Um vício bom chamado vela

Pratica-se todo o ano, mas no Verão é melhor. E quem melhor do que dois campeões para nos falar sobre este desporto?

Se tens ideia que fazer vela é ficar sentado num barco e andar ao sabor do vento, tens muito que aprender. A vela é um desporto exigente. Em termos físicos e, mesmo, mentais: requer conhecimentos e estratégia, muita estratégia.

É por isso que quando chegamos ao Clube de Vela Atlântico, encostado a toda aquela beleza metálica do Porto de Leixões, em Leça da Palmeira, os alunos estão fechados numa sala, a ouvir atentamente o treinador.

“O treino começa e termina sempre com um uma aula teórica”, explica Miguel Rouxinol, 15 anos, recentemente apurado para o Campeonato do Mundo de Vela, que vai começar em julho na Polónia.

Miguel pratica o desporto desde há cinco anos e não tem problemas em dizer que no primeiro treino, com ondas grandes e muito vento, até chorou: “Ao início tem-se sempre medo, mas supera-se. Hoje gosto mais de vento e ondas, exige mais em termos físicos, é mais desafiante”.

Para quem começa a praticar vela, passado pouco tempo, o vento deixa de ter segredos. As primeiras aulas incidem muito nos conhecimentos teóricos: é preciso aprender a conhecer bem o vento, os nós, tratar por tu todo o equipamento – velas, barcos, mastros, retrancas.

O desporto é de mar, mas começa antes, em terra. São os próprios atletas a montar o barco, a vela e a arrumar tudo no final. E, depois, saber afinar a vela, apertá-la mais ou menos, é essencial: “É disso que vai depender a velocidade e nós queremos o máximo de velocidade possível”, diz ainda Miguel.

Pedro Coelho está ao lado, tem 14 anos e conquistou há dias o passe para o Campeonato da Europa de Vela, em julho também, mas no País de Gales.

Tal como para Miguel, os treinos ao sábado e ao domingo, das dez da manhã às cinco da tarde (quase todas essas horas no mar), foram recompensados. E isto para não falarmos no treino diário de uma hora em casa: a correr, fazer flexões, abdominais.

“É preciso muita força e resistência para ser bom velejador”, justifica Pedro. De outra forma é difícil enfrentar a força do vento e jogar com as velas para saber tirar vantagem dele.

A outra parte do sucesso está na cabeça: “também é preciso saber traçar estratégias em função do vento e das correntes. E isso, tal como a afinação das velas, continua no mar. As condições estão sempre a mudar”, recorda.

Miguel e Pedro concordam que “ao início é difícil”, até porque ao esforço físico e à estratégia junta-se o domínio técnico, essencial para saber comandar o barco. Com o tempo, tudo se torna mais fácil, garantem. É justamente essa complexidade que torna a vela tão especial, acabam por concluir.

As viagens são também aliciantes: “Viaja-se muito com este desporto. Vamos a competições, fazemos estágios noutros clubes”, diz Miguel. Claro que, para isso, é preciso, como eles, levar a vela bem a sério. Quase que é uma filosofia de vida – obriga a dormir oito ou nove horas por dia no mínimo, a ter uma boa alimentação (nada de fritos,beber muita água). Disciplina a sério.

No inverno, há um desafio acrescido: a chuva que entra pelo fato de neoprene é incómoda. Mas velejador treina haja chuva ou haja sol. Só a trovoada o faz ficar em terra.

E há mitos a combater: a vela não é um desporto só de rapazes, apesar de eles estarem em maioria. Catarina Coelho, 13 anos, assume que “com muito vento eles podem ter vantagem, mas é só um aparte”. Todos garantem que não é, também, forçosamente um desporto de elite. O material não é barato, mas, quando se está a aprender, os clubes fornecem o necessário e as mensalidades – contam – não diferem muito das dos desportos terrestres.

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