Presidente do Conselho Deontológico responde ao Jornalíssimo
João Paulo Meneses afirma que o CD nunca emite “posições ‘urgentes’, sobretudo quando elas não o são em si próprias”
Por Joana Fillol
Conforme noticiámos aqui, entre as 17h e as 18h30 de ontem, dia 10 de outubro, o Jornalíssimo enviou emails para o Sindicato dos Jornalistas e para o Conselho Deontológico (CD) dos Jornalistas, para a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista e para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, tentando obter comentários destas entidades ao escândalo que o Jornalíssimo noticiou já na semana passada, a 4 de outubro, e que envolve muitos órgãos de comunicação social e jornalistas portugueses.
Até ao momento, o Jornalíssimo obteve uma resposta do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas. Mas, é importante ter em conta que os emails só foram enviados ao fim da tarde de ontem, 10 de outubro.
Ao Jornalíssimo, o presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, João Paulo Meneses, responde que “em situações como esta, que implicam a análise de vários textos e, provavelmente, a audição do jornalista Vitor Balenciano, nunca emitimos posições ‘urgentes, “sobretudo quando elas não o são em si próprias [e, sendo este um órgão colegial, isso implica alguma gestão dos ‘procedimentos’].”
A jornalista do Jornalíssimo expressava – no email enviado ao Sindicato dos Jornalistas e ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas pouco antes das seis da tarde – o seu desejo de “ouvir o mais rapidamente possível o que têm a dizer sobre este caso”, quer o Presidente do Sindicato dos Jornalistas, quer o Conselho Deontológico. Não utilizou sequer a palavra “urgente”, muito embora João Paulo Meneses a coloque entre aspas na resposta que dá à mensagem.
“Uma ou duas questões”… E se forem 12?
João Paulo Meneses questiona a jornalista sobre se, pelo facto de não ser possível obter uma reação do Conselho Deontológico num prazo de tempo curto, ela mantém o interesse em ouvir este órgão do Sindicato dos Jornalistas. A expressão utilizada pelo presidente do CD para exprimir esse espaço de tempo é a seguinte: “(…) mesmo que isso eventualmente não seja possível nos próximos dias”. Significa isto que não estará para breve uma pronúncia deste órgão sobre o caso, apesar de ele já amplamente conhecido e de o CD do SJ não precisar de nenhuma denúncia formal para se expressar.
O jornalista pede, ainda, à colega e ao Jornalíssimo que “especifique uma ou duas questões” que queira ver respondidas ou analisadas pelo Conselho Deontológico.
“Se os nossos timings forem compatíveis com os do Jornalíssimo, daremos o nosso melhor”, acrescenta Meneses.
Regra básica no jornalismo: “não largar o osso”
Como certamente sabes, é obrigação do jornalista ser persistente e fazer tudo o que está ao seu alcance, dentro dos códigos de ética e deontologia que regem a profissão, para recolher toda a informação que seja do interesse dos cidadãos e das cidadãs. É isso que o Jornalíssimo está a tentar provar que está em causa. Afinal, se não houver um jornalismo de qualidade, a Democracia pode correr sérios riscos. Para ilustrar esta paciência, persistência, resiliência e empenho dos jornalistas, costuma usar-se a expressão “não largar o osso”. É elucidativa, não é?
Como tal, naturalmente que, sendo o Jornalíssimo um jornal, com a particularidade de se dirigir especificamente a crianças e jovens (que, por norma, até são mais curiosas e fazem mais perguntas do que os adultos), a jornalista respondeu ao colega de profissão, comunicando-lhe que mantém todo o seu interesse na obtenção de uma opinião do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas sobre este caso.
Se não estiveres bem certo do significado dos vocábulos deontologia e ética, colocámos um link para a Infopédia para te elucidar, cá está.
Retomando o que te estávamos a contar, o presidente do CD do SJ pedia-nos então que especificássemos uma ou duas questões. Mas outra caraterística do público-alvo do nosso jornal é a irreverência. E também o Jornalíssimo encarnou esse espírito.
Em vez de “uma ou duas”, a jornalista enviou doze perguntas ao Conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas para este órgão analisar e responder.
