“Trouxe do Secundário o espírito de querer saber e fazer mais”
Pedro conta como ter-se “cruzado” com Humberto Delgado no 12º ano e ter participado em muitos projetos marcou o seu percurso.
Por Pedro Ganchinho Ribeiro (*)
Sempre fui apaixonado por História, pelas aulas de História e pela cidade onde nasci e sempre vivi: Setúbal. Por isso, quando, no último ano do Ensino Secundário, a professora Alexandra Godinho anunciou à minha turma, da Escola Secundária du Bocage, que iríamos participar num projeto cujo objetivo era apresentar um trabalho de investigação sobre História local, fiquei imediatamente entusiasmado.
A escolha do tema foi marcadamente controversa, mas o meu grupo optou por abordar Humberto Delgado e as Eleições Presidenciais de 1958 no contexto nacional e, em específico, na cidade de Setúbal. Contámos com a ajuda essencial de Diogo Ferreira, doutorando em História na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e historiador local, no âmbito do trabalho do Instituto de História Contemporânea.
Ao longo de quatro meses, investigámos de todas as formas sobre o tema que nos propúnhamos tratar. Folheámos uma infinidade de livros e outros documentos, conduzimos entrevistas, procurámos na Internet, entre outros.
Guardo duas recordações particulares. Uma, recorrente, é a de entrar sozinho na Biblioteca Municipal e pedir várias edições de 1957 e de 1958 do jornal “O Setubalense”, algo que tinha sempre a sua graça vindo de um rapaz de 17 anos. Outra memória é a de estar no barbeiro tradicional, com o estabelecimento cheio de senhores na casa dos 70 anos, e, gradualmente, todos eles se envolverem comigo num diálogo espontâneo sobre Humberto Delgado e a cidade de Setúbal na época.
Foi na Biblioteca Municipal que pudemos, finalmente, expor o produto deste trabalho continuado. Era a minha primeira vez a apresentar um trabalho escolar fora do espaço habitual e com espectadores que não só os colegas. Contudo, isso não obstou a que pudesse desfrutar da apresentação, já que estava verdadeiramente entusiasmado pelo assunto abordado e orgulhoso do que mostrámos.
Sem dúvida que este momento foi um importante marco no que toca à exposição oral e que me motivou a continuar a investir nessa vertente, nomeadamente tendo participado no 1º Encontro Memória para Todos: História, Património e Comunidade(s), para falar deste projeto.
Ter participado nesta iniciativa foi um dos vários pontos que destaco na minha passagem pela Escola Secundária de Bocage. Integrei vários outros projetos, como o Clube de Debate, do qual fui fundador, o Parlamento dos Jovens e o European Youth Parliament, no âmbito do qual representei Portugal enquanto delegado numa sessão na Áustria. Todos eles acrescentaram imenso ao meu desenvolvimento enquanto estudante, indivíduo e cidadão, na medida em que me estimularam a sair da zona de conforto, conhecer novas pessoas, aprender sobre variados temas, bem como abriram portas para o futuro.
Em 2019 ingressei na Faculdade de Direito da Universidade NOVA de Lisboa (que viria a designar-se por NOVA School of Law), em Campolide. Foi uma grande mudança, principalmente no que diz respeito ao modo de ensino e de avaliação. Contudo, nos quatro anos que agora findam, pude acostumar-me e desfrutar ao máximo deste novo mundo e de tudo o que ele tem para oferecer. Tal deveu-se ao espírito de querer saber e fazer mais que trouxe do ensino secundário, nomeadamente por ter participado em várias atividades nesse sentido, como o programa de Iniciação à Investigação Científica do Laboratório de História(**).
Motivado pela minha experiência anterior no Ensino Secundário, assim que entrei na Faculdade juntei-me a uma panóplia de grupos e núcleos. Durante os últimos quatro anos fiz parte da JurisTuna – Tuna Académica Mista da NOVA School of Law -, sendo atualmente o seu Magister. Fui coordenador do Departamento Internacional da NOVA Law Students’ Union. Faço parte do Grupo de Retórica, onde trabalhamos a poesia e realizamos um teatro cujo objetivo é o de interpretar os professores numa sátira amigável. Integrei a NOVA Refugee Clinic, um grupo de investigação sobre refugiados e migrações. Participei em vários projetos a nível europeu relacionados com a participação cívica, como as sessões do European Youth Parliament. No próximo ano letivo irei frequentar o mestrado em Direito e Gestão, também na NOVA, e pretendo manter-me ativo a nível extracurricular.
Muito por ter participado em tantos eventos e grupos de índoles distintas nos últimos anos, neste momento sinto-me motivado a continuar a aprender e trabalhar em várias vertentes: o Direito, o mundo empresarial, as organizações europeias e internacionais, a música, a oralidade, entre outras. Por essa razão ressalvo a importância de fazer mais do que o esperado, de querer participar e ser um cidadão ativo. Em retrospetiva, se não tivesse participado neste tipo de iniciativas, como o Laboratório de História, desde cedo, muito provavelmente não estaria onde estou hoje, com tantas portas abertas por onde escolher.
Foto de abertura:
O grupo com o qual Pedro realizou o trabalho sobre Humberto Delgado e as Eleições Presidenciais de 1958, reunido na Biblioteca Municipal de Setúbal em janeiro de 2019.
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH e o Jornalíssimo, com coordenação de Maria Fernanda Rollo e apoio de Susana Domingues.
(**) O Laboratório de História, Territórios e Comunidades (LHTC) é um projeto colaborativo do HTC com diferentes instituições da sociedade civil, desde escolas a bibliotecas, passando por museus. Deste projeto fazem parte diferentes programas, entre os quais o Programa de Iniciação à Investigação Histórica que procura transmitir aos alunos do ensino secundária ferramentas e metodologias de investigação em História. Os/as alunos/as de algumas turmas são desafiados a trabalharem, em grupo, ao longo de um ano letivo, um tema relacionado com a história do século XX. Para desenvolverem essa pesquisa, cada grupo é orientado por investigadores do HTC.