Desporto e Europa: uma longa história

Num mundo onde o desporto está quase sempre presente, qual será, afinal, a sua importância? Apenas distrair e entreter? Ou educar e formar para a vida?

Por Sérgio Neto* – CEIS20/UC e IHC/NOVA/FCSH*

O desporto acompanhou a História da Europa. Os antigos gregos realizavam diversas provas desportivas, de entre as quais os Jogos Olímpicos, em honra de Zeus, eram a mais importante. Durante esses dias, através de uma saudável competição, pousavam-se as armas e celebrava-se a paz. Quem viajava até Olímpia, para assistir e participar nos jogos, não devia ser atingido pelas constantes guerras que as cidades gregas (pólis) faziam entre si. Os atletas vencedores eram o orgulho das pólis e, ontem como hoje, das poucas pessoas a terem estátuas em vida. 

O historiador francês Jacques Le Goff escreveu no livro A Europa explicada aos Jovens que, “ainda antes do desporto organizado, e a partir do fim do século XVIII, apareceu a ginástica, especialmente na Alemanha”. Em 1894, Pierre de Coubertin, em Atenas, lançava os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna. Assim, ao longo do século XX, conforme explica Le Goff, “inicialmente aristocrático, o desporto torna-se pouco a pouco mais democrático e certos desportos transformaram-se em desportos de massa […] ao nível nacional e europeu”.

A União Europeia (UE) tem dado, nos últimos anos, várias respostas à pergunta sobre a importância do desporto. Por exemplo, o Erasmus+, destinado à “educação, formação, juventude e desporto 2014-2020”, procura afirmar os valores do espírito de equipa, da solidariedade e do fair-play. 

Na verdade, o desporto educa para a cidadania e aproxima as pessoas e as nações. Tem um papel importante na luta contra o racismo e a xenofobia. Promove a inclusão social. Por vezes, é a única âncora para os jovens que vivem em lugares desfavorecidos do ponto de vista económico e social. Previne vários problemas, como o sedentarismo e a obesidade. Além disso, contribui para o crescimento económico e o emprego. 

Mas a Europa não ignora que o desporto tem vários “inimigos”. Em primeiro lugar, a própria ideia de inimigo: ver o adversário como um inimigo. Numa palavra: a violência. Dentro e fora de campo. De igual modo, o doping e a corrupção afetam o desporto. A desconfiança de que os atletas vencem por meios ilegítimos, e não pelo treino e pela vontade de ganhar, afasta as pessoas do desporto. Por isso, no desporto como na vida, há que lembrar certos valores. Dos gregos: “mente sã em corpo são”. Do movimento olímpico: “respeito, coragem, determinação, inspiração e igualdade”.

(*) A rubrica “História e Europa” é publicada ao dia 20 de cada mês e dedicada às ideias e aos protagonistas do projeto europeu. Resulta de uma parceria entre o Instituto de História Contemporânea da Universidade de Lisboa (IHC – UNL) e o Jornalíssimo e tem a coordenação científica de Isabel Baltazar e Alice Cunha, doutoradas em História pelo IHC-UNL.

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