na costa búlgara do Mar Negro, liderado pelo Centro de Arqueologia Marítima da Universidade de Southampton tem por objetivo, como explica o principal investigador, Jon Adams, na página da Universidade, “fazer levantamentos geofísicos para detetar superfícies terrestres anteriores, escondidas abaixo do mar atual, conseguir amostras de núcleo para as caraterizar, datar e fazer uma reconstrução da pré-história do Mar Negro”.

         

Embarcação do período Bizantino

A descoberta deste verdadeiro cemitério de barcos, explica o Professor, foi um “bónus”, uma “descoberta fascinante”.

As magníficas imagens digitais, cedidas pelo projeto MAP, foram criadas a partir de milhares de fotografias tiradas pelas câmaras do ROV (veículo operado remotamente) e criadas através de um ‘software’ de construção de modelos 3D.

          

O veículo que captou as imagens depois convertidas em modelos 3D

Jon Adams não tem dúvidas de que a descoberta vai fornecer “novos dados sobre a relação marítima das comunidades costeiras do Mar Negro e dos seus modos de vida”.

Será que, além dos barcos, ainda serão descobertas algumas das mercadorias por eles transportadas?

          

FOTOS: Expedition and Education Foundation (EEF), Black Sea Map

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