O (interminável) conflito israelo-palestiniano em catorze parágrafos
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reeleito na semana passada, prometeu não aceitar a criação de um Estado Palestiniano. Entretanto, ja voltou com a palavra atrás. Contamos-te a história de uma paz constantemente adiada.
Para entender o que opõe israelitas e palestinianos é preciso recapitular umas quantas lições de história e de geografia, difíceis de resumir em duas linhas. Mas em dez parágrafos (ou um pouco mais), já é possível ficar com uma ideia do conflito internacional que dura há mais de meio século.
Comecemos pelo Sionismo, o movimento político com o qual tudo começou. A partir dos finais do século XIX, esse movimento internacional fundado em Genebra (na Suíça) reclamou a existência de um Estado Judaico no território onde existiu o Reino de Israel. Teodoro Herzl, o fundador do Sionismo, queria que todos os judeus espalhados pelo mundo regressassem à Palestina, a “Terra Prometida”.
Nesta altura, a Palestina estava sob o domínio Otomano. Era uma terra árida, onde os poucos que a habitavam se dedicavam sobretudo à agricultura e pastorícia. Hoje, esta área corresponde ao território ocupado por Israel, a Jordânia, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Com a I Guerra Mundial (1914-18), a então Palestina passa para a mão dos ingleses. No final do conflito, muitos judeus iniciaram a tal viagem para a “Terra Prometida”, onde começaram por ser bem recebidos por aqueles que lá viviam.
A Inglaterra impulsionou fortemente a ida dos judeus para a Palestina. Já em 1917, na célebre Declaração de Balfour, o ministro dos negócios estrangeiros inglês (com o apelido que deu nome à declaração) tinha escrito ao líder da comunidade judaica no Reino Unido a manifestar a intenção de ajudar à autodeterminação dos judeus, caso viesse a dominar aquele território.
Com o Holocausto, que significou a morte de cerca de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial (1939-45), o fluxo migratório de judeus para a Palestina cresceu exponencialmente e tornou-se difícil de suportar para os palestinianos. É neste momento que tudo se começa a complicar.
Em 1948, o Sionismo cumpre o objetivo de fundar o Estado de Israel. O nascimento do novo país foi tudo menos pacífico. Os árabes (palestinianos, que habitavam o território antes da chegada em massa dos judeus, e habitantes dos países vizinhos) opuseram-se à criação do Estado de Israel e tiveram lugar os primeiros conflitos.
Esses confrontos iniciais só terminaram um ano depois, em 1949, graças à intervenção da ONU. Com o acordo de paz, há duas áreas territoriais que se destacam: a Faixa de Gaza (controlada pelo Egipto) e a Cisjordânia (sob adminsitração da Jordânia). Milhares de palestinianos refugiaram-se nesses territórios, abandonando a área onde viviam, que passou a integrar o Estado de Israel. Também a cidade de Jerusalém (que os israelitas consideram a capital do seu Estado, embora externamente não seja reconhecida como tal) saiu dividida do conflito: a parte este ficou controlada pela Jordânia, a parte oeste por Israel.
A paz durou pouco tempo. Em 1956 recomeçaram os conflitos entre Israel e os países árabes vizinhos. Foram uma constante até 1967. Nesse período teve lugar a Guerra dos Seis Dias, de que os israelitas saíram vencedores. Em 1967, o Estado de Israel, já tinha o controlo de toda a cidade de Jerusalém e ocupava também a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Como resultado destas duas guerras (1948 e 1967), centenas de milhares de palestinianos foram obrigados a deixar as suas casas. Estima-se que, na atualidade, haja 4,6 milhões a viver em campos de refugiados não só em Gaza e na Cisjordânia, como na Síria, Jordânia e Líbia, onde contam com o apoio da ONU para viver.
O milhão e meio que vive na Faixa de Gaza (uma das áreas mais densamente povoadas do mundo) está sujeito a um bloqueio imposto por Israel, que controla a maior parte das estradas do território e as fronteiras, determinando quem e que produtos podem entrar e sair. O acesso é tão restrito que faltam alguns tipos de bens alimentares, arranjar emprego é muito difícil e os negociantes têm dificuldade em vender produtos para fora de Gaza.
De um lado e outro da Faixa de Gaza, árabes e judeus habituaram-se à tensão permanente. De tempos a tempos, há confrontos entre israelitas e palestinianos, numa luta desigual. Os palestinianos não têm um exército e dispõem de poucos meios para combater as forças israelitas, recorrendo ao lançamento de bombas e a atos terroristas para as atacarem.
É ainda preciso recuar a 1964, para recordar o nascimento de uma entidade que assume protagonismo em toda esta história: a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de que Yaser Arafat foi um icónico líder. Já depois de ter sido reconhecida como representante do povo palestiniano, a OLP aceitou em 1988 a existência do Estado de Israel, um passo histórico dado pelos árabes, que até então sempre se tinham negado a fazê-lo. Em 1988, também, a mesma OLP proclamou unilateralmente o Estado Independente da Palestina, o que deu origem a novos confrontos, pois Israel não viu essa proclamação com bons olhos.
Desde então houve vários avanços e recuos no processo de paz entre Israel e a Palestina. Um dos mais importantes aconteceu quando a ONU aprovou por unanimidade a Resolução 242, que previa a retirada de Israel nos cinco anos seguintes dos territórios árabes ocupados depois da guerra de 1967. A Resolução, porém, não foi cumprida. Mais tarde, em 1993, também o Acordo de Oslo, assinado entre Arafat e o antecessor de Natanyahu, Yitzhak Rabin, falhou.
No final de 2012, a Palestina conseguiu dar um importante passo no seu caminho para ser reconhecida como Estado Independente. A Assembleia Geral da ONU reconheceu-a como Estado Observador (um estatuto semelhante ao do Vaticano). Em dezembro passado, foi a vez do Parlamento Europeu apoiar o reconhecimento da Palestina como Estado, no mesmo mês em que Portugal o fez (o Brasil já o tinha feito em 2010).
O primeiro-ministro israelita reeleito na semana passada, Benjamin Netanyahu, prometeu antes das eleições que, se fosse eleito, não iria haver um estado palestiniano. Uma afirmação que desagradou ao presidente norte-americano. Barack Obama lembrou a Netanyahu o seu compromisso com uma solução para o conflito que passa pela existência de dois Estados – o Israelita, mas também o da Palestina. Netanyahu já se veio comprometer de novo com essa solução. A OLP aproveitou o momento para pedir outra vez aos países que ainda não reconheceram a Palestina como Estado independente que o façam.