As dicas do Pedro Agricultor para Setembro
“Em Setembro planta, colhe e cava que é mês para tudo.”
Por Pedro Rocha (pedroagricultorurbano@gmail.com)*
Ao longo de todo o ano é costume reservamos dois momentos para pequenas alterações nas nossas vidas. Quantas vezes ouvimos alguém dizer que vai deixar de fumar a partir de 1 de Janeiro, que vai emagrecer, passar a fazer desporto, ter uma vida mais saudável, comer melhor?!
O mesmo acontece em Setembro, quando voltamos de férias e temos oportunidade de relaxar, carregar baterias e repensar a vida, antes de arrancar para mais um ano de trabalho. Por isso parece-me adequado o ditado de Setembro que diz que este é mês para tudo.
Esta é uma dica diferente das anteriores. Sirvo-me deste espaço na esperança de te inspirar e sensibilizar para a importância de ter uma pequena horta.
Uma pequena horta, que pode ter um único metro quadrado, na varanda, no pátio ou no telhado. Uma horta vertical ou horizontal, não importa, desde que exista um pequeno espaço de produção dos próprios alimentos em tua casa.
Obviamente não servirá para alimentar toda a família, mas a sua importância pode ser bem maior do que o peso dos alimentos retirados dela ao fim de um ano.
Estamos formatados para pensar individualmente e avaliar o impacto das nossas ações apenas por aquilo que aparentemente interfere na qualidade das nossas vidas, mas é bastante interessante pensar no impacto de uma ação coletiva, que resulte no somatório de muitas ações individuais.
Ter uma horta urbana é, sem dúvida, uma delas.
Pensa um pouco comigo. Uma pequena horta para quatro pessoas, que produza apenas oito quilos de legumes por ano, parece insignificante. Diria mesmo que não chega para nada. Apenas dois quilos por pessoa? Não é nada!
A zona metropolitana do Porto tem 1,7 milhões de habitantes. Se todos produzíssemos dois quilos de alimentos por ano, teríamos uma produção de 3400 toneladas de alimentos autoproduzidos. Interessante, não achas? (Em Lisboa seriam 2,8 milhões de habitantes…)
Agora imagina estas 3400 toneladas de alimento a serem produzidas longe da cidade. Imagina o número de camiões que seria necessário para transportar estes alimentos (quase 300 camiões) e a quantidade de combustível que, assim, seria economizado, a quantidade de dióxido de carbono que não seria emitido, a quantidade de energia em câmaras de frio que seria poupada. Imagina! E tudo isto é apenas uma pequena parte do impacto positivo que a agricultura urbana pode trazer para a cidade.
Este é só um ato simples de imaginação, mas levar a ideia à prática não é complicado. Afinal, falo apenas de dois quilos de alimento por pessoa, por ano, produzidos na própria casa. Simples e fácil. O impacto é enorme.
MÃOS À HORTA
A minha melhor dica para o início deste novo ano de trabalho é “Mãos à Horta”. Não hesites em experimentar. Hoje fazer agricultura urbana é muito fácil, com vários materiais de apoio e sistemas de cultivo de baixa manutenção à disposição. A internet está cheia de bons conselhos e as dicas do mês, no Jornalíssimo, vão ajudar.
Faz ‘workshops’, participa em hortas comunitárias, recorre a agricultores urbanos, (como se recorre a um simples jardineiro) e constrói a tua horta.
Além do prazer em colher os próprios alimentos, a horta pode ser também um elemento de recuperação do stresse do dia-a-dia, assim como uma forma de estar mais próximo da natureza, um fator de aproximação da família, cuidando coletivamente da horta, como um bem de todos, para o bem de todos.
Estão perfeitamente documentados os benefícios da horticultura, para quem mete as mãos na terra. Conseguimos dividir os benefícios em alguns grupos – benefícios para a saúde, sociais, económicos e ambientais. E não é difícil compreender porquê…
O acesso a alimentos cultivados sem recurso a pesticidas, a possibilidade de reduzir o stress e fazer um jardim em conjunto com a família, tudo próximo da própria cozinha, sem dúvida inclui todos os benefícios acima referidos.
Por isso, o que esperas para meter mãos à horta?
O “FAMOSO” DE SETEMBRO: COUVE PENCA OU PORTUGUESA
Bilhete de Identidade
Família: Brassicaceae
Género: Brassica
Espécie: Brassica oleracea
Origem e história
Admite-se que a atual família de hortícolas das couves tenha tido a sua origem nas zonas costeiras da Europa temperada e mediterrânica. Apesar disso, existem já registos de couves repolho na Alemanha no início do Século XII. As espécies de ‘Brassicaceae’ são, talvez, das hortícolas mais disseminadas por todo o hemisfério norte, incluindo espécies de grande valor económico.
A Cultura da Couve Penca ou Portuguesa
Esta é a das culturas mais importantes em Portugal em termos económicos e, sobretudo, tem um grande valor cultural. Não é por acaso que não há horta que não tenha uma Couve Penca a crescer. No Natal, lá está ela, bem casada com o bacalhau e, no resto do ano, a receita vai-se repetindo para conforto do nosso estômago e da nossa identidade.
Para a cultivar, basta plantá-las em linha, com um espaçamento de 40 a 50 centímetros entre plantas. Setembro é, sem dúvida, o mês ideal para as plantar, podendo cultivar-se em todo o território, uma vez que é uma cultura com grande resistência ao frio. Quando a couve estiver bem desenvolvida, corta o colo da planta.
Tens dúvidas?
Podes escrever ao Pedro Agricultor para o endereço eletrónico que está no início deste artigo, indicando o nome e o local de onde escreves. Todos os meses, ele vai responder a duas ou três questões colocadas pelos leitores.
Se quiseres ouvir a versão radiofónica de “As Dicas do Pedro Agricultor para Abril”, ouve esta noite (6 de Abril) o programa “O Som é a Enxada”, da Rádio Manobras, às 22 horas, ou visita o blogue do programa, onde encontras todas as emissões passadas.
(*) Pedro Rocha nasceu em Espinho em 1976 e cresceu entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo. Em 2000 concluiu o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de ‘South Wales’, no Reino Unido e, no mesmo ano, iniciou a atividade profissional na consultora alemã ‘Hydroplan GmbH’, sendo consultor no projeto de desenvolvimento rural em Cabo Verde. Em 2005 começou o projeto de agricultura biológica Raízes, do qual ainda é sócio. Desde 2014 que se dedica à prestação serviços como agricultor urbano e consultor, promovendo novos conceitos de relação entre consumidores e produtor. Podes saber mais sobre a colaboração de Pedro com o JORNALÍSSIMO aqui.