O Jornalíssimo, por ser um jornal feito por uma jornalista profissional e contando com algumas colaborações de profissionais de outras áreas, acha que não deve haver limite ao número de questões que podem ser colocadas (menos ainda quando as perguntas até são colocadas por escrito e o Conselho Deontológico, através do seu presidente, transmite que vai precisar de vários dias para se pronunciar sobre o assunto).
As perguntas que o Jornalíssimo colocou foram as seguintes:
1) Os membros do Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas tiveram conhecimento desta situação relatada pelo Jornalíssimo e amplamente divulgada nas redes sociais?
2) No caso de não terem tido conhecimento: nenhum dos seus membros teve conhecimento ou alguns tiveram e outros não?
3) No caso de nenhum membro do Conselho Deontológico ter tido conhecimento da situação em causa, qual ou quais razões considera o CD justificarem o não conhecimento do caso por estes jornalistas? Estará a comunicação social a falhar na divulgação de notícias que se revestem de interesse público e dizem respeito a toda a sociedade portuguesa?
4) No caso de um ou mais, ou mesmo todos, os membros do CD terem tido conhecimento deste caso, porque razão não tomaram uma posição pública sobre o assunto?
Recordamos que o Conselho Deontológico no separador “Consultório Deontológico“, do site do Sindicato dos Jornalistas, esclarece que o “CDSJ não necessita de queixa para intervir”, acrescentando logo de seguida: “O CDSJ destaca que em caso de possível ‘censura’ não deixará de agir de forma proativa sem considerar necessário a existência de qualquer queixa prévia. E alerta para a absoluta necessidade de jornalismo de investigação (…)”.
5) Não estaremos aqui perante um caso de censura levado a cabo por várias redações e jornalistas de Portugal, que não podem alegar não ter tido conhecimento do caso, como a notícia avançada pelo Jornalíssimo no dia 4 de outubro faz notar, ao contar que tentou que várias redações nacionais – entre as quais as de Serviço Público (Antena 1, RDP e Agência Lusa) e até a correspondente de um jornal internacional, o El País (por acaso envolvido diretamente no caso, porque foi de lá que o artigo plagiado foi copiado)?
6) Perante a informação divulgada por toda esta investigação realizada pela, simultaneamente leitora, cidadã e jornalista do Jornalíssimo, considera o Conselho Deontológico que há razões de preocupação com o cumprimento das obrigações deontológicas, que competem a jornais e jornalistas, por alguns órgãos de informação nacionais?
7) Sendo o provedor do leitor do jornal Público, José Manuel Barata-Feyo também jornalista, como vê o CD as crónicas que Barata-Feyo publicou acerca deste caso nas edições de 1 e 8 de outubro de 2022 do jornal em causa (o Público), com os títulos “Plágio” e “A coluna do provedor não é um pelourinho”, respetivamente?
8) A crónica do provedor do leitor de 8 de outubro – “A coluna do provedor não é um pelourinho” – foi alvo de vários comentários de leitores. Houve quem considerasse, por exemplo, que este criticava a leitora que fez a denúncia em vez do jornalista que comete o crime de plágio. Citando um dos comentários a esta crónica do provedor, escrito no próprio site do jornal, Miguel Lobo Antunes, por exemplo, escreve: “Que vergonha! Nunca pensei que um jornalista que admirava e agora Provedor, acabasse criticando quem fez a denúncia do 2.° plágio confirmado do mesmo “jornalista”. Como nunca pensei que o Diretor e a Direção editorial se limitassem, afinal, a pedir desculpa. Pede desculpa e o assunto está arrumado. É o segundo plágio. É gravíssimo. Fica a dúvida se não haverá mais. Cá para mim, era processo disciplinar, com a hipótese de pena de demissão” (publicado pelo jornal Público na caixa de comentários às 18h46 do dia 9 de outubro). A própria leitora que denunciou o plágio ao jornal logo no dia 18 de setembro (pensando ingenuamente que ele seria de imediato retirado do online) se pronunciou sobre a crónica do Provedor no seu mural de Facebook.
9) O CD já recebeu até ao dia de hoje mais queixas sobre este caso?
10) Estabelecendo o ponto 5 do Código Deontológico do Jornalista (CDJ) que “O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e atos profissionais, assim como promover a pronta retificação das informações que se revelem inexatas ou falsas” e, sendo a Direção Editorial do Público composta por jornalistas, considera o CD que a DE agiu em conformidade com o CDJ?
