Évora, a cidade que é um museu a céu aberto
No Templo de Diana vais sentir-te um Deus, na Capela dos Ossos vais arrepiar-te com a condição de comum mortal.
Começa por pousar a tua bagagem na Pousada da Juventude de Évora, onde da fachada à decoração, notas logo um cheirinho a Alentejo. Depois, pega na máquina fotográfica e vai a pé até ao coração de Évora. O nosso passeio começa num local cujo nome já ouviste seguramente: a Praça do Giraldo. Mais central era impossível! Aqui estás a dois passos dos principais pontos de interesse da cidade entre muralhas.
De aqui em diante, olhos bem abertos e atenção à arquitetura das casas. Repara nas varandas de ferro forjado e nos azulejos que ornamentam as fachadas. Se, de repente, te vier à lembrança o Brasil Colonial, acredita que não há coincidências. Pelo menos neste caso. Évora serviu de inspiração a muitos edifícios que foram construídos pelos portugueses do lado de lá do Atlântico.
Voltemos aqui, à cidade onde estamos e sigamos pela pequena Rua 5 de Outubro, espreitando as várias lojas de artesanato, onde um dos produtos mais emblemáticos do Alentejo se destaca…
Até aqui chegarmos vimos a cortiça na ímpar paisagem alentejana a perder de vista, agarrada ainda ao tronco dos sobreiros. Agora vemo-la já a integrar um sem-número de objetos expostos em montras: de vestuário a calçado, de carteiras a molduras. Até postais em cortiça se encontram! E, por falar nisso, a quem vamos enviar por correio um cheirinho da nossa viagem?
No final da 5 de Outubro, aí está ela, a bonita Catedral de Évora. A sua construção iniciou-se em 1186, mas só em 1250 ficou concluída. Podes testar o que aprendeste nas aulas de História e ficar algum tempo a identificar marcas do estilo Românico e do estilo Gótico na sua construção, já que este monumento espelha o período de transição entre ambos.
Na Catedral podes optar por visitar só a Igreja ou também os Claustros e o Museu de Arte Sacra, onde te esperam peças raras e únicas dos séculos XV e XVI. A Catedral é um sítio mágico e, do topo do telhado, avistas toda a cidade. Uma perspetiva maravilhosa, daquelas com o carimbo “a não perder”.
Ao lado da Catedral fica o Museu da cidade de Évora. A renovação de que foi alvo, em 2009, tornou-o um local atrativo. Se és amante de arqueologia, vais gostar de espreitar a exposição permanente, com achados recolhidos em vários pontos do sul de Portugal. É interessante, também, conhecer um pouco da história do sítio onde hoje este Museu está implantado – em plena acrópole eborense, foi central ao longo de dois milénios na vida dos povos e civilizações que ininterruptamente habitaram a zona.
O Museu apresenta, ainda, exposições temporárias, por isso o melhor é dares uma espreitadela no site oficial para saberes o que podes encontrar no momento da tua visita.
Terminada a visita ao Museu, podes aproveitar para tirar uma bonita fotografia junto do Templo Romano, conhecido como Templo de Diana, e relaxar depois no seu jardim. Afinal, este é o principal símbolo da cidade e, quando estiveres perante ele, vais entender porquê.
É uma construção imponente, um dos pontos que se destaca no conjunto que a UNESCO classificou como Património Mundial da Humanidade, em 1986.
Desse conjunto faz, também, parte a Igreja dos Lóios. Construída em 1485, inicialmente como Convento – o Convento de São João Evangelista – é, hoje, uma das igrejas mais bonitas para visitar na cidade de Évora, principalmente por causa dos seus azulejos. Na Igreja dos Lóios, Monumento Nacional desde 1910, podes observar o típico azulejo português do século XVI em perfeitas condições de conservação.
Desce, em seguida, a rua que te leva até à Universidade de Évora, a segunda mais antiga de Portugal. A Universidade, mais precisamente o edifício do Espirito Santo, data do século XVI. Os Jesuítas ensinaram aqui desde 1553 até 1759. Quando Marquês de Pombal expulsou a Companhia de Jesus.
Na Universidade, repara como à porta de cada sala de aula há azulejos representativos de cada matéria lecionada. Admira, ainda, o grandioso claustro, com o chafariz ao centro.
Por esta altura, já apetece sentar para almoçar e há bons sítios para comer em Évora. Estar aqui de visita e pensar em fazer dieta é quase pecado. A gastronomia alentejana vai certamente conquistar-te, independentemente de optares pelas conhecidas migas, pela carne de porco à alentejana ou pela carne de porco preto. À sobremesa, aconselhamos-te a pastelaria conventual eborense, de merecida fama, como poderás comprovar à primeira trinca.
Enquanto fazes a digestão, volta à Praça do Giraldo, desce a Rua da Republica e visita o jardim público da cidade. Por aqui, vais poder apreciar outros monumentos, como o Palácio D. Manuel, também do século XVI ou as ruínas artificiais, que dão uma atmosfera muito romântica ao jardim, tendo sido construídas com esse objetivo. Esperemos que, como nós, sejas surpreendido pela passagem de um dos pavões que por ali se passeiam tranquilamente.
Deixa a visita à Capela dos Ossos para quando sentires que a digestão está terminada. É que os mais sensíveis podem ficar com o estômago às voltas pela impressão visual (e mesmo olfativa) de tão peculiar monumento. A Capela foi construída no século XVI por Monges Franciscanos para convidar à contemplação da transição natural da vida.
Nela, vais encontrar mais de 5000 ossos humanos. Sim, cinco mil! O número é suficiente para te veres rodeado de ossos dos pés à cabeça. Como se isso não bastasse, à entrada és ainda brindado com uma irónica frase “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos ”.
Ao lado da Capela dos Ossos visita a renovada Igreja de S. Francisco. De vincado estilo Gótico-Manuelino, foi renovada em 2016.
Depois de todas estas experiencias, tens ainda muito mais para ver e visitar na cidade de Évora e arredores.
Um último conselho antes de te fazeres à estrada: pega nos livros de História e recorda os reinados de D. João II, D. Manuel e D. João III. Na viagem a Évora vais gostar de ter a imagem destes reis bem presente. Muito do património histórico e artístico que vais encontrar tem a “mão” deles.
E, agora sim, os nossos votos de Boa Viagem!
FOTOS: Antonio e Jiashing/Creative Commons
Preço por pessoa/noite: a partir de €11, com pequeno-almoço incluído.
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Jornalíssimo e as Pousadas de Juventude. Todas as terças publicamos um artigo sobre uma Pousada diferente.