Quando escrever um blogue dá direito a prisão e chicotadas
Raif Badawi venceu o Prémio Sakharov, atribuído a quem se distingue na luta pelos Direitos Humanos.
Para a Arábia Saudita, o que Raif Badawi fez foi um crime. Mesmo se tudo o que este homem – um ‘blogger’, escritor e ativista saudita – fez foi pacífico.
Badawi criou um site na Internet, deu-lhe o nome de “Liberais Sauditas Livres” (Free Saudi Liberals), partilhou com os cibernautas o seu pensamento (terá criticado importantes figuras religiosas e acusado uma universidade islâmica de se ter convertido numa guarida de terroristas) e usou a sua plataforma para promover o debate de ideias.
A “ousadia” de Badawi, numa Arábia Saudita onde muitas liberdades – de pensamento, de expressão, de imprensa – não passam de miragem, valeu-lhe uma pesada condenação, depois dos tribunais terem entendido o seu comportamento como um “insulto ao Islão“. Quanto ao site, não demorou muito tempo a ser encerrado pelas autoridades.
Num processo judicial duvidoso, o jovem (casado e pai de três filhos menores) acabou condenado a dez anos de prisão, a mil chicotadas e a uma pesada multa.
Em janeiro deste ano, recebeu as primeiras 50 chicotadas em público. Não receberia mais por ter ficado fisicamente muito debilitado e pela forte indignação da comunidade internacional. Governos de vários países e cidadãos anónimos de todo o mundo (mais de um milhão de pessoas juntaram-se num abaixo-assinado) opuseram-se à pena.
Badawi, no entanto, continua preso (foi detido já em 2012) e nada garante que não venha a ser chicoteado de novo, pois a condenação foi confirmada em junho pelo Supremo Tribunal do país. Entretanto, a mulher e os filhos de Badawi sofreram ameaças de morte e foram obrigados a fugir para o Canadá.
Talvez o prémio que o Parlamento Europeu atribui anualmente, além de chamar a atenção do mundo para o que se passa naquele país do Médio Oriente, evite que Badawi seja novamente flagelado.
Chamar a atenção para as violações dos direitos humanos e apoiar os laureados nas suas causas é, justamente, a missão deste Prémio, atribuído anualmente desde 1988 e já concedido a personalidades como Nelson Mandela ou Malala Yousafzai.
Não por acaso a distinção leva o nome de Andrei Sakharov, o físico nuclear russo que ajudou a desenvolver a bomba de hidrogénio, mas que acabou a lutar contra a corrida ao armamento no auge da Guerra Fria. Sakharov venceu em 1975 o Prémio Nobel da Paz, que reconheceu também os seus esforços na luta pelas liberdades individuais e pelos direitos humanos na então União Soviética.