“SEM” guiou-nos por um circuito independente de arte ao ar livre

FOTOGALERIA | Matosinhos tem um circuito de arte urbana para explorares no âmbito do “Desenlata”.

No contexto da ‘Street Art’, ele é ‘mynameisnotSEM’. Aqui, no Festival de Arte Independente de Matosinhos, põe de lado a pele de artista, de ‘writer’, e veste a de curador.

Neste contexto, ‘mynameisnotSEM’ é mais Filipe Granja~(foto de abertura), o responsável pela organização deste Festival que, não por acaso, se chama “Desenlata”.

Foi ele quem endereçou a dez artistas (seis portugueses, quatro internacionais – dois de Espanha, um de Itália e outro de França), o convite para fazerem uma obra para ser colada nas paredes de fábricas abandonadas de Matosinhos, inspirada no tema “Mar e Horizonte”.

Esta é a segunda edição do “Desenlata” e o nome tem tudo a ver com o festival, porque é de arte urbana que se trata (e de latas de ‘spray’) e porque é em Matosinhos (cidade marcada pela indústria conserveira).

O Festival (que não conta com apoios institucionais e foi erguido através de ‘crowdfunding’) surgiu na sequência da tese de mestrado que Filipe Granja fez na Faculdade de Belas Artes do Porto, sobre a arte urbana como potenciadora da memória colectiva do espaço.

Daí que, fazendo a visita guiada com ele, não se fique a conhecer apenas os dez trabalhos artísticos que foram colados na semana passada. Fica-se, também, a conhecer a história de Matosinhos Sul, ali a dois passos da praia, onde em tempos houve mais de 50 fábricas ligadas à indústria conserveira, das quais hoje restam apenas duas.

Através da arte, percorremos a história do património de uma parte da cidade de Matosinhos, onde esqueletos de fábricas convivem com edifícios de habitação (alguns luxuosos); reparamos em pormenores, como as letras em metal ainda no cimo da fachada da Conserveira Boa Nova; ouvimos histórias de empregos e formas de vida de outros tempos.

Algumas das próprias intervenções artísticas falam do espaço em que estão inseridas, do imaginário matosinhense. É o caso da de Costah (nº9), que retrata namoros antigos, com o “Ti Manuel” e a “Ti Maria” a olharem-se à distância, cada um de seu lado da porta da fábrica.

Deixamos-te as imagens das obras e, logo a seguir à fotogaleria, encontras as legendas com excertos da visita guiada que fizemos com Filipe Granja e algumas dezenas de pessoas. Se quiseres fazer o circuito, descarrega aqui o mapa, com a localização de todas as obras.

Vai logo que possas. Já sabes que a efemeridade é uma das caraterísticas da arte urbana. “Os trabalhos tanto podem durar uma semana como mais de um ano”, lembra Filipe. Bom passeio!

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LEGENDAS

1) DRAW (Pt)
“A obra está colada na fachada das antigas instalações da Conserveira Vasco da Gama. Draw pinta com ‘spray’ como se estivesse a desenhar. Aqui, retrata duas personagens do imaginário local: dois pescadores de Matosinhos”.

2) GUERRILLA SPAM (It)
“Este trabalho de artistas italianos é o único impresso, os restantes são todos originais. A ‘Guerrilla Spam’ usa uma linguagem a preto e branco”.

3) MESK (Pt)
“Aqui são as instalações da antiga conserveira Joana D’Arc. Mesk utiliza uma linguagem de ‘cartoon’, de ilustração. Nesta obra representa um gesto, de óculos que refletem o horizonte”.

4) ASNO (Pt)
“Este trabalho usa uma linguagem infantil e inspira-se na obra de Matisse. É um dadaísmo dentro da ‘Street Art”.

5) MARIANA PTKS (Pt)
“Aqui estamos em frente ao edifício de um antigo armazenista de sal. Mariana apresenta uma visão de um braço da Via Láctea, algo utópico, pois a poluição luminosa não deixa avistar a Via Láctea a partir daqui”.

6) ELEDU (Es)
“Este artista espanhol criou uma ‘Garrafa de Problemas’. Eledu trabalha com ‘Street Art’, serigrafia, tatuagem, ilustração”.

7) KRAM (Es)
“Aqui temos um tributo a marinheiros e lobos-do-mar que vivem ao ritmo da tartaruga. Tal como o artista anterior, Kram também usa papel de cebola, um papel que os fotógrafos usam para conservar os negativos.

8) JBC (Fr)
“Temos uma reinterpretação de uma tradição do sul de França, em que durante dois dias a imagem da Virgem Maria é levada para o mar e daí os rostos morenos”.

9) COSTAH (Pt)
“Costah faz também ilustração e tatuagem. Temos aqui uma cena do imaginário local, com o Ti Manel Pescador e a Ti Maria Peixeira a olharem-se cada um de seu lado da porta da fábrica”.

10) DUB (Pt)
“Este é um macaco que toma conta das ruas de Matosinhos, da mesma forma que os artistas de rua tomam conta uns dos outros quando estão a pintar”.

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