Um guia para (tentar) compreender os ataques terroristas em Paris
Respondendo a três questões, ajudamos-te a entender o que aconteceu na capital francesa na passada sexta-feira 13.
A França viveu esta semana o maior atentado terrorista de que há memória no país. Na noite da passada sexta-feira, num espaço de três horas, ocorreram em Paris explosões e tiroteios em seis locais diferentes.
Numa ação concertada, quase em simultâneo, homens armados dispararam e fizeram-se explodir provocando, pelo menos, 129 mortos e mais de 350 feridos – muitos dos quais correm ainda perigo de vida.
A França declarou estado de emergência (entre as várias medidas tomadas, foi decretado o fecho das fronteiras e proibiram-se as manifestações), três dias de luto nacional e o Presidente francês, François Hollande, considerou o sucedido um “ato de guerra”, prometendo ser “implacável” na luta contra os responsáveis.
QUEM COMETEU OS ATENTADOS?
Os vários ataques foram reivindicados por um dos grupos terroristas mais poderosos do mundo, o Estado Islâmico. Os seus combatentes têm semeado a violência no Iraque e na Síria, com a interpretação radical que fazem do Alcorão (o livro sagrado do Islão) e que pretendem impor, à força, a todos os muçulmanos.
Neste artigo – O que é o Estado Islâmico? -, podes ficar a saber quando surgiu o grupo, como passou de formiga a gigante e quais os meios a que recorre para se financiar.
O Estado Islâmico já fez mais de 230 mil mortos no Médio Oriente e obrigou milhões de pessoas a abandonarem as suas casas e, mesmo, os seus países. O grupo radical e os seus membros, conhecidos por ‘jihadistas’, fizeram aumentar ainda mais a tensão entre sunitas e xiitas, as duas grandes “famílias” que existem no seio do Islão e cujas diferenças podes compreender melhor aqui.
Tal como a maioria dos muçulmanos, os ‘jihadistas’ são sunitas. Mas é importante não confundir os sunitas com os ‘jihadistas’. A maioria dos sunitas opõe-se ao Estado Islâmico e às suas práticas violentas.
POR QUE É QUE O ESTADO ISLÂMICO LEVOU A CABO ESTE MASSACRE?
Na mensagem em que reivindica a autoria dos ataques, o Estado Islâmico justifica-os com o facto de a França pertencer à coligação liderada pelos Estados Unidos, que tem lutado contra os membros deste grupo radical na Síria e no Iraque.
Depois dos Estados Unidos, a França foi o primeiro país europeu a enviar caças para realizar ataques aéreos no Iraque contra alvos jihadistas, em setembro de 2014. Já em setembro deste ano, a França lançou também ofensivas aéreas contra o Estado Islâmico na Síria.
Mas muitos outros países europeus, como a Itália, o Reino Unido ou a Alemanha, se aliaram aos Estados Unidos na luta contra os radicais islamitas.
QUEM FORAM OS AUTORES DOS DISPAROS E DAS EXPLOSÕES NA CAPITAL FRANCESA?
Uma grande operação policial foi montada em França e em vários outros países para identificar quem executou estes atos terroristas. Não se sabe ao certo quantas pessoas estiveram implicadas no massacre, mas sabe-se que pelo menos sete atacantes se suicidaram logo após os atentados.
Para já, só é conhecido o nome de um deles. Trata-se de Ismael Omar Mostefai, um jovem francês de 29 anos que vivia nos subúrbios de Paris, filho de mãe portuguesa e pai argelino. Mas há outros dois suspeitos franceses, que viviam na Bélgica, e foram abatidos pela polícia depois dos atentados em Paris.
Um deles tinha apenas 18 anos e esteve na Síria a lutar pelo Estado Islâmico. Foi um dos muitos jovens europeus que deixaram os seus países para irem combater ao lado dos ‘jihadistas’ no Iraque e na Síria. Tentámos responder à questão “O que leva tantos jovens europeus a juntar-se ao Estado Islâmico?” num artigo que publicámos em fevereiro, quando se estimava em 400 o número de franceses que se tinha juntado aos islamitas radicais só na Síria.
Junto ao corpo de um dos bombistas suicidas, foi encontrado o passaporte de um refugiado sírio que entrou na Europa, pela Grécia, no início de outubro. Mas a posse do documento não significa, no entanto, que o terrorista fosse sírio, já que pode tratar-se de um passaporte roubado ou comprado.
Na sequência dos ataques, a França e vários países europeus (e também os Estados Unidos) reforçaram as suas medidas de segurança. O país de François Hollande não optou, no entanto, uma posição meramente defensiva: retaliou, lançando logo no domingo, 15, novos ataques aéreos contra alvos do Estado Islâmico na Síria. Neste artigo, explicamos-te como e quando começou a guerra síria.
As manifestações de solidariedade com o povo francês ocorreram um pouco por todo o mundo. Em muitas cidades europeias, como Berlim, Madrid ou Londres, e não europeias como Rio de Janeiro ou Sidney, dezenas de cidadãos anónimos fizeram vigílias em memória das vítimas. Por todo o lado, monumentos e edifícios emblemáticos surgiram iluminados com as cores da bandeira francesa: vermelho, branco e azul.