Várias redes sociais são visadas no processo metido em Tribunal pelas escolas públicas de Seatle

Escolas de Seattle metem redes sociais em tribunal

Em causa, o aumento de problemas de saúde mental nos alunos, que têm vindo a registar.

Ansiedade, depressão e mesmo pensamentos suicidas. É este tipo de manifestação de mal- estar psicológico que as escolas públicas de Seattle, nos Estados Unidos, têm visto aumentar significativamente nos alunos e alunas que as frequentam nos últimos anos.

O que tem isto a ver com as redes sociais? Para este conjunto de quase uma centena de estabelecimentos de ensino, frequentados por aproximadamente 50 mil estudantes, a resposta é “tudo”.

Exatamente por julgarem que a crise de saúde mental nos jovens a que assistem está relacionada com o uso que eles fazem das plataformas digitais, aquelas escolas acabaram de unir-se e meter um processo em Tribunal contra empresas como a Meta ou a Alphabet (dona da Google). As redes sociais que são alvo de queixa são o TikTok, o Facebook, o Instagram, o Snapchat e o YouTube.

No processo, que tem 92 páginas e pode ser consultado neste link, acusam-se estas aplicações de usarem um conjunto de estratégias para que os jovens se tornem adictos (outra forma de dizer viciados). Tais estratégias – escrevem – provocam nos e nas adolescentes uma série de problemas psicológicos. Tantos, que as escolas dizem que os serviços de saúde mental de que dispõem já não têm capacidade para responder a todos os estudantes de forma adequada.

O que é a economia da atenção?

Aquilo de que as escolas públicas de Seattle se queixam é do modelo de negócio usado por grande parte das empresas tecnológicas, conhecido por “Economia da Atenção”.

Modelo de negócio é a forma que uma empresa encontra para ganhar dinheiro. Por norma, sempre que compramos um produto ou usamos um serviço pagamos um valor em dinheiro. A forma de pagarmos a estas redes sociais por fazermos uso delas é diferente.

Ao contrário do que possas pensar, usar o TikTok ou o YouTube não é gratuito. Paga-se. Mas paga-se de uma forma menos convencional. Em vez de dinheiro, nestas redes sociais a moeda de troca é a atenção. Confuso/a?

Manter os utilizadores ligados o maior tempo possível

Uma das principais formas de que aplicações como o Facebook ou o YouTube se servem para obterem lucros é a publicidade. Quanta mais publicidade as pessoas virem, mais dinheiro as plataformas ganham. O objetivo passa, então, por tentar que os usuários estejam “ligados” o maior tempo possível.

Para o conseguirem, desenvolvem inúmeros estratagemas, de que são exemplo as notificações, os sistemas de pontos, os alertas, o mostrarem conteúdos que vão ao encontro dos gostos e das opiniões dos utilizadores, ou o levarem as pessoas a compararem-se umas com as outras, gerando uma competição pouco saudável entre elas.  

Se quiseres aprofundar mais esta questão, podes ouvir um podcast de Educação para os Media do Observatório sobre Media, Informação e Literacia (MILObs) e da rádio Antena 1.

Uma lei mais apertada precisa-se

Voltando às escolas de Seattle… Para elas, a lei deve proibir o uso de algumas destas estratégias pelas redes sociais, especialmente por aquelas mais frequentadas por crianças e jovens.

Nestas idades, argumentam, “os jovens são particularmente suscetíveis à conduta manipuladora dos réus porque os seus cérebros não estão suficientemente desenvolvidos e, logo, não têm a mesma maturidade emocional, controlo de impulsos e resistência psicológica dos usuários mais maduros”.

As escolas consideram mesmo que as redes sociais se aproveitam desta fragilidade dos mais jovens para obterem lucro. Preocupa-as, especialmente, o tipo de conteúdo que as redes sociais encaminham para os feeds dos jovens. Julgam-no prejudicial e capaz de levar a gestos perigosos. Exemplificam com desafios que encorajam a comer 300 calorias por dia ou a provocar feridas no próprio corpo.

Desafios virais com desfecho trágico

O processo está muito bem fundamentado, recorre a estudos académicos e estatísticas que mostram ser este um problema que não se verifica apenas em Seattle.

Agora, será preciso aguardar que o documento que deu entrada no Tribunal siga as etapas normais até ser conhecido um veredito. As empresas processadas, porém, já vieram dizer que não estão de acordo com as acusações de que são alvo e apresentar algumas medidas que implementaram para proteger crianças e jovens de conteúdos impróprios.

As notícias, no entanto, continuam a mostrar que há desafios nas redes sociais capazes de levar a circunstâncias trágicas. Ainda esta semana foi noticiada a morte de uma menina argentina de 12 anos que morreu asfixiada ao fazer um desafio viral que circulou no TikTok.

Se precisares de ajuda…

Se não te sentires bem psicologicamente, recorda-te que na tua escola há, à partida, um serviço de psicologia que te pode apoiar e ajudar a ultrapassar a situação que estás a viver.

Se preferires pedir ajuda a alguém que não te conheça nem seja do meio onde vives, tens à disposição a Linha SOS Criança, para a qual podes telefonar ou enviar uma mensagem. O número é o 116 111. Do lado de lá está sempre uma voz que vai ouvir-te com atenção e aconselhar-te. Funciona de segunda a sexta-feira entre as nove e as 19 horas.

O serviço também está disponível pelo email soscrianca@iacrianca.pt. Muitos jovens recorrem a este apoio especializado para falar de “problemas com: familiares e colegas; a escola, nomeadamente ao nível do comportamento; a violência no espaço escolar/bullying; os maus tratos, abusos e negligência; a sua autoestima; a sexualidade e/ou violência no namoro; a alimentação, anorexia, bulimia; separação / divórcio dos pais”.

Se quiseres simplesmente saber mais sobre riscos e sobre comportamentos a ter online, encontras muita informação na página da Internet Segura.

Foto: Wikimedia Commons

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