Um campo de férias quase igual aos outros
Montargil recebe na próxima semana uma colónia de férias para jovens diabéticos.
Daniel Botelho começou a frequentar as colónias de férias para jovens diabéticos quando tinha 12 anos. Hoje tem 16 e está a fazer as malas para participar, uma vez mais, no campo que se realiza em Montargil, no Alentejo, de 22 a 26 de julho.
“São poucos dias”, comenta ele, deixando já entender o quanto gosta da experiência. Daniel sabe que este ano o esperam, de novo, “atividades muito boas” e “radicais”, como tentar manter-se em cima de uma bóia na barragem enquanto um barco o puxa a alta velocidade, fazer canoagem ou BTT, guerras de paintball, mergulhos na piscina…
Em relação aos restantes campos de férias, as atividades que se realizam neste, promovido pela Associação de Jovens Diabéticos de Portugal (AJDP), têm um objetivo extra: incentivar a prática desportiva dos jovens com esta condição (“condição”, sim, quem tem diabetes não gosta que se olhe para ela como uma doença).
“Torna-se mais simples controlar a diabetes quando se faz regularmente desporto. As atividades desportivas são um dos tratamentos para a diabetes de tipo 2”, explica Carlos Neves, presidente da AJDP, ele próprio um jovem diabético, com 29 anos.
A maior parte das iniciativas que a Associação promove são abertas ao público em geral. O campo de férias é uma exceção e tem uma razão de ser. Além de divertidos, os dias passados nesta colónia pretendem ser, também, um momento de partilha e de capacitação para gerir melhor a diabetes. Ora, diz Carlos, “essa partilha de experiências e de dúvidas é mais fácil num grupo em que as pessoas têm a mesma condição”.
SUPERAR OBSTÁCULOS
Daniel Botelho sabe bem como esse contacto com pessoas da mesma idade, que enfrentam as mesmas dificuldades, é importante, “sobretudo na entrada na adolescência”. É, recorda, “a altura mais difícil (de lidar com a diabetes), porque é a fase em que temos mais vergonha”.
Quem é diabético anda com “uma caneta com uma agulha” e precisa de administrar a si próprio insulina. É uma “mini-injeção”, elucida Daniel. Lembra que, quando era miúdo, tinha grandes limitações em termos de alimentação: “no infantário, por exemplo, os meus lanches e almoços eram diferentes dos outros”.
O desenvolvimento da insulina veio fazer com que os diabéticos não tenham tantas restrições alimentares, nem desportivas. O importante é estarem atentos aos valores da glicémia (nível de açúcar no sangue) e administrarem a insulina em função deles. Daniel exemplifica: “Se for praticar desporto e tiver um valor alto de glicémia vou ter um mau desempenho, se tiver um valor baixo, vou ter hipoglicémia e ter de tomar açúcar ou uma bebida açucarada”.
Hoje já encara bem a condição de diabético – “é como se fizesse parte da minha vida” -, mas este campo de férias continua a ser-lhe de grande utilidade. “Estão lá médicos e enfermeiros, é um período em que damos mais atenção à diabetes. É bom para refrescar os cuidados que devemos ter”, prossegue.
Carlos, o presidente da Associação, tem a mesma opinião: “a partilha ajuda a tornar mais fácil aceitar esta condição”. Realça que o tratamento não é muito complicado, “mas há sempre alguns obstáculos”, diz.
Um deles é a “má informação” sobre a diabetes por parte da sociedade em geral. As pessoas fazem, ainda, muita confusão entre diabetes do tipo 1, que não aparece por maus hábitos alimentares e um estilo de vida sedentário, ao contrário da do tipo 2.
A diabetes do tipo 1 desenvolve-se quando o pâncreas deixa de produzir a insulina que o corpo necessita, fazendo com que os níveis de açúcar no sangue subam. Em Portugal, no ano de 2013, havia mais de 3000 jovens até aos 19 anos com diabetes.
Se olharmos para o conjunto da população portuguesa, os números sobem bastante: estima-se que 13 por cento dos portugueses sofram de diabetes e que metade desta percentagem não o tenha ainda descoberto.