11) Estando escrito no próprio Livro de Estilo do jornal Público que “O PÚBLICO-jornal não pode ignorar o PÚBLICO-sujeito da notícia por mais delicado que seja o assunto em causa”. E, também, que “Com a periodicidade indispensável, o espaço ‘O PÚBLICO Errou’ trará a correção dos erros ou imprecisões que tenha impresso nas suas páginas”. E, ainda, que “O PÚBLICO deve ter como preocupação ser leal para com os seus leitores”, o Jornalíssimo gostaria que o CD se pronunciasse sobre o facto de a DE do jornal Público ter esperado para esclarecer os seus leitores do ocorrido na crónica do Provedor do Leitor em vez de dar imediatamente conhecimento do caso aos leitores do próprio jornal?
12) O Jornalíssimo sabe de fonte segura (e tem provas) que a DE tentou silenciar o caso mesmo internamente, não dando conhecimento dele durante largos dias, nem à generalidade dos jornalistas, nem sequer aos editores. Que comentário tem o CD a fazer sobre este procedimento da DE?
A importância de colocar e pensar em boas perguntas
Se tiveres mais alguma questão que gostasses de ver respondida por este órgão do Sindicato dos Jornalistas acerca de toda esta investigação, podes escrever-nos um email com essa questão (ou mesmo várias questões) para info@jornalissimo.com. Uma seleção das questões mais pertinentes enviadas pelas leitoras e pelos leitores do Jornalíssimo será feita e fá-la-emos chegar ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas em nome dos nossos leitores (naturalmente, colocando os nomes dos leitores junto às perguntas que fizeram).
Saber colocar perguntas é uma das competências fundamentais de um cidadão literato do ponto de vista mediático (ou seja, alguém que sabe e se interessa pela forma como os media funcionam, como esse funcionamento está relacionado com a qualidade da democracia, quais os grupos económicos que estão por detrás dos órgãos de comunicação social (OCS), que interesses podem estar escondidos naquilo que estes OCS escolhem noticiar ou deixar ficar na sombra, como podem os cidadãos reivindicar os seus direitos quando julgam que os órgãos de comunicação estão a falhar nos deveres a que a lei os obriga, entre muitas outras questões).
Para um jornalista saber colocar questões é, ainda, a sua principal ferramenta profissional. Há informação que deve ser do conhecimento de todos os cidadãos que só vem a público se os jornalistas souberem colocar as questões que se impõem. Não tiverem medo nem vergonha de as colocar. Tal como existe o direito de perguntar, também existe o direito dos entrevistados a não responder. Apesar de que, uma não resposta é também uma resposta. Todos os jornalistas o sabem bem. Daí que se o/a jornalista fizer uma pergunta incómoda e não a vir respondida pelo entrevistado, ele/ela tem o dever de comunicar essa informação ao leitor, se for algo de relevante para a história. Digamos que, as perguntas estão para o jornalismo mais ou menos como está o isco para a pesca. Tal como da qualidade do isco pode depender se o pescador leva ou não peixe para casa, da qualidade das perguntas (entre outros fatores, é certo) pode depender a qualidade da informação que o jornalista consegue revelar.
Na verdade, fazer perguntas de forma livre é um direito que assiste a qualquer cidadão/cidadão. E aos jornalistas em particular. Por isso mesmo, o Sindicato dos Jornalistas pronunciou-se não há muito tempo sobre um caso que se passou com uma jornalista da SportTv e a Federação Portuguesa de Futebol. Conhece toda a história e o que está em causa nesta publicação do próprio Sindicato dos Jornalistas no seu site.
Que órgãos são estes que o Jornalíssimo interpelou e o que lhes compete fazer?
Para que percebas melhor que funções e missão têm os órgãos e entidades a quem o Jornalíssimo pediu uma reação a este caso, preparámos uma breve apresentação de cada um deles, a partir da informação disponibilizada nos próprios sites destas entidades, neste artigo: Quem vigia o chamado “Quarto Poder”, ou seja, o poder dos jornalistas?
Foto: João Paulo Meneses/Facebook (recorte feito da foto original pelo Jornalíssimo para não surgir na imagem a identificação do órgão de comunicação em que o jornalista se encontrava, exibida na parede do estúdio onde a fotografia foi tirada)