Encenar e fotografar também é filosofia
Alunos flavienses de uma turma do 11º ano filosofaram sobre situações-limite com imagens.
As fotografias são belas, mas de uma beleza perturbante. Uma beleza que inquieta, desassossega, mas, ainda assim, nos prende o olhar – aquilo que retratam é forte de mais para desviarmos a cara ou fecharmos os olhos.
São imagens que conseguem pôr-nos no papel do retratado – fazem-nos sentir medo, desespero, solidão, ansiedade, ameaça, sufoco, angústia.
Esse exercício de “pôr-se na pele do outro”, antes de ser proposto ao espectador, foi proposto aos autores – os 25 alunos do 11ºE da Escola Secundária Fernão de Magalhães, todos com idades entre os 16 e os 17 anos.
Foram os próprios alunos que se lembraram de se debruçar sobre as situações-limite quando confrontados com a realização de um trabalho para apresentarem no Dia do Agrupamento de Escolas Fernão de Magalhães, de Chaves, realizado na quinta-feira passada, dia 5.
“As situações-limite são importantes na Filosofia, aparecem em todos os temas, são situações que nos levam a pensar na vida e, mesmo que não estejamos nessa situação, levam-nos a imaginar aquilo que faríamos se estivéssemos”, explica Filipa Pinto, 17 anos, ao lado das fotografias expostas, disponível para conversar com os visitantes sobre o trabalho exposto.
As imagens retratam temas como a toxicodependência, o bullying, a violência no namoro, a automutilação, o alcoolismo, a anorexia, o suicídio (“vários tipos de suicídio”, realça).
As temáticas a tratar foram pensadas por toda a turma. “Alguns de nós passámos por algumas destas situações e queremos deixar claro que, embora estas fotos sejam encenadas, não é apenas encenação, são situações reais”, prossegue Filipa.
Quem surge nas imagens são os próprios alunos do 11ºE, que agora querem expor o trabalho realizado fora da Escola para, como diz Filipa, “chegar a outros jovens. E chegar a todas as faixas etárias”. “Ninguém nos conhece”, acrescenta depois de uma pausa. O “nos” não se refere a eles em particular. Refere-se à juventude em geral.
Para eles, realizar o trabalho foi toda uma aula, várias aulas: “Ao tirar estas fotografias e ao vê-las aqui expostas, começamos a olhar de forma diferente para estes temas. E de cada vez que olhamos vemos sempre coisas novas”, nota outra aluna da turma, Joana Oliveira. “Obrigou-nos a por na pele do outro, a desenvolver um sentimento de empatia”, reforça Filipa.
E com o ano perto do fim, Bruno Sanches lembra, satisfeito, que a professora de Filosofia, Helena Rodrigues, considera o trabalho para avaliação: “Substitui um teste”, conta.
O trabalho teve, ainda, a particularidade de ser pluridisciplinar. Envolveu também a Professora de Português, Leonor Rei, e a Professora de Educação Visual, Ana Paula Reis.
As duras situações encenadas nas imagens contrastam com a poesia do espaço onde estão expostas – a “Sala de Papel”, uma sala com paredes feitas de longas folhas de papel de cenário, preenchidas com ilustrações, poemas, excertos de livros, citações, onde estão trabalhos de alunos de outras turmas e anos.
É o enquadramento certo, avalia Filipa: “As fotografias são de papel, são arte, como tudo o resto que está no cenário”. E inquietar, convidar à reflexão, ao debate é também o “papel” da arte.